Contributo da Manuela Silveira.
“Suspiramos pela Democracia, mas nunca lhe quisemos pagar o preço. O preço da Democracia é (…)a mais difícil, repetimos, das educações: a educação que faz homens livres e virtuosos. E por que não a tivemos? – Porque força é insistir, jamais fizemos da educação o serviço fundamental da República.
(…)Porque jamais tivemos regime (…)em que não houvesse a classe que se beneficia do Brasil e a que trabalha, peleja e sofre para a existência dessa outra classe.
Às vezes ponho-me a indagar: por que será que o Governo, entre nós, há-de ser sempre como um bem privado, que se conquista como se fosse um tesouro, uma riqueza a ser distribuída com os amigos, companheiros e partidários? Tal concepção é tão profundamente generalizada no Brasil que me ponho por vezes, a indagar da origem, por certo, vigorosa de tão estranha deformação.
E ocorre-me que talvez não tenha sido inocente a este respeito o método de colonização português.”
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AUTONOMIA PARA A EDUCAÇÃO NA BAHIA
"(...)E ocorre-me que talvez não tenha sido inocente a este respeito o método de colonização português. Enquanto a Inglaterra colonizava por meio de companhias comerciais organizadas para o objectivo privado da exploração e do lucro e estas companhias comerciais, por força das circunstâncias faziam-se governo e estado, adquirindo, sem o quererem, funções públicas de ordem e poder de tributação, Portugal colonizava por intermédio de Governos que se faziam por força ainda das circunstâncias, comércio e exploração de lucro privado. Assim, enquanto na colonização inglesa era o comércio, era o privado que se fazia público, na colonização portuguesa, era a autoridade pública, o governo que se fazia comércio, que se fazia poder privado e particular. Julgo que está aí, talvez, um pouco da explicação do privatismo irremediável com que ficou maculado o nosso conceito de governo.
Teixeira, Anísio.
Autonomia para educação na Bahia.
Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos.
Rio de Janeiro, v.11, n.29, jul./ago. 1947. p.89-104