Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Do estado da arte para alunos e professores

18.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

Façamos um raciocínio por indução: nos concelhos onde impera a lógica de mercado, com o tal público-privado financiado pelo Estado, há um bocado de tudo para que qualquer um se envergonhe: exclusão de alunos com necessidades educativas especiais ou dificuldades de aprendizagem, critérios de matrícula que ignoram a boa utilização das instalações, publicidade enganosa, professores contratados precarizados, professores do quadro em estado de desconsideração profissional e por aí fora.

 

Se generalizarmos ao país, pensarmos na última década e em alunos infantilizados ou em competição desenfreada e na desconfiança nos professores traduzida num inferno de burocracia, não se estranha que um estudo conclua que "nove em cada dez professores sente que é desconsiderado pela sociedade".

 

15657853_YheLF.jpeg

 

da escala do controle

18.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

Na génese da propalada accountability está uma "nova" gestão dos serviços públicos que tem como alicerce o controlo dos sujeitos, que nada tem de novidade e que tudo nos diz sobre os caminhos silenciosos do totalitarismo.


"O que havia de tão novo nestes projectos de docilidade que interessava tanto o século XVIII? Havia a escala do controlo: era uma questão não de tratar o corpo, num grupo, "por atacado", como se se tratasse de uma unidade indissociável, mas de trabalhá-lo "a retalho", individualmente, de sobre ele exercer uma coerção subtil, de obter domínio sobre ele ao nível do próprio mecanismo - movimentos, gestos, atitudes, rapidez: um poder infinitesimal sobre o corpo activo. Depois havia o objecto do controlo: não eram ou não mais eram os elementos significadores do comportamento ou a linguagem do corpo, mas a economia, a eficiência de movimentos, a sua organização interna; a única cerimónia verdadeiramente importante é a do exercício. Por último, há a modalidade: implica uma coerção ininterrupta e constante, a supervisão do processo da actividade e não tanto o seu resultado, e é exercida de acordo com uma codificação que reparta, tão proximamente quanto possível, tempo, espaço, movimento. Estes métodos, que tornaram possível o controlo meticuloso do corpo, que asseguraram a sujeição constante das suas forças e lhes impuseram uma relação de docilidade-utilidade, poderão ser chamados de "disciplinas".(...)"

 

 

Jardine (2007:57),

Foucault e Educação.

 

A propósito de Paris

17.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

As redes sociais ampliam a "ágora" e os sinais de intolerância. Vê-se ódio ao que os outros pensam. É o sinal mais evidente. Daí a actos terroristas irá um qualquer passo dependente de circunstâncias, oportunidades e distúrbios diversos, como se percebe com a identidade dos fanáticos de Paris. "És amigo de um homossexual? Levas com uma campanha negra", ouvi há pouco num fórum TSF este exemplo. Mas pior deverá ser, imagina-se, para os próprios homossexuais ou para as inúmeras diferenças que incomodam nos outros. O "ouvinte" acrescentava que esse tipo de campanhas são normalmente a "brincar". Ou seja: os fanáticos são uns divertidos. Amos Oz é, mais uma vez, muito claro:

 

"A essência do fanatismo reside no desejo de obrigar os outros a mudar... O fanático é uma das mais generosas criaturas. O fanático é um grande altruísta."

 

cartoon.jpg

 

 

dos grandes aparelhos partidários

16.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

"Funções governativas também significam 4000 empregos; são a prazo, mas bem remunerados e com bons contactos. A crispação é mais acentuada em quem sai e os chefes fazem o seu papel", disse um politólogo na TSF. Não fixei o nome, mas percebi que tinha um doutoramento em oligarquias.

 

image.jpeg

 

 

Do exemplo grego e das fugas de capitais

15.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

"Levantam o fantasma da fuga de capitais e utilizam as "grandes lavandarias". Os fanatismos usam a trafulhice, fazem o que for preciso para manterem o poder e não hesitam em patrocinar actos terroristas", disse o filósofo húngaro István Mészáros a propósito da recente situação grega, da Europa e do mundo.

 

image.jpeg

 

que impere alguma sensatez

13.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

A Europa vai-se crispando e espera-se sensatez em quem decide. No caso do PR português, que só tem duas opções, espera-se que tenha lido Amos Oz e perceba que o seu lado não deve continuar a dominar absolutamente.

 

"(...)O que precisamos é de chegar a um acordo, a um compromisso doloroso. E a expressão "chegar a um acordo, a um compromisso" tem uma reputação nefasta na sociedade europeia. Especialmente entre os jovens idealistas, que continuam a achar que chegar a um acordo é oportunismo, algo desonesto, algo astucioso e obscuro, um sinal de falta de integridade. Não no meu vocabulário. Para mim, a expressão "chegar a um acordo" significa vida. E o contrário de chegar a um acordo não é idealismo nem evolução; o contrário é fanatismo e morte. Precisamos de chegar a um acordo, a um compromisso, não de chegar à capitulação. O que significa que os Palestinianos jamais se deveriam ajoelhar. Nem tão pouco os judeus.(...)"

 

Amos Oz, "contra o fanatismo", 

página 41, edições ASA.

 

12224375_BT2Y0.jpeg

 

krugman antes do caso bes

13.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

10419382_qPVzv.jpeg

 

"Em Portugal houve muito crédito ao privado, mas não é fácil explicar exatamente porquê", disse Paul Krugman, o economista contra a austeridade, que esteve por cá em 26 de Fevereiro de 2012. Considerou-nos um país difuso e "(...)com uma história mais difícil de contar do que a da Grécia, Espanha e Irlanda. Portugal não estava assim tão mal em termos orçamentais, mas também não teve um surto de preços imobiliários". O prémio Nobel em 2008 talvez soubesse pouco do BPNBPP, BANIF e afins. Mas se lhe perguntarem agora, e lhe detalharem o caso BES, Krugman explicará exactamente.

 

 

 

seis ideias a propósito dos exames do 4º ano

12.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

Concordo que se eliminem os exames do 4º ano e sem tibiezas. Mas não chega, embora essa decisão tenha um efeito dominó.

 

Primeiro: só em sociedades ausentes é que estes exames abrem telejornais e andam pelos parlamentos como disputa ideológica.

 

Segundo: as crianças transportam quatro responsabilidades em provas com este enquadramento: a sua, a do seu professor, a da sua escola e a do seu país (e não tarda da sua UE se os europeus descerem para sul).

 

Terceiro: este "estado de sítio" evidencia uma certeza antiga: os instrumentos científicos podem ser válidos, mas dependem da cabeça que os utiliza.

 

Quarto: um primeiro passo civilizado, que foi reconhecido recentemente pelo CNE, para estes exames teria sido óbvio (já ouvi do eduquês mais rudimentar que os "miúdos" até gostam): eliminar a sua publicitação em pautas, quadros e rankings e dar a conhecer os resultados apenas ao respectivo encarregado de educação.

 

Quinto: é indecente que as autoridades escolares e políticas reivindiquem os bons resultados e assobiem lateralmente quando assim não é.

 

Sexto: há muito que se sabe que, em regra, os resultados escolares melhoram com a elevação das sociedades e das famílias e ao longo de gerações. O bom ensino, as boas escolas e os bons ministérios são, em regra, uma consequência disso. Quem especializa precocemente exclui, empobrece e tem sempre piores resultados globais a prazo; também há muito que se conhece esta evidência, mas a eliminação da história parece associar-se aos fanatismos.

 

domino-2-4-cartoon-yellow.jpg

 

34 mil professores "eliminados" em 4 anos

12.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

"34 mil professores eliminados em 4 anos" diz o relatório, pós-eleitoral, 2014 do CNE e se não fosse a luta mais difícil da última década (Junho de 2012), com uma impopular greve a exames do 12º ano, e a todas as avaliações de final de ano, "aos 30 mil eliminados acrescentaríamos 20 mil" (meti aspas na última frase porque fui buscá-la a um post antigo muito contestado; diziam que os números eram exagerados e afinal apurei-os por defeito). Se os professores não o tivessem feito, mais de 10 mil dos quadros seriam empurrados para uma brutal requalificação rosalina e mais uns 10 mil ficariam sem contrato.

São mais de 50 mil numa década e em que o efeito demográfico foi residual para estes números. Sabe-se que o corpo docente está saturado com tanto atropelo pedagógico e democrático e dentro de uma década o país será confrontado com sérios problemas para contratar professores.

 

1ª edição em 18 de Outubro de 2015

 

do dia seguinte ao histórico

11.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

Shakespeare estava numa agitação incomum. O meu vizinho, o dono, esclareceu-me: o PAN reivindicou, em pleno momento histórico, alterações na dedução em IRS e o Shakespeare, um pastor alemão, parece que intuiu que vai ter mais biscoitos. É espantoso. Fui ver os partidos que ficaram atrás do PAN e dei com o Livre, Marinho e Pinto, Garcia Pereira e por aí fora. O povo é sábio e, afinal, de extremos a votar. Se a história relatada é, no mínimo, estranha, já a solução governativa que se desenha é histórica e podia ter sido simplificada; mas não seria a mesma coisa, realmente.

 

 

Passos e as cooperativas de ensino

10.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

"A despesa com as cooperativas de ensino foi, nestes quatro anos, de 600 milhões. Inferior aos 900 milhões de 2007 a 2011", disse ontem Passos Coelho no parlamento (considerou-as não-públicas; baralha-se). Não se pode dar crédito a estes números, mas parecem próximos do real. Os governos de Barroso e Santana Lopes alargaram repentinamente as cooperativas de ensino "ilegais", os de Sócrates tornaram o financiamento escandaloso e os de Passos e Portas assumiram, mais até nos bastidores, a ideia da livre concorrência escolar em benefício dos supostos privados. Veremos o que vai acontecer a partir de agora. Haverá pessoas das cooperativas "legais" que se sentem injustiçadas com o clima de suspeição generalizado. Compreende-se. Têm razão. Também há muitos defensores da escola pública perplexos com muito do que se tem passado nas instituições do Estado. A uns e a outros não resta alternativa: continuar a defender o que é justo. 

ajudar cavaco silva a terminar o mandato?

09.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

Ouvi há pouco Passos Coelho, e terminada a campanha eleitoral, ser coerente: o seu Governo teve as limitações da troika mas executou as "transformações da sociedade". Ou seja, a "destruição criadora" fez do além da troika o seu programa.

 

Foi também hoje que li que Merkel, Schäuble e Dijsselbloem estão "preparados para trabalhar com qualquer Governo legítimo". Em 23 de Outubro de 2015 escrevi assim (com o risco de me citar): "Ao excluir o BE e a CDU de qualquer solução governativa (sabia que o desenho é um Governo PS com maioria parlamentar?), o PR conseguiu vários objectivos: reforçar a união à esquerda (até apelou a dissidentes para os anular de vez), fragilizar a candidatura de Marcelo R. Sousa e facilitar as mudanças nos partidos da PàF. Ontem disse tudo o que as suas hostes queriam ouvir, nomeadamente que a coligação à esquerda ainda é inconsistente (António Costa ajudou ao declarar que o acordo ainda não está assinado). Daqui por uma dezena de dias a esquerda terá tudo preparado, o PR não terá outro remédio e os seus já estarão preparados para a indigitação de António Costa. O PR, tal como a Merkel, syrizou?". Uns dias depois, o PR fez um discurso mais conciliador, prepara-se para indigitar um novo primeiro-ministro e terminar da melhor forma possível o seu mandato.

a crueldade administrativa instalou-se nos concursos de professores

09.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

Os concursos de bolsa de contratação de escola (BCE), são, de longe, os mais incivilizados de toda a Europa (afirmo-o sem qualquer dúvida) e obrigam milhares de candidatos a "tropeçarem" em editais tresloucados associados a inépcias administrativas.  

 

Quem se informar sobre o histórico dos concursos de professores concluirá que estamos num retrocesso que supera em crueldade os infernos administrativos dos finais da década de setenta do século passado. É arrepiante passar por um qualquer grupo das redes sociais e ler os testemunhos.

 

Isto não é próprio de uma sociedade moderna e os episódios kafkianos têm origem num caos administrativo e organizacional. Sim, a utilização do substantivo caos não é exagerada. O silêncio que vai imperando talvez se deva ao desconhecimento do caos, mesmo por parte de professores (uma percentagem elevada já não concorre e tem sido devastada por outras matérias), e à degradação mediática e constante da imagem da escola pública.

 

Com os meios informáticos existentes, era possível criar um concurso nacional decente com o seguinte princípio:

 

"(...)À opção pela lista-graduada-sem-mais aplica-se o mesmo que à democracia em relação aos outros regimes: "a democracia é a pior forma de governo imaginável, à excepção de todas as outras". Mas isso seria uma derrota impensável para o arco que paira sobre a 5 de Outubro e a 24 de Julho e uma cedência aos professores que o repetem à exaustão.(...)".

 

17398140_pGmGF.jpeg

 

1ª edição em 24 de Julho de 2015.

 

da Europa e das actas

08.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

Somos quase o único país do velho continente onde se fazem actas de conselhos de turma e passamos as reuniões a dizer: isto tem que ficar em acta. Não imagino como é que no norte e no centro da Europa se entendem sem actas. Quiçá gregos e espanhóis nos imitem e talvez isso se relacione com as tais velocidades. Para além disso, constata-se que a palavra de um professor atingiu o grau zero da confiança e isso também explica o tipo de sociedade que construímos e a inabilidade na educação das crianças.

 

1ª edição em 24 de Março de 2015.

do fim da mobilidade especial

08.11.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

O anunciado "fim da mobilidade especial na administração pública" é um momento emocionante para milhares de pessoas. Os tempos são de tal ordem, que nem percebi se é o cinismo de Passos e Portas ou se é já o possível Governo das esquerdas. Por incrível que possa parecer, haverá medo que mudará de lado e regressará alguma decência à vida democrática das organizações.