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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

sem poesia

06.07.10

 

 

 

A poesia e a utopia passaram a ser proscritas na sociedade portuguesa. Reduziu-se a ousadia a serviços mínimos. Um dos aspectos onde se evidencia essa extinção é na confiança nos professores. Vale mais uma qualquer medição externa do que a palavra de um professor. E são mesmo muito poucos os que conseguem racionalizar um discurso que fuja a essa espécie de destino fatal.

manifesto pela cidade imaginária

06.07.10

 

 

 

 

 

Um texto imperdível. Aqui e de seguida.

 

"Cidade imaginária

O património permite-nos cartografar a cidade, com uma cartografia afectiva e culta. Mas ele não é o único elemento dessa cartografia, e não pode ser concebido como o elemento imutável. O património vive, mas não tem vida própria. Produz valores, é certo, mas é o contexto que os explicita e os projecta.
A memória de uma cidade está nos seus museus, mas tem de estar também nas suas ruas, praças, mercados, fachadas, gente. Nas suas esquinas. “A cidade não conta o seu passado, contém-no como as linhas da mão, escrito nas esquinas das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos postes das bandeiras, em cada segmento marcado por sua vez de arranhões, riscos, cortes e entalhes” (Italo Calvino, As Cidades Invisíveis, Lisboa, 1997).
A memória de uma cidade não pode viver do efémero comemoracionista ou do album de fotografias. A memória de uma cidade é um contínuo de gerações, em que cada uma herda e acrescenta à herança o seu próprio sonho, o seu próprio desejo de futuro. A memória e o património são um elemento do metabolismo das cidades, não um entrave ao progresso.
Usando uma linguagem pedida de empréstimo ao Padre António Vieira, diria que o passado contém profecias sobre o futuro. À medida que elas se cumprem, o que era promessa torna-se realidade, ou seja “discurso e boa razão”. O "discurso e boa razão" lança nova luz sobre o passado, dispensando a fé como critério de adesão. “Até agora” - pregava o jesuíta à côrte da Restauração, em 1642, dois anos após a recuperação do trono por uma linhagem portuguesa – “era necessária pia afeição para dar fé às nossas profecias, mas hoje basta o discurso e boa razão, porque os efeitos presentes das passadas são novas profecias dos futuros” (Sermões, I, edição Sá da Costa).
É por isso que não há cidade histórica sem cidade imaginária. A cidade imaginária é dinâmica, porque reflecte, é reflexiva não é um puro reflexo.
Uma cidade é um cruzamento de gerações e de espíritos, espíritos de lugar. Por isso é que a sua riqueza se alimenta do imaginário.
O património é sobretudo um produtor de imaginário. Não podemos prescindir dele, é ele que ajuda a criar o nosso futuro. Deixa-nos mais livres, resolve-nos as questões da herança e do seu peso, porventura excessivo, se o não soubermos seleccionar e adaptar. Temos que saber lidar com o património para podermos mudar, e mudar bem.
A cidade imaginária baseia-se no conhecimento. Desoculta o passado que parecia escondido, sepultado, e considera-o digno de compreensão e vida. Torna menos nebuloso o futuro, ao qual procura transmitir claridade e, afinal, sopro, inspiração, por um lado, continuidade e segurança, por outro.
Siegfried Lenz, no seu célebre romance Heritage, refere-se à terra natal, não como o lugar onde estão enterrados os nossos antepassados, mas como o lugar onde lançamos as nossas raízes. Elas podem ser produto da imaginação. “Para te ajudar a compreender isto tudo" - diz Ziegmunt Rogalla, retido na cama do hospital, em consequência das queimaduras recebidas durante o fogo do Museu histórico masuriano, ao jovem que o escuta - "para te ajudar a compreender tudo isto pede à Henrike que te fale da nossa pátria. A terra natal pode ser um sítio onde nunca tenhas ido, nota bem. No caso dela, criou muitas imagens a partir da imaginação e de informações que recolheu. Talvez tenha uma visão mais pura do que nós, os velhos que lá vivemos”.
Sem a cidade imaginária, fica a cidade material, a que se vê, a horrível cidade triste e decadente, pequenina e onde todos se vêem a todos. Ora nós precisamos, como escreveu Paulo Cunha e Silva nas suas crónicas do Diário de Notícias (2003), da cidade onde somos espírito, onde nos podemos encastrar, desaparecer sem ser vistos, apesar de podermos (e gostarmos de o ser) reconhecidos.
A cidade imaginária é a cidade que pensa sobre si própria, que reflecte sobre a sua identidade, sabendo que o que foi não é o que será, embora faça parte do que pode vir a ser.
A cidade imaginária é a cidade que se alimenta, não da contemplação mas do diálogo com os outros, os de antes e os de agora, cidade que não se limita a responder a situações, mas as antecipa.
A cidade imaginária não tem medo de interrogar os outros, de estabelecer laços com outras cidades, de criar um vaivem, de se confrontar com a diversidade. A cidade imaginária é uma cidade aberta, porque não ficou prisioneira de si mesma, não se deixou manietar pela tradição, nem alienar pelo folclore.
A cidade imaginária é uma cidade de cultura. Onde a cultura não é parente pobre que só se senta à mesa em dias especiais, mas um parceiro leal, credível, de todos os dias. A cultura permite-nos ver para além de nós e da nossa pequenina circunstância. Olhamos de outro ponto, para dentro e para fora. Ganhamos dimensão, desejo, escala, superamo-nos. Pela cultura garantimos generosidade, única arma contra a mesquinhez, falta de visão e de ambição.
A cidade imaginária é a que tira partido das raízes, da memória genética, que a desenvolve, que inova, que refaz os desígnios e alicia os protagonistas para a sua partilha.
A cidade imaginária repudia a indiferença e a resignação, não se importa de correr riscos, de perturbar, de acrescentar, de ousar, de marcar presença.
A cidade imaginária é aquela em que “os vivos pedem para depois de mortos um destino diferente do que lhes calhou” (Italo Calvino, outra vez). Mas para isso têm de reconhecer a cidade em que viveram.
Quando virámos costas à cidade histórica, construímos uma outra cidade, mais individualista, mais hedonista, mais indiferenciada, mais agressiva, menos apropriável.
A cidade imaginária é democrática, é toda a cidade e não a cidade dos poderes, sejam eles técnicos ou políticos. É a cidade onde todos participam no problema e todos participam na solução.
É uma cidade de pessoas, não de objectos."

desempenhos e más tradições

06.07.10

 

 

Bem sabemos que a organização não é um valor precioso para os portugueses, mas a tradição do ME brada aos céus. Num desempenho organizacional moderno a preparação do ano lectivo 2010/11 deveria ter começado em Novembro de 2009 (não estou a confundir datas, a sério que não); desde logo, iniciando os estudos prospectivos em relação à rede escolar e à gestão de serviço lectivo para se poder decidir sobre outras matérias.

 

O ME português tem o péssimo hábito de tomar decisões nucleares para os domínios referidos no verão que antecede a abertura de cada ano lectivo. É uma herança do tipo "mangas de alpaca" que tarda em desaparecer. É também por isso que não se consegue racionalizar despesas com uma máquina que não é deste tempo. É exactamente por aqui que se tem de reduzir custos e não criando, à revelia do mundo, mega-agrupamentos com uma escala apetitosa.

 

Governo adiou reforma curricular do 7.º ao 9.º ano do ensino básico

 

"Ministério da Educação confirma adiamento e ainda não enviou informação sobre organização do ano escolar para as escolas. Directores preocupados.(...)"

nomes

06.07.10

 

 

Desde há muito que se conhece um factor essencial para o combate ao abandono e às desigualdades escolares: sem sofismas, e dando nomes às coisas, é fundamental que a escola seja preferida pelos encarregados de educação que têm ambição escolar para os seus educandos. A presença desse grupo de alunos numa escola melhora a sua cultura organizacional: ajuda a reforçar o ambiente de ensino e serve de exemplo e de estímulo aos que não tiveram a sorte de beneficiar da mesma aspiração familiar; e isso é uma exigência da democracia.

 

Escolas só para as "elites" ou destinadas apenas a uma segunda linha são fenómenos de ghetização que as sociedades acabam sempre por pagar.