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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

dos pessimismos e dos optimismos

22.10.16

 

 

 

A constituição portuguesa prevê o ensino gerido por particulares (privado ou cooperativo). São poucos, naturalmente, os que discordam. No entanto, e desde que se "destapou" a privatização de lucros associada às ilegalidades na edificação de escolas e na contratação de professores, a polémica mediática sobre o assunto cresceu. Apesar dos pessimismos (não dá em nada, é sempre a mesma coisa, estão todos alinhados e por aí fora), houve mudanças com o actual Governo. Vêem-se resultados. Há escolas públicas a respirar após anos a fio condenadas à desertificação.

 

Sejamos claros: ninguém ficou indiferente ao quarto poder e o poder judicial também não. É vulgar dizer-se, e bem, que se deve esperar pelo veredicto da justiça. Quem faz do exercício da cidadania um dever, têm o múltiplo quarto poder para dar corpo ao seu optimismo. Sem esse estado das almas moderadas, e sem crença na democracia, não era possível "ajudar" a justiça a funcionar e desafiar o poder político para um trajecto difícil que está longe de consolidado: dirá, com fundamento, o imprescindível pessimismo crítico.

 

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Dos erros crassos

21.10.16

 

 

 

 

Visionar e antecipar o futuro, e escolher a estratégia, é mais difícil em tempos de absolutização do presente. Contudo, essa condição vigente não nos liberta do futuro. Uma questão escolar portuguesa passa por alargar o ensino secundário a todos. Um ensino secundário com a formação geral comum aos três anos e com "especializações" nos ensinos regular e profissional. Uma formação geral que contemple o equilíbrio curricular numa sociedade em pleno movimento.

 

É assim que se investe na ciência, na qualidade da formação, no número de membros da classe média e na riqueza das nações. Os países mais ricos e democráticos eliminaram o estreitamento curricular por três motivos principais:

1. perceberam que 60% do sucesso escolar está na sociedade e 40% na organização escolar;

2. reconheceram que os alunos que "querem aprender" fazem-no em qualquer sistema porque beneficiam da ambição escolar das famílias ou de boas condições sócio-económicas;

3. instituíram como desafio primeiro elevar os que "não querem aprender" à conclusão de um ensino secundário que não fecha portas ao superior nem ao mercado de trabalho.

 

O que foi escrito faz parte da história portuguesa antes da chegada de David Justino, Lurdes Rodrigues e Nuno Crato: três erros crassos.

 

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Finlandeses apresentaram a reforma de ensino há sete meses

20.10.16

 

 

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A notícia do Expresso de 12 de Março de 2016 sublinhava que a Finlândia era "um país sem exames nem inspecção, em que as mudanças só aconteciam de 10 em 10 anos, em que todos participavam na discussão e em que a expressão-chave era a confiança nos professores".

E é isto. 

Por cá é a indisciplina escolar, a desconfiança enraizada, a inabilidade na educação, a sociedade ausente, a escola a tempo inteiro, a discussão à volta de mais ou menos prova para "disciplinar" crianças, as avaliações externas centradas na produção de papelada medida às resmas e a "apatia" na participação democrática. O que levamos de milénio (onde ministros se acharam providenciais e plenipotenciários) instituiu o modismo taylorista, exportado pelos EUA para o Japão no inicio do século passado. Acrescentaram-se programas informáticos de empresas comerciais a dirigir modelos organizacionais. E depois, queremos mais mobilização e menos "saturação, exaustão e fuga" (burnout).

Boreout (6) Há alternativas à escola-indústria?

19.10.16

 

 

 

 

É intemporal a crítica à escola-industria e raramente as escolas escapam à normalização de horários, de currículos e por aí fora. É uma crítica fundamental, mas está sempre à mercê de "cíclicos inventores da roda". Uma análise séria exige muitos caracteres. Dividi esta discussão em capítulos a partir da síndrome de boreout (tédio no trabalho) que é uma evidência preocupante na escola portuguesa. Mais entre os professores, mas também, e de acordo com OMSáude, entre os alunos adolescentes.

 

Nos últimos dias mediatizou-se a experiência da escola de Carcavelos que pensa "fora da caixa". Conheço pouco do fenómeno em concreto e já ouvi opiniões divergentes. Salienta-se, desde logo, a vontade de reflectir. Na Educação, as mudanças (falar de revolução neste domínio é manifestamente exagerado) devem ser progressivas, paulatinas, discutidas e pensadas. A escola é, quase por definição, uma instituição em crise. Os caminhos "fora da caixa" exigem coragem, vontade, moderação, sensatez e amor à liberdade - também de ensinar e aprender -.

 

Importa, desde logo, mudar detalhes. Coisas aparentemente pequenas. Se pensarmos no que existe em Portugal, com aulas de noventa minutos, podemos questionar: estão todos os anos de escolaridade nas mesmas condições para este tempo de aula e mesmo as diversas disciplinas de um mesmo ano ou todas as aulas do mesmo professor a uma determinada turma? É certo que não. Deslocar o intervalo, por exemplo, para a conveniência pedagógica e didáctica da responsabilidade de cada professor tem as vantagens que se queira imaginar para além de suscitar uma quebra de rotinas e uma "abertura" para a integração de novas ideias didácticas sem "beliscar" a leccionação dita mais tradicional.

 

Um exemplo da mesma família, que é, sem dúvida, um retrocesso a caminho da escola-indústria, é a calendarização a eito de todos os testes, de todas as turmas e em todos os anos de escolaridade. Condicionar deste modo a abordagem didáctica diferenciada a cada turma, só mesmo num modelo contraditório e conceptualmente perdido que advoga em simultâneo o ensino individualizado e diferenciado (para além do cultivo precoce do retrógrado "estudo para o teste" ou aquele mais "reivindicativo": só respondo a um conjunto de questões por dia). Olhando para a imagem, aquele pico de aprendizagem teria, se existisse, alguma explicação.

 

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Da subtracção (operação tão digna como as outras)

18.10.16

 

 

 

O tratamento da informação no sistema escolar não está adequado à sociedade da informação e do conhecimento. Está muito longe disso.


Grande parte da informação obtida não é relevante para o processo de tomada de decisões, nem contribui para que os professores, principais fornecedores de informação, concentrem a energia na preparação e realização das actividades lectivas.

 

Exige-se a alteração do que existe. Os sistemas de informação necessitam de uma grande depuração com um objectivo de sentido contrário ao habitual: retirar os campos de obtenção de informação que não suportam a tomada de decisões. Deve ser de lei a proibição da repetição no lançamento de dados: do nome do aluno às classificações que obtêm até aos conteúdos dos relatórios mais diversos. É uma reforma essencial.

As tentações da reacção

17.10.16

 

 

 

"AS TENTAÇÕES DA REAÇÃO

 

Confesso que me parece impossível levar a sério as conversas da direita sobre o orçamento para 2017. Depois de quatro orçamentos e oito retificativos, de três chumbos do constitucional e de todas, mas todas, as previsões macroeconómicas erradas dos últimos quatro anos, a direita devia ficar de dieta de açúcar político durante pelo menos uma legislatura. Taxar-lhes a adição açucarada era o mínimo.

Interessa-me mais o interior da própria vaca voadora, as matizes das suas contradições e tensões. E nessas contradições, a menor não é a de ver o governo, ao mais alto nível, a assistir com aparente êxtase ao perorar de Maria de Lurdes Rodrigues sobre educação, anteontem, no ISCTE (a propósito dos 30 anos da Lei de Bases do Sistema Educativo), nada fresca mas rediviva, defendendo a municipalização da educação e criticando, novamente, e ainda que em modo sonâmbulo, os sindicatos, tidos como adversários da autonomia das escolas. Mas, mais importante ainda que essa crítica típica e politicamente doente, MLR não se coíbe de corroborar a ladainha reacionária da necessidade de revisão da Lei de Bases do Sistema Educativo, de que é mentor maior o ex-ministro da educação do PSD e atual presidente do Conselho Nacional da Educação David Justino… e tudo contra a direita.

MLR é uma reacionária científica no que diz respeito à organização da Escola Pública. Defende uma escola hierarquizada e autoritária (todo o poder concentrado num diretor escolar e categorias de professores organizadas hierarquicamente), panoticamente vigiada por um sistema totalitário de mensuração industrial e taylorista (estado de permanente mensuração e classificação produtiva dos professores), sem sindicatos ou entropia reinvindicativa (redução ao mínimo envergonhado do reconhecimento das organizações sindicais dos professores), com professores domesticados ao serviço da dominância política local (municipalização), seja ela a pequena ou alta burguesia paternalista, seja a pequena burguesia partidária, aliadas em forma de suposta legitimidade democrática, pilotando ferreamente a escola tornada espaço de amestramento e homogeneização (os pais e as forças “mortas” locais num conselho geral com poderes eletivos).

Do que aqui se trata é de toda uma inversão linguística de que MLR é notável cultora. A melhor forma de defender a escola pública da direita seria, para a ex-ministra da educação, transformar a escola pública num espaço social, cultural e organizacional… de direita.

Que o PS e o governo, ao mais alto nível, lá tenha estado a escutá-la atentamente, e que ambos se deem a um discurso híbrido e instável sobre a municipalização, a autonomia e a democracia nas escolas, é muito, muito mau augúrio e até perturbador, revelando que, passados estes anos todos sobre a Grande Destruidora, o PS não parece ter percebido verdadeiramente o que se passou, nomeadamente que os professores portugueses não se deixaram derrotar ou transformar, pelo menos completamente, em “lupenprofessorado”. E por isso fizeram o PS perder as eleições. Já aconteceu e pode tornar a acontecer. Não é uma ameaça. É uma constatação e uma previsão."

 

Francisco Teixeira

 

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Imperdível o livro de Han Kang

16.10.16

Afinal, a EBI das Caldas da Rainha era na Finlândia

16.10.16

 

 

 

 

Afinal, a EBI de Santo Onofre (1º ao 9º ano) era, até 2009, na Finlândia. Não havia campainhas, as portas funcionavam no "modelo porta aberta sem chaves", os professores faziam uma gestão pedagógica (escolha do momento de intervalo) das aulas de 90 minutos e estimulavam o uso das tecnologias. O tempo para intervalos era fundamental, o sistema de gestão da informação era totalmente integrado e simplificado e apontado como uma referência pela IGE e por empresas especializadas. A gestão de orçamentos, por exemplo, era exportada em tempo real para o site (garantia de fiscalização) e as despesas liquidadas em trinta dias. A escola era inclusiva para os alunos (escolha de acordo com a residência, como na Finlândia), para os professores e para os outros profissionais e certificava muito bons resultados escolares com números residuais de insucesso escolar, com ausência de processos disciplinares e de mecanismos desadequados de promoção do mérito escolar; como na Finlândia. E ficava uma boa hora a detalhar indicadores "finlandeses". A escola vivia em ambiente democrático; a democracia também se ensina, pelo exemplo, e aprende na escola. Li que, ontem, a RTP1 "passou uma reportagem, programa "Linha da Frente", comparando o nosso sistema escolar com o finlandês". Acabei de ver pela box. O sistema português parou no tempo. Mais do que isso: retrocedeu, nomeadamente, como é o caso, com o organograma dos agrupamentos. Há uma inércia irreflectida. Há, como se viu na reportagem, algum oxigénio em Carcavelos, mas teme-se que os restantes modelos apresentados sejam maioritários.

 

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