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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

finalmente a autocrítica

16.10.09, Paulo Prudêncio

 

Foi daqui.

 

 

 

Ministra da Educação diz que problemas actuais das escolas "não têm paralelo na história da educação”

 

"A ministra da Educação afirmou hoje que as escolas enfrentam “obstáculos e dificuldades” sem paralelo na história do sector para conseguirem responder ao alargamento da escolaridade obrigatória para os 12 anos.

A ministra Maria de Lurdes Rodrigues, que intervinha na cerimónia comemorativa dos 100 anos do Liceu Camões, em Lisboa, considerou o alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos “uma das mais importantes medidas” do mandato que agora termina, mas admitiu que esta alteração implicará o aumento das “dificuldades e dos obstáculos hoje já sentidos” nas escolas.(...)"

 

 

É verdade; a ainda ministra da Educação tem, finalmente, razão. Nunca a memória histórica da Educação em Portugal certificou um momento tão difícil. Foram quatro anos que abalaram de modo inaudito o poder democrático da escola e que levará anos a reerguer. Institui-se, por exemplo, uma divisão da carreira dos professores que degradou o clima relacional e contribui-se através de um monstro burocrático para a que a avaliação dos professores se transformasse numa coisa inaplicável e desprovida de qualquer rigor e objectividade.

ecos na imprensa

16.10.09, Paulo Prudêncio

 

 

Tribunal negou recurso no caso das escolas de Santo Onofre

 

"(...)Defenderam aqueles, também nos termos da nova legislação, que tinham o direito de completarem os mandatos (de três anos) para que haviam sido eleitos. E, através da apresentação de providências cautelares, conseguiram que os tribunais suspendessem a eficácia dos actos que conduziram à escolha dos novos directores, recuperando ou mantendo, pelo menos até ao julgamento das acções principais, os seus cargos. 

O caso de Santo Onofre, no entanto, tem particularidades, que levaram, até, a que se tornasse um símbolo da contestação à lei. Ali, os professores recusaram-se, desde o início, a apresentar lista para o Conselho Geral Transitório que, nos termos da actual legislação, deveria escolher o director. Uma posição a que o ME reagiu destituindo o CE (que estava a um ano de completar o mandato) e substituindo-o por uma Comissão Administrativa Provisória. Esta decisão chegou a dar origem a uma manifestação de protesto em que participaram presidentes de conselhos executivos, professores de outras escolas e personalidades públicas.(...)
"

 

 

O Público faz, como é habitual, uma notícia muito informada sobre o assunto. Deve ser lida na totalidade. Retirei o que me pareceu mais relevante e os bolds são meus.

estado de direito na rua (reedição)

16.10.09, Paulo Prudêncio

 

 

 

Foi daqui.

 

 

 

Gosto da rua. Satisfaz-me a ideia de passear nos mais diversos sítios e tenho pelo espaço onde nos movimentamos o maior dos apreços.

 

Assisti a muitos movimentos de rua e acredito na validade desse tipo de manifestação de vontades. Mas já não sou muito dado a grandes aglomerações de pessoas em recintos fechados, sejam concertos musicais ou espectáculos desportivos.

 

Feita esta declaração de interesses, vamos então à ideia que me trouxe aqui.

 

Sou professor e pai. São cerca de três o número de dezenas de anos que preenchem, de modo consecutivo, a minha vida profissional.

 

Exerci quase todas as funções que um professor pode exercer numa escola. Tenho a seguinte certeza: nas 12 cidades de Portugal onde fui professor, conheci encarregados de educação para todos os gostos e feitios. Guardo da relação com os encarregados de educação dos meus alunos, directos e indirectos, a melhor das recordações.

 

E para que isso fosse assim, houve sempre um princípio que todos respeitámos: o professor é o profissional, o que sabe do seu ofício e da organização do espaço onde o ensino acontece, e os encarregados de educação educam do melhor modo que são capazes.

 

Com o novo modelo de gestão escolar que se avizinha(va), começo a verificar sinais que indicam que algo de grave se poderá vir a passar: qualquer coisa que rapidamente se chamará de "estado de direito na rua". Assim mesmo.

 

Escolas invadidas por propósitos desqualificados, desqualificantes e efémeros. Não vale a pena estarmos com eufemismos: está criado na sociedade portuguesa um ambiente contrário ao exercício profissional dos professores. É evidente que continuarão a existir encarregados de educação bem formados, claro que sim. Mas o ambiente que se está gerar é propício aos maiores desmandos.

 

E mais: está em causa o exercício de autoridade por parte das escolas e dos professores. Se, como muitos consideram, é na família que se realiza grande parte do exercício afectivo das crianças e jovens, é na escola que o lado racional mais se afirma. A escola representa uma espaço que se situa entre o público e o privado. E só isto dava pano para mangas, porque as latitudes do afirmado não têm fronteiras tão definidas assim.

 

Esta ideia de trazer a família para o exercício do poder nas escolas pode ter efeitos desastrosos. A ser assim, as crianças e os jovens podem confundir os papéis e com isso alargarem aos dois espaços a componente menos racional e com isso verem diluir-se o exercício de autoridade necessário à formação da sua personalidade: a formação desta, com muitos também afirmam, apoia-se na sua própria negação.

 

Os mais avisados têm bem presente o que aconteceu com a hegemonia das "teses rogerianas" (Carl Rogers), onde o primado da relação empática entre professores e alunos se tornou um desígnio primeiro: entrava-se na sala de aula e não se sabia onde estava o professor 

 

Os professores necessitam de recuperar o espaço para ensinar. E que ninguém se iluda: se o caminho a percorrer tiver este sentido único, todos vão perder: os alunos, os seus encarregados de educação e os professores. E, como muitos afirmam, a médio prazo também a própria democracia.

 

 

 

(1ª edição em 13 de Julho de 2008)