arremessos
Já se sabe como foi: o governo português não encontrou melhor instrumento de combate e de propaganda e colocou a avaliação de professores no centro do debate político; a escola pública tornou-se uma arma de arremesso. E colocou a avaliação como farol das políticas de contenção financeira quando ainda era aceitável responsabilizar a massa salarial da função pública pelo desnorte da despesa do estado ilibando com esse argumento o desvario na alta finança. Intencional ou não, foi isso que se verificou.
O tempo passou, o anunciado desastre das contas públicas aconteceu sem qualquer progressão dos professores na sua mais-do-que-pública carreira e o valor global desse investimento até diminuiu. Mas mais: o volume salarial da função pública passou de três por cento do produto interno bruto para menos de dois enquanto o défice orçamental passava de menos de três para oito por cento.
Mas o processo de avaliação de professores tinha também atrás de si uma carga de incompetência que se manifestou no aumento brutal da burocracia; e isso é consensual. Mas o governo também sabe que voltando a esse registo, mesmo que camuflado, é uma boa forma de incendiar o estado de sítio e de tentar ganhar de novo popularidade junto dos eleitores e dos fazedores de opinião. Os spins podem pensar assim: vamos esticar a corda aqui a ver se provocamos ambiente propício a novas eleições. É uma estratégia muito arriscada. Mas é também um sinal de desespero, mesmo que tenha o apoio estratégico do fundo monetário internacional - o tal fundo que na sua história falhou todas as previsões económicas -.
Talvez seja por isso tudo que se começa a notar um desvio nas propostas do governo sobre as matérias da avaliação e do estatuto. Voltou a burocracia, agora na versão "monstrinho", regressam as quotas numa versão mais light e os módulos de quatro anos voltam ao período de dois. Veremos como tudo isto acaba, mas que são tempos desgraçados para o poder democrático da escola pública disso ninguém duvide.