O mercado escolar nivela por baixo
A escola deve estar fora do mercado total. Mas isso não significa uma rejeição ao ensino mesmo privado ou à iniciativa privada em sentido lato. A história da escola assenta na regra, na finalidade, na exigência e em processos de inovação e emancipação social. O eterno confronto entre a pedagogia e o senso comum não deve ser mercantilizado. A sobreposição do segundo secundariza o efeito de elevador social ou de gerador de igualdade de oportunidades.
O nivelamento por baixo tomou conta do sistema português. Há concelhos em que a lei do mercado para obter alunos origina um vale tudo, nomeadamente onde as ideias de desregulação adulteram a deontologia dos profissionais em prejuízo de alunos e encarregados de educação.
Há quem aponte os nórdicos. Na Finlândia, com um século de independência, os professores não dependem do juízo inspectivo ou avaliativo (nem existem). A acção pedagógica conferida pela sociedade assenta numa "evangelização" dos ideais de unidade nacional depois de séculos de ocupação: sueca durante mais tempo e russa num curto exercício temporal.
Os finlandeses optaram pelo primeiro vector no confronto da pedagogia com o senso comum. Já os suecos, e depois de conviverem mais de um século sem analfabetismo, acharam-se em condições de estabelecer um mercado total. O desastre já foi assumido e o processo de "nacionalizações" em curso devia ser bem estudado por quem acena com a liberdade de escolha na contenda actual que rodeia os colégios ditos "privados". Até se devia estranhar o silêncio das forças políticas que usam essa argumentação quando os professores da escola pública se confrontaram com milhares de horários zero, e em muitos casos afastados das suas famílias e impedidos de concorrer aos tais colégios financiados pelo Estado, ou com mais de 20 mil desempregados.
Reescrito. 1ª edição em 7 de Julho de 2014