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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

o mec de crato erra como respira?

26.06.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

O MEC de Crato recorda aquelas pessoas que só evitam decisões incompetentes quando não decidem. Então sempre que há concursos de professores já sabemos que haverá confusão. A última é um "protocolo com um Instituto Chinês sob suspeita noutros países". Mas será possível tanta impreparação? Não haverá uma raiz ideológica a orquestrar o plano inclinado?

 

No legado de Nuno Crato evidencia-se um forte ataque à imagem da escola pública. Se o ministro revelava duas características decisivas, desconhecimento do sistema escolar e associação, por ideologia, às cooperativas de ensino, o tempo comprovou-o. 

 

Crato corporizou duas ideias feitas (a primeira falaciosa): "tudo está mal numa escola pública dominada por sindicatos" e "não se pode confiar em escolas controladas pelo pior da partidocracia local". Mas não foi o poder central que criou o modelo de gestão escolar? E não foram avisados que o pior ainda estava para acontecer? E não estão a promover um tipo de municipalização que acentuará a desgraça?

 

Fica a ideia, para animar a consciência dos optimistas iniciais, que AirCrato acordou tarde para o vírus do experimentalismo.

 

O que resta é penoso. Nunca um ministro da Educação se arrastou no lugar com tanta desconsideração mediática.

 

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o futuro de ontem

26.06.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

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"Foram 15 dias a sulcar o Atlântico no Niassa. Perto da casa das máquinas. Em beliches coberto por números mecanográficos de soldados embarcados em viagens anteriores. De Luanda para Lourenço Marques, a viagem fez-se num B 747 da TAP. Contudo, a verdadeira experiência africana foram esses meses de agosto e setembro de 1973, em Moçambique. Uma conjugação improvável colocou um estudante liceal de 15 anos perante a possibilidade de fazer uma viagem de estudo aos últimos meses do Império, nesse longínquo país de geografia feminina, encostado ao Índico. Apesar da escolta militar que acompanhou o nosso grupo de nove estudantes, na visita ao Parque Nacional de Gorongosa, nessa altura transbordante de elefantes, leões e hipopótamos, a guerra parecia distante e localizada, embora omnipresente, nas conversas e silêncios. Recordo o voo em torno do sistema defensivo de Cahora Bassa, e a malha de túneis para aprisionar o Zambeze. A ousadia da traça urbana de Lourenço Marques. A intensidade económica de Nacala (onde li as notícias do derrube de Allende através de um artigo de Dutra Faria) e o fervilhar da Beira. O grande quartel chamado Nampula. A monumentalidade nostálgica da Ilha de Moçambique. Uma conversa sobre teologia numa mesquita de Quelimane. As noites nas praias, nadando para lá das redes dos tubarões. Em Moçambique, o espaço entre as pessoas era maior. Na altura não o sabia, mas as conversas traiam a perda das convicções que mantêm os regimes coesos. Numa mesa, onde chegava o som do mar, um alferes, a recuperar de ferimentos, criticava a guerra, sem medo de sanção. Noutro sítio, depois de um espetáculo dos Marimbeiros de Zavala, um colono branco censurava a presença militar portuguesa, falando em nome de um nacionalismo moçambicano de tonalidades rodesianas. Não o sabia ainda, mas quando o avião levantou voo do aeroporto da Beira, a luz da manhã escondia os perfumes e as emoções de uma excecional peregrinação ao crepúsculo de uma era que perdera o rumo do futuro."

 

Viriato Soromenho Marques.