o "charlie hebdo", as manifestações e o poder mediático
Impressionou-me ver milhões de pessoas a manifestaram-se, ontem, em Paris, em defesa da liberdade e da democracia e a afirmarem que é inalienável a matriz que nasceu na Grécia.
Mas a marcha pela República deixou-me com sentimentos contraditórios. Já passei por algo semelhante em manifestações históricas e em que vi, uns dias depois, milhares desses manifestantes a "desobedecerem", sem surpresa, é certo, ao compromisso em nome dos interesses mesquinhos. Claro que os da fila da frente se sentiram ainda mais autorizados para também falharem os compromissos.
Só que ontem a contradição foi mais profunda. Políticos da família de Merkel ou Juncker a desfilarem com aqueles propósitos permite registar a forma oportunista como o poder vigente surfa a resposta dos cidadãos que têm sido vítimas das políticas austeritaristas. A fila da frente tinha ainda personagens com uma história recente de arrepiar. Foi uma encenação organizada com o poder mediático. Amanhã regressam à cartilha. Os profissionais do Charlie Hebdo considerariam isto uma nova morte e era tremendamente injusto.
Embora presente por breves minutos, é certo, a fila da frente podia integrar, mesmo que como convidada especial, uma manifestação da ausente Frente Popular ou empunhar um cartaz do Goldman Sachs ou do grupo de Bildeberg. Poucos estranhariam. Esta liderança europeia, fraca com os fortes (e com os comprovadamente corruptos) e impiedosa com os fracos, parece capaz das mais sofisticadas coreografias.
Seguem-se duas fotos com ângulos diferentes da fila da frente. Apenas para que conste.