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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

retalhos

28.12.10

 

 

 

Se o aumento dos suplementos remuneratórios a quem exerce funções de direcção nas escolas portuguesas tinha subjacente a ideia de dividir os professores, então o governo pode dar-se por satisfeito. A agenda mediática dos últimos dias foi inundada pelas notícias de redução financeira desse tipo de suplemento.

 

Na blogosfera, e nos jornais online mais consultados, assistiu-se a um momento de gozo e de ajuste de contas. Até as justificações das novas organizações de dirigentes escolares foram glosadas. As suas eternas ameaças de bater com a porta já não convencem quem quer que seja e não reúnem qualquer simpatia ou solidariedade.

 

É um dado novo no ambiente organizacional das escolas. É certo que o arquétipo do director tem, em Portugal, um conteúdo que se ridiculariza com facilidade e ninguém gosta de fazer má figura. Também se pode argumentar com a tradicional inveja dos humanos. Todavia, não é indiferente o comportamento dos dirigentes escolares no auge da luta dos professores e nos momentos mais quentes que levaram à implementação do desmiolado novo modelo de gestão.

 

Vai levar tempo até que a confiança se restabeleça de modo a favorecer o reaparecimento de boas culturas organizacionais. As lutas na direcção da democracia são, como sempre se soube, longas e difíceis.

cómico

28.12.10

 

 

 

 

Corta-se salários na função pública com dúvidas de constitucionalidade, prepara-se o despedimento de milhares de professores no ensino público e o actual presidente da República fica-se pelo silêncio; em nome dos altos interesses do estado, diz-se. Mas se se toca numa das franjas de eleitores desavindos com promulgações recentes, o candidato Cavaco Silva manda às malvas o interesse do estado e a opinião dos seus conhecidos dos tais mercado e ameaça com vetos.

 

A cooperação estratégica ainda em vigor exigiu os conhecidos arranjos de cosmética. É também por isso que a falência está há muito anunciada e com a benção do estratega dos votozinhos, outrora primeiro-ministro e actual presidente da República. É do tipo de comédia que acaba em tragédia.

 

 

Cavaco promulga diploma sobre apoio do Estado ao ensino particular

"Cavaco Silva promulgou o diploma que regula o apoio do Estado ao ensino particular e cooperativo, após "um diálogo estabelecido" entre Belém e o Governo que deu origem a um "novo texto".(...)"

o velho e o mar (2)

28.12.10

 

 

 

 

O romance "O Velho e o Mar"” (The old man and the sea) de Ernest Hemingway (1952) é uma obra-prima.

Li-o pela primeira vez na adolescência, na época do "Moby Dick", de Herman Melville - o autor do também fascinante “Bartleby” -, e julgo que nunca mais o voltei a ler. 

Era já vaga a ideia sobre a história. Um velho e pobre pescador que havia tempo que não conseguia pescar e que tinha uma forte amizade com um rapaz. Certo dia, pescou o maior peixe da sua vida. Voltou a terra apenas com o esqueleto do enorme espadarte, porque não conseguiu impedir o furioso ataque de esfomeados tubarões. Reencontrei-me com a história e fiquei com a ideia que está tudo ali. 

Não resisto a transcrever-vos um pedaço da tradução de Jorge de Sena:


- Que tens para comer? – perguntou o rapaz.
- Um tacho de arroz de peixe. Queres? – perguntou o velho.
- Não. Como em casa. Queres que eu acenda o lume?
- Não. Acendo-o eu depois. Ou como o arroz frio.
- Posso levar a rede?
- Claro que podes.

 

Não havia rede, o rapaz lembrava-se de quando a tinham vendido, mas todos os dias representavam esta cena. Também não havia tacho de arroz, o que o rapaz também sabia.