A questão "estado islâmico" tem diversos ângulos de análise. A venda de armamento e o petróleo são, por exemplo, dois temas incómodos para o ocidente. Para além disso, é importante olharmos para dentro e para a história recente.
O célebre relatório de Jacques Delors, "A educação - um tesouro a descobrir", abordou o multiculturalismo, as migrações e o relativismo cultural de modo polémico. Defendeu-se que o multiculturalismo contribuiu para bolsas de "ghetização" ao preservar as matrizes culturais dos imigrantes. Propunha-se a interculturalidade, através da educação, para a "normalização" com um valor primeiro: a liberdade com a impossibilidade de invasão na liberdade do outro. Foi neste patamar que se colocaram os "véus escolares" e os fluxos migratórios.
Estamos agora numa encruzilhada?
Estamos. Alguém disse há muito: se colocarmos a segurança acima da liberdade perdemos as duas. Há um caminho sensato: tolerância, muita persistência e não desistência em defesa da liberdade. A história não regista qualquer luta pela liberdade só com vitórias e sem vítimas. É assim a natureza humana, os tempos nunca mudam tão depressa e só o afastamento histórico permite perceber o que fomos vivemos.
Voltando ao vestuário, olhemos para alguns herdeiros de Maio de 1968. Defendiam a liberdade sem limites, opuseram-se à proibição do uso do vestuário que impedia a identificação das pessoas e confundiam o direito de asilo com o de migração noutra condição. Por outro lado, quem advogou a proibição defendia a liberdade das jovens, a exemplo da proibição da mutilação genital feminina em crianças, como agora distingue quem desespera por um asilo de quem se dedica ao terrorismo. Há sempre uma interrogação barómetro que se pode fazer: de que lado é que está a defesa da liberdade?