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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

quase 7 anos depois

29.03.12

 

 

 

 

Como parece que há mais tempo para a leitura de textos longos, decidi reeditar este texto (Título: "Pensar o sistema escolar) escrito em 2005 e que inseri no blogue em 29 de Novembro de 2005. Antes disso, foi divulgado no site das novas fronteiras, no expresso online e na edição impressa da Gazeta das Caldas em 25 de Novembro de 2005. É um raciocínio por indução sobre o sistema escolar e permite reflectir sobre o sítio em que estávamos, o caminho que percorremos e o estado em que nos encontramos.

A minha experiência permite-me pensar por indução o sistema escolar. Passei a década de 90 do século XX e metade da primeira década do século XXI num mergulho quase alucinante na gestão escolar. E se quando iniciei essa tarefa privilegiada as dúvidas pairavam nas cabeças de muitos dos que me apoiavam - para não falar nos que não me apoiavam - hoje, digo-o, com um orgulho indesmentível, que a obra foi bem sucedida. Tudo assentou numa ideia corajosa que combinou o risco da autonomia com a intenção bem vincada de simplificar procedimentos através da utilização quase obsessiva das tecnologias de informação. E de tempo. Obter informação para a fornecer em tempo real através de fluentes redes informáticas foi a prioridade plenamente conseguida. Tudo isso alicerçado em bases de dados construídas na própria escola e sem custos para a instituição e com a presença constante do primado da administração e da gestão pedagógicas. A minha escola é, hoje, um lugar de excelência organizativa, mas também da vivência assumida e reconhecida de um extraordinário ambiente de trabalho. Conseguiu-se, quase, atingir o modelo de organização empresarial no verdadeiro espírito das democracias mais avançadas: gestão participada com intervenientes autónomos e responsáveis.

Não só em modelos indutivos deve assentar a construção das ideias e dos métodos. Recordo as palavras, não literalmente, do Presidente da República Portuguesa quando visitou a Noruega, em 2004: "os noruegueses apostam muito na organização e quando têm que gerir alguma coisa não têm imensas ideias, apostam antes em poucas alavancas e escolhem aquelas que, resultando de uma aturada análise, lhes parecem as chaves que arrastarão tudo o resto”".

Ora é precisamente isso que é necessário fazer no sistema escolar em Portugal. Temos assistido a um somatório de discussões e polémicas que invariavelmente aumentam o trabalho burocrático dos actores da escola, mas que não introduzem qualquer alteração estruturante e significativa. Na maioria das vezes, apenas alimentam as agendas dos órgãos difusores de informação. 

Mas a ideia da simplificação não é de modo nenhum peregrina. Cruzei-me com esta tese nos primeiros anos como docente. Decorria o ano de 1983, tinha acabado de leccionar 11 turmas do 11º ano. Cerca de 400 alunos e um sala exígua que se denominava ginásio. Um verdadeiro suplício. Não havia método de ensino que resultasse. Era um jovem professor cheio de ideias e de vontades académicas e depressa contactei com as amarguras de um docente entusiasmado .Todavia, foi esse o ano da atribuição do prémio Nobel ao britânico William Golding. Lembro-me duma sua entrevista ao canal 2 da televisão portuguesa. Já no fim desse interessante registo, é-lhe feita a pergunta sobre o método de ensino que ele mais utilizava. Estava curioso. Recordo, que o genial escritor tinha sido professor do 1º ciclo durante umas boas três décadas. A resposta foi pronta e mais ou menos do género: "meu caro, com 30 alunos não há método que resulte, agora com 10 alunos todos os métodos podem ser eficazes". Foi lapidar.

As escolas dos 2º e 3º ciclos e do ensino secundário, consomem 90% da sua energia a tratar dos problemas da sobrelotação. É com se uma família tivesse dez filhos e habitasse uma só assoalhada servida por uma casa da banho. Lá teria o pai que advogar a falta de autoridade ou a mãe de remeter o problema para a complexidade do regulamento interno, da internet ou da televisão. A questão do sistema escolar, e não da Educação, e aquilo que o afasta das escolas dos países do chamado primeiro mundo, é a sobrelotação das instalações e o desgraçado regime de desdobramento. 

As crianças e os jovens deveriam ter as aulas no período da manhã e as actividades de complemento no início da tarde. Não conheço professor que se resigne ao facto dos seus filhos frequentarem o turno da tarde. E se falo de docentes, posso, também, referir os filhos das famílias capazes de pressionarem as instituições escolares. E os filhos dos que não sabem que o podem fazer? Esses filhos, são os que abandonam cedo a escola e são os que contribuem para os nossos maus desempenhos nos testes internacionais. Em regra é assim. 

O que podemos fazer? 

Eliminar, como medida inadiável e prioritária, os horários de desdobramento nas escolas, garantindo que nenhum estabelecimento de ensino funcione nesse regime e que o número máximo de alunos por turma se situe próximo de 20. Os horários escolares dos alunos têm que respeitar a inclusão das actividades lectivas no período da manhã, ficando o período de início da tarde reservado para as actividades de complemento. Todas as escolas que não cumpram estes objectivos devem ser responsabilizadas, ficando o insucesso desta medida associado à responsabilização política local e regional. Devem ser assinados contratos entre o poder regional, local e escolar de modo a que se estabeleça o limite da consecução destes objectivos. Estou certo que os opositores a estas ideias assentarão os seus argumentos nos imperativos financeiros, daqui a uns anos gastaremos fortunas em obras escolares sem projecto que se perceba, ou aludirão à complexidade da situação. O costume. Obstáculos e mais obstáculos que mais não servem do que pugnar pela asfixia, por vezes mesmo que de modo inconsciente, do nosso futuro colectivo. 

Mas o sistema é despesista. Nisso estamos todos de acordo. E é despesista, porque, como diz o arquitecto Nuno Teotónio Pereira, e muitos outros especialista o seguem, Portugal tem 38 quadros de divisão administrativa do território e não um como seria moderno e razoável. O que se pouparia aí em recursos financeiros e em capacidade de planeamento regional da carta educativa leva a que se considere o objectivo primordial de fácil realização. 

Uma outra ideia fundamental e de alcance estratégico inquestionável passa pela estafada reforma da administração pública. Mas qual o cerne dessa reforma na educação? Muito se tem falado da avaliação do mérito. Mérito de quem? 

Olhemos para os concursos de professores para o ano lectivo 2003/04: quem os desenhou propalava o primado da competência da gestão privada. Todos sentimos arrepios. 

Encontramos na rede multibanco do sistema bancário o paradigma daquilo que deve ser feito. Importa que o poder central consiga criar os métodos de gestão da informação em tempo real e que estabeleça as redes com as escolas. 

Chega de discutir a gestão escolar do modo ingrato, para os professores claro, que todos conhecemos. A administração escolar tem 10 vezes mais funcionários do que o necessário. Os funcionários de uma só escola são mais do que suficientes para a gestão dos dados de um concelho inteiro. Não advogo o despedimento das pessoas, mas considero um completo desperdício a sua substituição. E os ganhos de eficiência no combate ao desperdício serão incomensuráveis. Por incrível que possa parecer, nem em 2005 a gestão financeira das escolas passa pelas redes informáticas. Culpa de quem? A maioria das escolas recorre ao software de empresas supostamente especializadas ou constrói as suas próprias bases de dados. E o poder central? Para que serve? Como pode falar de competência em gestão quem nunca o fez de modo eficiente. É como na gestão da casa de cada um de nós: só devemos gastar aquilo que temos e não confiar na bondade do que está escrito nas estrelas. E para isso devemos estar bem informados e em tempo útil. O gestor decisivo é o método e não apenas o académico. 

Estão aqui três ideias fundamentais. Investir fortemente no desígnio de eliminar a sobrelotação das escolas e das turmas e considerar como prioritários os horários dos alunos no sentido do rendimento pedagógico. Administrar o território com objectivos claros, mensuráveis, consensuais e modernos e legitimados pelo sufrágio universal. Recorrer às novas tecnologias da informação, criando a rede das escolas através da disponibilização dos indispensáveis instrumentos de gestão - vulgo, bases de dados. Com estas três medidas arrastaremos as outras todas: pedagogias mais ou menos directivas, manuais mais ou menos escolares, professores melhor ou pior formados, exames só nos anos terminais ou nos anos todos. Sei lá. Ficaremos parecidos com um país a sério e mais aproximado dos ideais democráticos. Mais do que gestores, o que precisamos é de instrumentos modernos de gestão. 

(...)Virámos de século e a aldeia é global. Dez anos que sejam, um ligeiro piscar de olhos na vida de uma sociedade.

não temos solução

28.03.12

 

 

Só 25% dos portugueses entre os 25 e os 60 anos completaram o 9º ano de escolaridade e a taxa de insucesso e abandono escolares na escolaridade obrigatória anda pelos 30%. Depois de décadas de reformas compulsivas no sistema escolar, os portugueses andam numa roda viva a discutir se a panaceia é um exame para os petizes do 4º ano de escolaridade. Os defensores da solução refugiam-se nos 30% da nota. Mas qual nota, senhores? A classificação é qualitativa e 30% de não-satisfaz mais 70% de satisfaz-assim-assim dará sempre satisfaz-mais. Cá para mim dou um insatisfaz-menos à incrível desresponsabilização do sítio onde tudo começa: a sociedade.

autonomia e exigência - post não corporativo

27.03.12

 

 

 

 

Os tempos lectivos vão deixar de oscilar entre os 45 e os 90 minutos. Existe a alternativa dos 50 minutos ou de outra solução que as escolas encontrem, desde que se enquadrem na nova estrutura curricular. Quem estiver com atenção ao que vai acontecer, perceberá que as aulas de substituição serão suprimidas e que continuará a possibilidade de se criarem grupos de nível nos apoios educativos (parece que a sensatez as exclui das turmas regulares).

 

Embora com parâmetros mais orientados pela "impossibilidade" (catastrófica) da interdiscplinaridade e pelo desperdício financeiro, a reorganização curricular de 1998 também apelava à autonomia curricular com limites mínimos e máximos.

 

Se é expectavel que seres crescidos e responsáveis desejem ser autónomos, por que será que tantos professores se arrepiam quando ouvem falar de autonomia?

 

A solução temporal terá de ser muito debatida e pensada. Será necessário ouvir e recorrer a históricos das variáveis em confronto. As turmas de nível, por exemplo, requeriam que se controlassem bem as variáveis pedagógicas e informacionais. Em escolas com vinte alunos e dois professores tudo se simplificaria. Com 1000 alunos e 100 professores, o caos podia instalar-se ao fim de dois a três anos lectivos com sérios prejuízos pedagógicos, organizacionais, sociais e financeiros.

 

missão e visão

27.03.12

 

 

 

Nas décadas de oitenta e noventa do século passado, as pessoas das empresas eram sobressaltadas com "gurus" salvadores: chegavam com a receita da visão e da missão, pagavam-se a peso de ouro com a epifania, e deixavam o controle da produção para os outros. Faziam longos e convenientes intervalos e só regressavam pela certa. Os insucessos frequentes não estavam nos seus encargos. A mudança de milénio conseguiu que esse comportamento virasse piada e nos últimos anos os "gurus" mudaram de profissão.

 

Os avaliadores externos das escolas são seguros: gostam de duas décadas de atraso, para não se incomodarem com inovações. Não há escola sem missão: o certificado terminal definido pelas leis da escolaridade. Quando à visão, a diversidade tem uma característica comum: a escola dos "gurus".

um 3 d e a oferta complementar

26.03.12

 

 

 

Na sequência da estrutura curricular dos Ensinos Básico e Secundário apresentada hoje pelo Governo, as escolas e os agrupamentos vão organizar a coadjuvação no 1º ciclo na área das expressões leccionadas por professores de outros ciclos de ensino. É uma boa notícia para a oferta curricular e para os docentes que olham com preocupação o espectro do horário zero. Como referi aqui, a escola onde sou professor, a Básica Integrada de Santo Onofre (1993), foi pioneira neste projecto que foi interrompido em 2010. O processo será retomado abrangendo as restantes escolas do agrupamento. A imagem que escolhi, refere-se a um 3D realizado no ensino das artes no 1º ciclo e conduzido por uma docente do 3º ciclo.

 

 

desvaforecidos, até no futebol?

26.03.12

 

 

 

 

Gosto de jogar futebol, fui um efectivo jogador de rua, mas as bancadas dos estádios não me seduziram. Aquilo tem dois demasiados que não são meus: "electricidade" e especialistas fora de si.

 

Reservei um lugar nas bancadas dos recreios das escolas. Uma vez por ano ou coisa assim, observo, discretamente, os alunos que se dedicam ao esforço de superar um adversário com uma bola como interlocutora. Era, por norma, o reino dos desfavorecidos. Por passarem mais tempo na rua, os ases daquele futebol eram mais fortes, mais rápidos, mais resistentes e mais habilidosos. Era um regalo vê-los jogar.

 

Cada vez é menos assim. Os nossos desfavorecidos já não se distinguem. Começam cansados e tratam a bola com a inépcia de um desajeitado principiante. O futebol academizou-se de tal modo, que parece perder na competição com o virtual e com a fome.

isabel, a marciana?

25.03.12

 

 

Isabel Alçada recusa a existência de irregularidades na Parque Escolar

 

Percebo: quem viver na estratosfera e negar a falência do país também pode afirmar coisas destas. Fiz um post por causa dos outdoors da parque-escolar-sa pouco depois do programa ter começado. Como se sabe, os outdoors são caríssimos e as campanhas eleitorais em período de contenção recusam a sua utilização. Uma empresa sem concorrência, e que requalificava escolas, fazia publicidade com outdoors a que propósito? Via-se logo que a coisa acabaria mal e custa ver os tais das benesses ilimitadas a teimarem na megalomania. É nos detalhes que tudo se joga e que se percebe o rigor dos programas.