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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

tomai um pico de pão e circo?

30.01.16, Paulo Prudêncio

 

 

"Como o actual Ministro da Educação nunca estudou ciências da educação e toma medidas destas, eu também nunca estudei matérias dessas mas, e por isso, sinto-me autorizado para dizer o que vou dizer". Imagine-se que foi mais ou menos deste modo que um convidado do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), instituição que se tornou "privada" pela mão de Crato e que montou toda uma estrutura que se financia no número de exames que elabora e aplica, se referiu ao contraditório que ia proclamar em relação a decisões do novo MEC. É bom que se sublinhe: andamos a assistir a ondas de indignação por causa de uma industria de provas finais (os alunos durante os 1º e 2º ciclos fazem inúmeras provas durante 6 anos) para crianças de 9 e 11 anos, que não tem paralelo em qualquer país europeu, e mesmo na maioria dos países da OCDE, que não existiram em Portugal até 2011 e que se aplicavam apenas a duas das disciplinas. 

 

Mas o psicólogo, que pode ter dito o que escrevi, parece que acrescentou um argumentário algo contraditório. Ou seja, enuncia as consequências muito negativas da aplicação destes exames e depois afirma que é a favor de exames. Mas de quais exames? Destes ou doutros? Enfim: um pico de pão e circo. Resumamos:

 

"As escolas estão a tornar-se "desonestas" e "batoteiras", acusa psicólogo. Foi um retrato impiedoso(...)Uma escola que acha que tem de avaliar, embrulhando os testes e os exames num clima de alarme, é uma escola que diz às crianças que o importante é ter bons resultados e não aprender(…).E uma escola assim é desonesta,(...)lembrando que muitos alunos são afastados das escolas onde estão precisamente devido à sede destas em garantirem bons resultados nos exames nacionais.

 

(...)Temos, nas escolas de hoje, turmas de primeira e de segunda, disciplinas de primeira e de segunda, alunos de primeira e alunos de segunda. São formas estranhas com que temos convivido e que já mereceram aval ministerial. Mas uma escola assim transforma-se numa escola amiga do apartheid e uma escola assim avalia, mas não educa.(...)É estranho que não se acarinhe o erro, porque uma criança que não pode livremente errar ganha uma imunodeficiência adquirida ao erro e à dor. O que tem como consequência tornarem-se competitivos e presunçosos, quando diante do conhecimento deviam ser rebeldes. Crianças assim pensam pior”.

 

Quer isto dizer que este psicólogo é contra a avaliação e os exames? A resposta é negativa e tem como alvo o actual ministro da Educação que anunciou que não se realizarão exames no 4.º e 6.º ano por considerar que estes têm efeitos “nocivos” para as crianças. “Se as crianças não aprendem a conviver com o medo de serem avaliadas ficam mais frágeis e com menos garra. Não é mau que destilem medo face aos exames, porque o medo traz também audácia. Mau é mudar as regras a meio do jogo. Mau é discutirmos as avaliações antes das aprendizagens”, acusou, antes de afirmar o contrário do que foi dito pelo ministro Tiago Brandão Rodrigues. “Quanto mais tarde as crianças tiverem provas nacionais, mais tarde reúnem os recursos para as vencer,(...)os exames não magoam as crianças, o que as magoa é a forma como os pais e as escolas acabam por usar esta avaliação."

 

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