a liberdade evolui
(Não é a primeira vez que
transcrevo esta história
neste blogue).
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(Não é a primeira vez que
transcrevo esta história
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Qual é a carruagem do nosso tempo? As sociedades da aprendizagem criam uma atmosfera semântica bem-pensante e atractiva, mas de tal modo vaga, imprecisa e não concreta, que se torna um obstáculo pedagógico ao escolar do nosso tempo. Há autores que se socorrem do conceito de governamentalidade de Michael Foucault, em que categorias como sociedade de aprendizagem, sociedade do conhecimento e aprendizagem ao longo da vida são referências de uma estratégia politica. Essas categorias originam ainda formas de governo condutoras dos sujeitos em função das suas habilidades, destrezas e competências, constroem um discurso global, politicamente correcto e aparentemente natural e ingénuo, que termina a gerar no sujeito um permanente estado de ansiedade formativa.
"Foi directo à subjectividade da pessoa, não através do corpo mas por meio da mente, por intermédio de formas, de práticas educativas e pedagógicas que, possibilitando escolhas educativas, moldam a subjectividade das escolhas autónomas". Tradução e adaptação de uma frase de Marshall 2005.
(Já usei este texto noutros posts)
(Texto rescrito e adaptado - 1ª edição em 25 de Novembro de 2008)
Assisti ao "prós e contras" sobre um dos temas do momento: o falido modelo de avaliação dos professores, uma espécie de "subpráime" das políticas educativas.
É já uma coisa descomunal esta teimosia, ia escrever patologia, governamental de seguir em a frente com esta doença. O problema arrasta-se e alguns dos detalhes do modelo já originaram, pasme-se, um conselho de ministros extraordinário. Rapidamente se concluiu que as três ou quatro ideias de tipo salvífico da coisa só aumentaram o ruído ensurdecedor em que está mergulhada a escola pública portuguesa.
O tempo mediático é o que é, e estes programas acabam por frustrar os intervenientes e os seus apoiantes: os estruturais e os conjunturais. Procura-se a frase chave e enaltecesse-se a capacidade dos que desferem o golpe certeiro nos opositores, muitas vezes, apenas de circunstância.
Houve uma intervenção que se referiu ao modelo de um modo comprometido e conseguiu reforçar dois aspectos: o muro de invenções técnico-pedagógicas em que se transformou o ministério da Educação carece duma "implosão", o modelo de avaliação do desempenho é inexequível e contém uma ideia de escola e do exercício do professor que está na génese deste conjunto de políticas educativas que têm efeitos nefastos para a escola pública.
Importa reafirmar:
Da intervenção de Maria do Céu Roldão reparei num detalhe primoroso: quando abordou a hierarquização do modelo, falou das 4 dimensões, passou para o segundo patamar, o dos domínios, dizendo que podiam ser vinte, e... de seguida... meio atrapalhada... disse: "bem, a operacionalização ficou para..." não percebi bem, a professora não foi clara.
E porquê? Por que teria de referir o patamar seguinte, o da possibilidade dos 100 indicadores ou ainda o dos 900 descritores. É sempre assim: quando os teóricos da técnico-pedagogia do ensino com este tipo de perfil se metem nos meandros da gestão e organização escolar, formulam e voltam a formular, mas depois deixam o "terreno" para os "operários" do sistema escolar.
Tenho salientado a questão do perfil funcional e das 4 dimensões porque entendo que essa discussão é nuclear e pode ajudar a questionar o seguinte: no nosso país as desigualdades económicas e sociais são gritantes e provocam taxas de abandono escolar que nos envergonham.
Sabe-se que a escola, actuando de modo isolado, nunca resolverá esse problema. É uma questão mais vasta, da responsabilidade da comunidade educativa, portanto, de toda a sociedade. O que agora se tem feito, é propalar a necessidade de desenvolver e avaliar o espírito de "missão" na profissionalidade dos professores. Como se os professores não estivessem "cansados" de o identificar: não podem é ficar isolados nas causas e no desígnio de o conseguir.
O conjunto de políticas que este governo tenta impor na Educação, de modo a apressado e rotulado de "reformas" (o que garante desde logo o apoio mediático, mesmo por quem desconhece o conteúdo do que se propõe) estão impregnadas do seguinte: o abandono escolar resolve-se na escola e por isso temos de avaliar quem tem de actuar nesse sentido: os professores todos e nos anos todos. E esta decisão ajuda a explicar muitas outras (tipo de ocupação da componente não lectiva dos professores, ideia de que os professores trabalham pouco e só dão aulas) que mais não fazem do que desresponsabilizar a restante comunidade no combate ao referido abandono. O abandono escolar é grave, principalmente quando acontece nos primeiros anos de escolaridade, e é espantoso como ninguém presta contas: por exemplo, as autarquias e os seus serviços sociais.
É necessário repensar a escola pública. Não podemos continuar por este caminho, de trazer tudo para dentro da escola, e de lhe atribuir esta impossibilidade de funções.