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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

romper as margens

30.09.10, Paulo Prudêncio

 

 

Descentralizar não significa privatizar: muito menos no sistema escolar.

 

É eficaz eliminar a burocracia de serviços centrais através de contratos de autonomia (charter schools). Não podem é ser contratos onde a inscrição mantém a dependência das invenções técnico-pedagógicas de serviços centrais: alguém tem de perder o emprego.

 

Sabe-se que autonomia implica responsabilidade e confiança. Exige uma sociedade onde impere esse clima. Portugal devia e podia ser um país assim. Há exemplos desse exercício. Alguns investigadores falam de "autonomia clandestina" como receita para o sucesso organizacional. E falam bem. Estamos muito longe de ser uma sociedade confiante. Não adianta apontar dedos; o único certeiro é o que se dirige à consciência de cada um.

 

É decisivo que se fale de financiamento. Sem essa clarificação nada se faz. Há, desde logo, duas perguntas a fazer: é legítima a privatização de lucros na escolaridade obrigatória (para já não falar da seguinte)? Defendo que não. A contratação de professores deve obedecer sempre a concurso público? Defendo que sim.

 

Aprende-se com a sociedade americana, mas as cópias não se aconselham. Para o sonho americano existe uma formulação apenas: sou patrão ou aspiro a sê-lo. Na europa existe um grupo, os chamados intelectuais, que são capazes de trabalhar tanto como os patrões e que aspiram a viver do seu salário. E isso confundiu os neocons, mas também os governantes actuais. Encontraram uma solução: o esmagamento através da prestação de contas com monstros burocráticos. Fazem-no em casa com medo das contaminações e têm um canal mundial para a propagação da receita: chama-se OCDE e em Portugal é a tecno-religião dos partidos políticos todos com assento na Assembleia da Republica, com particular destaque para os do arco-do-poder.

 

Valeu-nos, por agora, um grupo alargado de professores que andam pelas escolas da escolaridade obrigatória, que pensam para além das tecno-religiões, que só querem ser patrões de si próprios e prestar contas pelo seu exercício profissional. Nada será como dantes.

menos um

30.09.10, Paulo Prudêncio

 

 

Com uma etiqueta dedicada aos incompetentes, o blogue Educação S.A. faz um post que intitula de "queda de um anjo" e onde se relata a destituição do director de uma escola numa acção do conselho geral. Pode ler aqui. Às tantas é como já escrevi diversas vezes: estamos na bancarrota porque temos demasiada gestão pública e privada entregue a pessoas sem competência.

por que não te calas?

30.09.10, Paulo Prudêncio

 

 

Almeida Santos é uma espécie de receita: quando a hecatombe é um facto, aparece, com uma superioridade só ao alcance de quem enverniza as unhas, a defender os príncipes e os seus salões com um ar de entendido nas diplomacias mais profundas. Há tempos, em 27 de Julho de 2010, aqui, escrevi assim: "algures no final do século passado, Almeida Santos era presidente da Assembleia da República. Lembro-me de em dada altura do seu mandato, ter-se levantado uma polémica à volta do preço dos automóveis de luxo que iam ser adquiridos pelos serviços da casa de democracia. Almeida Santos apareceu, cheio de uma bonomia convicta e com aquela superioridade de quem intui da inevitabilidade da vida dos príncipes e dos seus salões, nos telejornais, a argumentar com a dignidade da representação do estado - José Eduardo dos Santos, por exemplo, não faria melhor -. O exercício de António Guterres começava o seu ciclo descendente: imparável, como se veio a comprovar. O chefe do actual governo chama a Almeida Santos o príncipe da democracia. O conhecido advogado considera o primeiro-ministro com uma espécie de ente supremo. Ora leia o título da notícia e clique no link se quiser saber mais. Realmente, tem estado um calor abrasador."

 

Desta vez, aparece como psiquiatra do povo. Talvez fosse melhor que algum psiquiatra da nação explicasse a veneração que este advogado recebe dos aparelhistas do actual PS.

 

Sacrifícios "não são incomportáveis"

 

"Almeida Santos disse que os sacrifícios que estão a ser pedidos aos portugueses "não são incomportáveis" e salientou que "as crises não são só dos governos, são também do povo". Os sacrifícios que estão a ser exigidos ao povo não são sacrifícios incomportáveis. Oxalá que o país nunca tenha que enfrentar sacrifícios maiores”, afirmou, sublinhando que “as crises não são só do Governo, são do povo e o povo tem que sofrer as crises como o Governo sofre”.(...)"

seguir com atenção

30.09.10, Paulo Prudêncio

 

 

Antes de irem à estratosfera justificar o aumento de impostos e a redução de salários, os que se escondem atrás de qualquer das forças políticas do arco da governação devem perguntar onde está o financiamento despejado na banca falida. Os irlandeses não eram um bom exemplo? Onde estão agora os arautos do supraime, tipo economista António Borges? Chega de nivelar por baixo e de apontar sempre para o lado mais fraco da balança. É bom lembrar que os irlandeses desembarcavam em massa na portela e investiam no imobiliário financiados pelos seus bancos. Se esse bancos faliram, os seus congéneres portugueses que emprestavam dinheiro em massa aos construtores civis têm de estar em situação idêntica. Logo, se a Irlanda anuncia isto hoje alguém tinha de se mexer ontem.

 

 

Défice da Irlanda dispara para 32 por cento do PIB com injecção de capital em banco falido

"O banco central da Irlanda anunciou que o financiamento necessário para que o Anglo Irish Bank não vá à falência, e assim “deitar abaixo” o país, subiu para 34 mil milhões de euros, no pior cenário, ...(...)"

expliquem-me

29.09.10, Paulo Prudêncio

 

 

Qual é o peso que tem nesta situação a tonelada de euros que o estado injectou nos bancos? Como é que está a ser utilizado esse financiamento? Por que é que na conferência de imprensa o ministro das finanças referiu a "cobertura" dos submarinos pelas pensões da PT?

 

Há umas coisas que posso explicar: o aumento de salários dos professores no ano eleitoral foi igual ao dos restantes funcionários públicos; as progressões na carreira que ocorreram nos últimos anos foram muito residuais.

destemidos

29.09.10, Paulo Prudêncio

 

 

Ficamos à espera que os economistas destemidos dos cortes digam de sua justiça. Que expliquem este pacote draconiano sem os argumentos do costume: "(...)que foi tarde, se tivessem cortado antes tinha custado menos(...)". Que enfrentem a tempestade e que assumam responsabilidades. Que não se escondam no meio da cortina de fumo. Não estou sequer a ilibar o governo pelas políticas desastrosas de animação da economia e de protecção aos do costume.

acordo central

29.09.10, Paulo Prudêncio

 

 

O PSD, parceiro do governo nestas medidas e co-realizador da cortina de fumo dos últimos dias, tem o desplante de indicar Nogueira Leite para reagir aos acontecimentos das últimas horas. Na intervenção deste economista não houve uma palavra sobre os cortes salariais.

 

Em 21 de Janeiro de 2010, escrevi o neste post: "(...) Não sei o que pensa Pedro Passos Coelho sobre Educação, mas vi um dos seus apoiantes, António Nogueira Leite, defender, no dia em que o governo e os sindicatos de professores chegaram a acordo, que a massa salarial dos professores era um dos factores que mais contribuiu para o aumento de défice orçamental nos últimos três anos. Fiquei estupefacto com a conclusão deste antigo secretário de estado do PSD. E defendeu a sua conclusão em tom indignado e sem contraditório. Sabe-se que o famigerado défice passou de 2,8% para 8% num período em que os salários, e as progressões na carreira, dos professores estiveram congelados e em que massa salarial da função pública baixou de 3% para 2% do produto interno bruto. Dá ideia que Portugal é um país com pouca sorte. A sua história, a par da dos países católicos da Europa - os mais a sul -, é feita de atrasos sobre atrasos nas matérias da Educação; e para não haver desvios ao fatalismo, vai ficando claro que os últimos dirigentes do bloco central têm uma fixação negativa qualquer com a Escola e com os professores.(...)"

 

Gostava de saber o que é que dizem os apoiantes destes políticos a propósito destas declarações.

hoje

29.09.10, Paulo Prudêncio

 

 

O governo português acaba de anunciar o maior agravamento do custo de vida da história da democracia. Vejo os portugueses que não usam offshores, não gerem parecerias público-privado ou não beneficiam do estatuto de bons préstimos à clientela do arco-do-poder, sentados numa cadeira como a da imagem.

 

 

sorte

29.09.10, Paulo Prudêncio

 

 

As escolas públicas têm sorte por não existir uma vontade prospectiva que estabeleça uma parceria público-privado de arame farpado. Caso contrário, e a exemplo do programa de vídeo-vigilância nas escolas, não restariam dúvidas que se aramavam os estabelecimentos de ensino e que se incluía a despesa em rubricas do tipo plano tecnológico para a Educação ou parque escolar. Tudo em nome da animação da economia e da qualidade do sistema escolar.

 

Cansa que não se tenham estudado os caminhos a seguir e que agora se inventem soluções para encher os bolsos dos do costume. Na iminência da bancarrota mexe-se de modo selvagem nos habituais: impostos e salários. O estado de sítio merece o apoio antigo dos irritados do sistema; como é explicado aqui.

dilacerante

28.09.10, Paulo Prudêncio

 

 

Encontrei um texto imperdível no blogue do Paulo Guinote; aqui. Era bom que os arautos da escola a tempo inteiro lessem mesmo o texto. É dilacerante. Vai ao osso. Emocionou-me, sou franco.

 

Apetece-me partilhar o que sinto.
Será que as aulas introduzidas este ano de enriquecimento curricular,no meio das aulas curriculares, estarão a decorrer bem de norte a sul?
Que cansaço!..
Que tortura!..
Que inferno!..
Mas a OCDE não pode cá mandar uns rapazes ou raparigas para ver o estado em que a coisa chegou?..
Ando com vontade de fazer um filmezinho sobre um dia de aulas num TEIP, com o novo modelo de AECS pelo meio das aulas, e espetar com ele no Youtub.
Um TEIP que tem na escola mais problemática do 1º ciclo apenas 1 prof de apoio. Prof de ensino especial, é uma miragem. Ou não chegam, ou adoecem.. Tudo para os titulares de turma.
A rapazeada não pode ver o trabalho à frente. Tento convencê-los o dia inteiro da importância de saberem mais, mas não resulta muito.
Quando os tento acalmar e fazer um trabalho sério, lá se vai tudo. Acabou de chegar o prof de hip-hop.. Berros espojamentos no chão…
Eu tento retirar-me para um canto da escola para esperar e entrar novamente em cena,e acabar uma aula de matemática que tinha iniciado pela manhã, e eis que me deparo com uma luta de um jovem de 9 anos que já tinha batido numa empregada e tinha acabado de atirar ao chão 4 ou 5 cadeiras.
Chamada a polícia, esta coincidiu com a entrada dos meus infantes que regressavam da sua aula de hip-hop. Fascinados pelo cenário tb quiseram assistir. Difícil, foi convencê-los que tinham que subir para a sala, para concluir a aula anterior.
Mas, eis que chega a professora de dança, que só hoje se apresentou e leva-os, para terem a sua primeira aula. Hoje não dançaram, foi apenas apresentação.
Eu humildemente, retirei-me e procurei o cantinho da escola que tinha procurado, na aula anterior, quando do hip-hop.
Mas esta aula de dança, como a aula de teatro, como a de expressões fazem parte de um outro projecto da escola, e os professores são obrigados a estarem presentes e a interagir. Subi e instalei-me na minha cadeira, a tentar descansar um pouco, visto ser apresentação. A aula de dança acabou, mas tinha o Apoio ao Estudo. A hora ia avançada, e aqui a rapazeada olhou-me, implorou-me: _Professora, nós estamos cansados. Eu li nos olhos deles, que aquela hora não podiam estar de outra maneira. Eu tb estava estourada. Não conseguia fazer mais nada!
Quanto ao que devia ter feito e não fiz, o problema não é meu. Dos alunos tb não.
Foi pouquíssimo o que consegui fazer hoje.
Quem sabe se amanhã não consigo acabar a aula de hoje…
Se não acabar ficará para o próximo dia. Eu irei lá estar todos os dias em príncipio..
Horas de apoio na sala? 2h 50 m semanais.
De referir que estou a falar de uma turma de 4º ano, com níveis de aprendizagem que passam pelo 1º, 2º, 3º e 4ºanos. Dois dos alunos são de Ensino Especial.
Possivelmente, quem ler isto, pensará que estou a inventar. É pura verdade e passa-se numa escola portuguesa.
Amanhã há outro dia e o sol nascerá de novo.
Só peço que o possa ver nascer. Isso será o mais importante.
Quanto a fazer coisas sérias e com alguma qualidade, faz parte do passado. Esse já não volta..

 

 

Luana


28.09.10, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

 

 

"Felizmente há a França" é mais um excelente texto de José Luiz Sarmento que pode ler aqui. Os primeiros parágrafos dizem assim:

 

 

"Quando milhões de franceses se movimentaram para protestar contra o aumento da idade da reforma dos 60 para os 62 anos, não faltou quem lhes viesse com as ameaças do costume: Olhem que aqui ao lado, na Alemanha, é aos 67... Vejam lá, não refilem muito, senão ainda vos pode acontecer o mesmo... Vá lá, sejam realistas... Não queiram viver acima das vossas possibilidades...

Mas os franceses, honra lhes seja feita, são gente bem menos submissa que os alemães, e menos cegos à nudez do rei quando este calha de ir nu. E assim, quando um jornalista televisivo confrontou um manifestante anónimo com aquela argumentação, recebeu como resposta que a produtividade francesa era hoje o dobro do que há vinte anos, pelo que não havia nada de irrealista nas suas reivindicações.

Ora acontece que nos nos vinte anos anteriores a produtividade cresceu ainda mais - como não podia deixar de crescer dados os enormes e espantosos avanços tecnológicos a que temos assistido. Ou seja: entre 1970 e 2010, a produtividade mais que quadruplicou. Ou seja, para quem não está a ver o alcance deste facto: cada hora de trabalho humano vale hoje por quatro horas em 1970.(...)"

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