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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

da atribuição dos direitos

30.04.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

“Como atribuir os direitos ao indivíduo enquanto tal, uma vez que o direito rege as relações entre diversos indivíduos, uma vez que a própria ideia do direito pressupõe uma comunidade ou uma sociedade já instituída? Como fundar a legitimidade política nos direitos do indivíduo, se este nunca existe como tal, se em sua existência social e política ele está sempre necessariamente ligado a outros indivíduos, a uma família, uma classe, uma profissão, uma nação?”.
 
 
 
 

 

Pierre Manent


 

do livro Política e Modernidade 
de José Bragança de Miranda

 

4ª edição do post

Os boys são uns cómicos

28.04.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

"O Governo retira margem aos ministérios e passa para a CRESAP o perfil dos candidatos aos lugares para dirigentes públicos(...)". Os boys são uns cómicos. Passam a legislatura em concursos partidocráticos, arrumam a clientela e em ano de eleições declaram um arrependimento.

 

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com um desenho é mais simples

27.04.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

A História nunca assistiu a uma transferência tão volumosa de recursos financeiros das classes média e baixa para a alta. A dívida pública é usada como um dos argumentos estratégicos e os especialistas conhecem a falácia. Nem é preciso recorrer a Joseph Stiglitz. O super-rico dos EUA Warren Buffett, disse, em 2006, que "existe uma guerra de classes, sem dúvida, mas é a minha classe - a classe dos ricos - que está a fazer a guerra, e estamos a ganhá-la."

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uma vergonha (não me sai outro título)

27.04.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

Em 4 de Novembro de 2013 escrevia assim (o título do post é desse dia):

 

A excelente reportagem, "Verdade inconveniente", conduzida pela jornalista Ana Leal da TVI é uma valente defesa de um valor primeiro das democracias: a escola pública.

 

Sabemos há muito a vergonha que se estabeleceu com os negócios da Educação, mas visto assim, de enfiada e em cerca de meia-hora, deixa-nos com uma mistura de tristeza e de raiva.

 

Será possível que, depois de mais este documento passado em horário nobre e na televisão com mais audiência, tudo fique na mesma?

 

Há crianças com a igualdade de oportunidades posta em causa de forma "impensável", há professores com horários zero e com a dignidade profissional severamente abalada e há um desperdício escandaloso de dinheiros públicos agravado pelo estado do país. Gostava que este não fosse o meu país.

 

Tem o vídeo completo aqui.

uma espécie de balanço escolar

26.04.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

Com a legislatura a chegar ao fim, ouve-se repetidamente que o diagnóstico dos problemas está feito e que sufragaremos as soluções. Não concordo. Os diagnósticos não são imutáveis e carecem de actualização depois de quatro anos a descer inequivocamente no sistema escolar.

 

Sublinhe-se que a vigente legislatura sucedeu a um período igualmente histórico e nefasto para os indicadores escolares. Mas os números do exercício da actual maioria não enganam.

 

O investimento em Educação já deve estar abaixo dos 3% do PIB. As taxas de frequência baixaram significativamente, depois de décadas com progressos incontestáveis: do básico e secundário ao superior e passando pela escolarização de adultos.

 

A redução no número de profissionais da Educação atinge os 30%. Os que estão em exercício revelam três características: desesperança, envelhecimento e sobrecarga de actividades lectivas e em tarefas inúteis. A reprovação e o abandono escolares aumentaram, não existindo qualquer indicador que inscreva os propalados ganhos em qualidade e rigor.

 

Os cortes a eito mergulharam o sistema escolar num pântano que começou a encher-se com as alterações no estatuto da carreira e na avaliação de professores. A destruição do que existia, e que vinha do século passado, atingiu o auge com os mega-agrupamentos e com o modelo de gestão escolar. A esse propósito, tem interesse a opinião, no Público de hoje, de um membro de uma das organizações de dirigentes escolares:

 

Directores de escola: professores ou boys?

o blogue faz hoje 11 anos com 8359 posts

25.04.15, Paulo Prudêncio

 

 

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Foi Abril e até podia ter sido noutro mês, mas depois o 25 foi pensado. O "Correntes - em busca do pensamento livre" comemora hoje 11 anos.

 

Tinha outro título em mente. Não me lembro qual, mas recordo-me que estava ocupado. Os planos B, C e D também. Na altura, preparava qualquer coisa das correntes da pedagogia e a ideia da busca do pensamento livre está há muito enraizada.

 

É também uma homenagem ao 25 de Abril. Nada seria como é, e apesar de tudo, sem a coragem dos que o fizeram.

 

Mas o mais importante é que gosto de ter um blogue e de escrever e a rede blogosférica proporcionou-me amizades que doutro modo seriam improváveis.

 

Obrigado aos que passam por aqui.

das supressões na passagem do analógico para o digital

24.04.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

Há mais de uma década que se repetem os lamentos (e não se passa da lamúria, com honrosas excepções, como sempre, e até se aumentam os caracteres entrópicos quais bactérias em reprodução acelerada): o sistema escolar transformou-se num inferno de burocracia inútil.

 

Com as novas tecnologias associadas à ausência de "escolas de gestão escolar", a passagem do analógico para o digital no lançamento da informação acelerou, na maioria dos casos, a entrada na parte menos desejada da obra de Dante Alighieri e só quem assiste no lugar da alteridade é que vê a divina comédia.

 

Uma das causas é o receio da supressão de procedimentos que, na maioria dos casos, nunca conheceram suporte legal ou sequer reconhecimento no código de procedimento administrativo. Muitas vezes, a sua permanente existência deveu-se à jurisprudência do temor. A passagem do analógico para o digital pode ser uma oportunidade para a supressão de procedimentos, até dos que se repetem aos milhares em todas as escolas e em todas as horas sem que se interrogue a sua utilidade. Desse elenco "interminável" darei conta noutro post, embora um simples exercício de memória encontre candidatos para os dedos das duas mãos (há escolas em países europeus que funcionam, veja-se lá, sem, por exemplo, sumários nem actas e com professores responsabilizados).

 

 

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O grupo Lena e o centrão

23.04.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

O Grupo Lena é de Leira e o Grupo GPS (cooperativa de ensino) tem a sede na mesma zona. Sempre se conheceu uma estreita relação entre as duas organizações na edificação de "colégios", um nome fino, e nas surpreendentes licenças de construção de escolas para alunos financiados pelo Estado e com uma contratação de professores sem concurso público. O denominado centrão está ligado ao assunto e aguardam-se os resultados, também na Educação, da grande operação do ministério público e da polícia judiciária. Hoje, o Público noticia mais uma detenção.

 

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apoteose

23.04.15, Paulo Prudêncio

 

 

 

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"Apoteose.

 

Já não faz sentido falar dos sinais do descalabro da Escola Pública. Trata-se de um facto, ainda não plenamente consumado, mas em adiantado estado de concretização. E quanto mais notório ele se torna, mais se erguem as vozes que apregoam o contrário, mais se agigantam os gráficos e os números, as folhas de Excel e as outras, maior se torna a pressão negativa exercida sobre aqueles que, no terreno, são manuseados como marionetas. Enfim, a escola real sofre de septicémia, mas a escola de papel vai bem e (auto)recomenda-se.

O empobrecimento do Estado está a ser fatal para os mais despecuniados, para os mais débeis, para os mais desamparados, enfim, para quem dá à Escola Pública a sua principal razão de existir. Deixou de haver dinheiro, os empregos tornaram-se muito raros, e o Estado não está para encarecer a mão-de-obra por excesso de qualificações. Nestas situações, é conveniente que o povo adquira as competências mínimas para servir, mas que não desenvolva muito as asas, que o espaço aéreo está congestionado. Assim, torna-se contraproducente o investimento nesta fábrica de esperanças, de expectativas, de igualdades... Há até quem pense que somos mais competitivos e menos contestatários, se formos um pouco mais ignorantes. Pois é, a educação ― a verdadeira, a informada, a culta ― traz inquietações e aspirações que não se coadunam com tempos de escassez. Daí todo este desinteresse do Estado ― de quem o controla ― pela sua mais prodigiosa criação, juntamente com o Serviço Nacional de Saúde. E como não pode assumi-lo, porque, para os devidos efeitos, ainda somos uma democracia, abandona-a, enquanto lhe declara amor incondicional e eterno. A coisa privada, tal como a proibida, parece-lhe agora muito mais apetecida. É por ela que o seu coração bate mais forte.

Aceitando como válida ― ainda que de forma simplista ― a ideia de que a escola prepara para a vida (a vida que se perspetiva em cada momento histórico), impõe-se a eterna questão: o rosto “desta escola” tem alguma semelhança com o rosto da vida que espera os alunos que não têm outro apoio senão aquele que a Escola Pública lhes dá (aqueles que David Justino quer “salvar” das retenções)? A resposta é um rotundo NÃO! Lá fora, a vida real é cada vez mais exigente, mais precária, mais seletiva, mais severa com a impreparação, com a indisponibilidade, com a falta de responsabilidade… Lá fora, a vida real exige cada vez mais esforço, mais capacidade de sofrimento e de abdicação… E o que faz a escola atual para preparar os jovens para esse mundo? Ensina-lhes tudo ao contrário: podem faltar quando querem, que as faltas são meros registos; podem chegar à sala às horas que querem, que a porta está sempre aberta; podem faltar ao respeito a quem quiserem, desde que não matem nem escochem, que nada de substantivo lhes acontecerá; podem nunca fazer os trabalhos de casa, não levar o material necessário para as aulas ou nem sequer ter apontamentos no caderno, que isso apenas dará azo a uns ridículos recaditos na caderneta; podem “baldar-se” o ano inteiro, que ainda transitarão, desde que ponham umas asas pelo Stº. António ou pelo S. João. Enfim, esta escola ensina a irresponsabilidade, a boçalidade, a petulância, a falta de respeito, a falta de ambição, a mediocridade, a inércia, a externalização das causas do insucesso… Esta escola é tão honesta com estes jovens como os produtos de emagrecimento instantâneo com gordos e obesos: tudo sem esforço, sem privações, sem sofrimento… A Escola Púbica está a tornar-se um verdadeiro logro. Dentro de uma década, será apenas um serviço mínimo de instrução destinado àqueles que têm rendimentos mínimos, para os preparar para uma vida mínima, minimamente vivida.

E qual é o papel dos professores em todo este processo? Cumprem ordens, como bons amanuenses. Os que se tornaram diretores cumprem ordens da tutela e dos que se tornaram inspetores. Fazem o que for preciso para apresentar papéis e folhas Excel com os resultados solenemente encomendados e despudoradamente prometidos. Querem é descalçar a sua bota, que os joanetes doem que se fartam! Grandes anfiteatros ― autênticos coliseus ― cheios de alunos e de encarregados de educação, no dia da festa dos Quadros de Mérito, de Valor e de Excelência! Tambores a rufar, trombetas a gritar, holofotes a doirar, jornalistas a “flashar”, parangonas a contar… APOTEOSE! Xerifes de Nottingham. Os professores que continuaram a ser apenas professores ficaram cada vez menos professores e… praticamente, já só cumprem ordens, praticamente de toda a gente. Se os mandam aceitar, aceitam; se os mandam admitir, admitem; se os mandam calar, calam; se os mandam avisar, avisam; se os mandam telefonar, telefonam; se os mandam entreter, entretêm; se os mandam justificar, justificam; se os mandam passar, passam; se os mandam ir, vão. Quando os alunos não cumprem, não estudam e não têm resultados positivos, é sempre aos professores que a tutela e todos os membros da comunidade escolar perguntam “O que é que os senhores vão fazer?”. E eles tiram sempre mais um coelho da cartola. Ai deles que não tirem!

Estes anos de terrorismo sobre os professores estão a matar a classe (que dá esmola para o seu próprio funeral). Mas não estão a aniquilar apenas a massa crítica dos docentes, estão a ferir de morte as sementes do livre pensamento, aquelas que fazem os homens livres, os cidadãos conscientes e interventivos, as democracias sãs, os países civilizados. E porque ensinamos muito mais o que somos do que aquilo que sabemos, devemos esperar que a História se vista a rigor e seja implacável com tanta demissão."

 

Luís Costa, 18 /04/2015

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