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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

visível

16.09.10

 

 

 

 

O comércio nos negócios da Educação não sai da cabecinha da direita dos interesses. Há quem lhe chame direita que não vê. Prefiro a designação de direita que só vê a cor do dinheiro.

 

Os arautos da revisão constitucional apontam o despesismo e o estatismo na Educação como factores de desigualdade de oportunidades. Só mostram os números que lhes interessam. Fogem a duas perguntas:

 

se quem pode mais deve pagar mais, deixamos de pagar impostos? (tropeçarão; sabemos quem foge aos impostos; e como);

admitem a privatização de lucros na escolaridade obrigatória? (tropeçarão; é claro que admitem; não pensam noutra coisa).

 

Apontam e bem o monstro burocrático do ME como factor a combater. Mas como sabemos, o "privado" que se conhece em Portugal é mais atávico ainda e o estatuto dos seus professores aproxima-os de tudo o que não se quer.

 

Avançam com os nórdicos como exemplo. É bom que se leia coisas como esta de Eduardo Manuel Marques do Rego: (...) é que em Portugal gasta-se 1.277,5 dólares por ano e por cidadão em educação, e na Finlândia 3.310,1 dólares. Para alguns é “pouco mais” mas, na minha modesta opinião, é quase o triplo! Acresce ao que foi provado que, segundo dizem, a Finlândia investe assim em educação há pelo menos cem anos e Portugal que começou há trinta anos tem agora responsáveis que acham que se deve começar a desinvestir!(...).

 

Seria desgraçado se depois destes últimos e inenarráveios cinco anos nos aparecesse pela frente um outro conjunto de tresloucados.

e santo onofre? (04)

16.09.10

 

 

Orgulho-me de ser professor em Portugal. Faço parte de uma geração que participou na massificação do ensino. Exigiu esforço, mas foi por uma boa causa. Muito está por fazer, naturalmente. A Educação é um exercício sem fim.

 

É fundamental o dia em que se recebe os alunos e os seus encarregados de Educação (EDE). Hoje foi um dia desses. É o primeiro contacto com a escola. Um dia de festa e de bem receber. Todos os cuidados são colocados e o respeito por quem chega é a palavra de ordem.

 

Hoje, em Santo Onofre, aconteceu o contrário de tudo isso. Nunca tinha vivido uma coisa assim, muito menos naquela escola. Sou franco: senti vergonha e um embaraço inédito. Recebia, às 10h30, os alunos e os EDE da minha direcção de turma na sala 25. Estranhei o excessivo número de automóveis estacionados na zona envolvente. Quando entrei na escola encontrei uma funcionária de cabeça perdida e que me disse: um caos professor; estão cá os anos quase todos e as salas estão baralhadas. Verifiquei o número da sala e mantinha-se a 25.

 

Fui buscar o livro de ponto, eram 10h25, e dirigi-me à sala de aula. Estava ocupada por outra turma. O ambiente era de confusão generalizada. Protestos sobre protestos. Em cima da mesa da funcionária do bloco estava um papel com a programação que indicava a sala 25, mas com um 32 entre parêntesis. Disse aos EDE que tínhamos de ir para outro piso.

 

Foi-me valendo que quase todos me conheciam. Abri a porta da sala 32 e estava também ocupada com outra turma. A minha colega que orientava a reunião abanou a cabeça com um sentimento de saturação. Diriji-me à mesa da funcionária do bloco e em frente do rascunho 32 estava desta vez um premonitório 31. Vamos para lá. Porta fechada à chave. Para a abrir tive de voltar à sala de professores onde está um chaveiro. Pedi às pessoas para esperarem mais um pouco. A incredulidade estava instalada nos EDE. Alguns pediram desculpa, mas tiveram de se de ir embora para voltarem ao trabalho.

 

Fui buscar a chave e cruzei-me com situações semelhantes; uma comédia feita tragédia. Voltei à sala 31 para reunir com menos de metade dos EDE. Uma das pessoas estava particularmente em pânico: chegava de uma escola inglesa e a sua filha era a mais nova da turma. A aluna estava a chorar. Durante a reunião as interrupções foram constantes e valeu a boa disposição de uns quantos.


Fiz a reunião e prometi uma outra oportunamente. Trouxe comigo para os ajudar, e com a compreensão dos restantes, o EDE recém-chegado e a aluna. O percurso até à saída foi surreal: uma aluna mais velha veio dizer-me que a papelaria tinha mudada de sítio, mas que a placa indicativa não e que no novo espaço só havia mesas e cadeiras por arrumar e nenhuma informação. Estava indignada. Queria comprar as senhas de almoço para segunda-feira e não sabia como fazer. Apareceu-me depois uma outra com um horário para fotocopiar. Disse-me que na porta indicada pela placa da reprografia estava colado um papel manuscrito com "educação especial". Queixou-se que o site da escola não tinha os horários e que raramente funciona.

 

Já não sabia que dizer. Pedi-lhes que se fossem embora, que na segunda-feira os ajudaria. O corredor da entrada estava cheio de gente a protestar e de funcionários indignados. Ainda passei pela sala de professores e o desânimo estava patente.

 

A situação de Santo Onofre é insustentável e não é novidade, claro. Desde membros dos diversos órgãos do agrupamento (até da própria direcção), passando por professores, funcionários e encarregados de educação, a constatação é repetida até à exaustão e sem qualquer inibição.

opinião pública

16.09.10

 

 

Participei no programa da SIC Notícias, Opinião Pública, no dia 8 de Setembro de 2010, das 17h00 às 18h00, com a moderação do jornalista Luís Marçal. Apresento os vídeos que a cortesia de uns amigos permitiu. Não conseguiram melhor do que desdobrar em nove.

 

Vídeo 1.

 

 

Vídeo 2.

 

 

 

Vídeo 3.

 

 

 

Vídeo 4.

 

 

Vídeo 5.

 

 

Vídeo 6.

 

 

Vídeo 7.

 

 

Vídeo 8.

 

 

 

Vídeo 9.

 

colapso iminente

16.09.10

 

 

 

"Afinal não passam de "fantasias" as acusações de que o projecto de revisão constitucional de Passos Coelho visa acabar com o Estado Social, pondo os portugueses a comprar a educação, a saúde e a segurança social no comércio privado.

Passos Coelho e o PSD não têm, de facto, qualquer necessidade de acabar com o Estado Social, já que um passarinho anunciou ontem à ministra Canavilhas (e ela, alvoroçadamente, foi logo contar tudo a jornais e televisões) "o colapso iminente do Estado social".

Seria para Passos Coelho trabalho inútil tentar empurrar o Estado Social para fora da Constituição. Bastar-lhe-á esperar que ele "colapse iminentemente" e, depois, apanhar os salvados e vendê-los a quem der mais.

Também mal interpretada tem sido a intenção de Passos Coelho quanto aos despedimentos. Permitir despedimentos sem justa causa, ou mesmo com injusta causa, colocará o país no pódio do desemprego da OCDE. Estamos nesta altura em 4.º lugar, a escassos 2,4 pontos da Irlanda. Com uma pequena ajuda constitucional, e Passos Coelho a seleccionador, poderemos finalmente ser campeões do Mundo em qualquer coisa."

 

 

Manuel António Pina