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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

identidade misteriosa

09.07.09

 

 

 

 

Chegou-me há tempos por email um texto publicado no novo jornal "I". Aborda assuntos importantes e descreve com lucidez o estado de torpor que caracteriza a participação cívica na nossa sociedade. O texto parte da obra do filósofo José Gil, "Em busca da identidade - o desnorte" que estou desejoso de ler.

Diz assim (os bolds são meus):

 

"Vivemos em Democracia mas não vivemos a democracia no dia-a-dia, no exercício das nossas liberdades, na rejeição das pequenas tiranias que nos sufocam e paralisam. Aceitamos tudo porque só assim nos podemos queixar de tudo. São essas as nossas armas: a queixa, a inveja e a arte de viver nas fendas que é o chico-espertismo.

 

“Em Busca da Identidade – o desnorte”, o filósofo José Gil atribui à doença da identidade, ao excesso de identidade, a nossa paralisia social e cívica. “Somos portugueses antes de sermos homens” (p.10) e o peso dessa identidade afecta os percursos individuais e degrada o espaço público. O excesso de identidade conforta e imobiliza, somos o que somos e isso desculpa-nos, exime-nos do debate, protege-nos do conflito e empurra-nos para o queixume.

 

Transferindo “mecanismos psicanalíticos para o colectivo”, José Gil detecta traços neuróticos nos portugueses durante o Estado Novo como, e cita Ferenczi, “a atenuação do sentimento de responsabilidade”, “o adiamento de todas as acções” e “a crença na realização das ideias só porque são pensadas”. Estes traços permanecem no português do pós-25 de Abril como estratégia de sobrevivência, de adaptação a uma realidade que não era imediatamente dada, que tinha de ser construída. A liberdade colocou problemas de identidade, que levaram a que os portugueses se refugiassem em “antigos moldes que forneciam segurança e paz interior”.

 

Décadas de salazarismo não só afastaram os portugueses do espaço público de debate mas também criaram uma identidade avessa ao conflito e à discussão. A identidade do português não estava preparada para a realidade democrática, para o exercício da cidadania, para a expressão livre. Para José Gil, este conflito entre a identidade e a realidade explica “a nossa dificuldade actual em nos desviarmos de uma via única”. É a nostalgia da ordem salazarista, de um sossego existencial característico dos regimes ditatoriais, de uma paz claustrofóbica que vai respirando pelo tubo do “queixume delirante”.

 

José Gil desmonta a retórica da “via única” do primeiro-ministro José Sócrates, do discurso reformista que, quando embate com a realidade, prefere a cosmética à transformação dessa realidade. É a institucionalização do chico-espertismo. As tácticas de sobrevivência quotidiana que constam do manual do chico-esperto são, enfim, consagradas pelo próprio Estado.

 

A vontade de mudança permanece como “aspiração flutuante”, impossível de satisfazer, enquanto que, na prática, prevalecem truques como o estudo da OCDE que não era da OCDE. A propaganda da “via única” também procura contornar o conflito ou, quando ele é inegável, desinscrevê-lo do real.

 

A atitude do governo relativamente à contestação dos professores é disso o melhor exemplo. Reconhece-se o direito à manifestação mas retira-se-lhe qualquer significado político, como se 120.000 professores, zombies ou couves fossem a mesma não-coisa. “Assim começa a interiorização da obediência” no país do respeitinho, onde, como afirma José Gil, “estamos ainda longe de praticar a democracia”."

um muro para derrubar (já não chega saltar)

09.07.09

 

(encontrei esta imagem aqui)

 

 

Encontrei no blogue do Ramiro Marques, aqui, um texto da autoria do professor de Educação Visual, A. Quelhas, que inscreve mais um retrato do muro de informação para arquivo que asfixia o ensino, a vida escolar e os professores. O ministério da Educação e as suas estruturas regionais têm de ser completamente reformulados de modo a que se elimine de vez esta patologia de invenções técnico-pedagógicas que depois alastra à maioria das escolas. E por incrível que possa parecer, quanto mais asfixiante em burocracia é uma escola mais pontuada é a sua atmosfera organizativa nas auditorias externas da Inspecção-Geral da Educação.

 

Mas leia o texto que referi e que vou colocar na etiqueta do meu blogue dedicada aos tijolos do muro.

 

"Vou mostrar-vos a tralha burocrática implantada na minha escola e acumulada depois de 3 anos de sucessivas inspecções. Cada inspecção teve como consequência mais papeis.
Vou registar um exemplo: uma actividade realizada numa turma na disciplina de Educação Visual, articulada com a biblioteca, é necessário que seja referenciada nestes documentos:
- Plano Anual de Actividades;
- Planificação geral das actividades de Educação Visual no inicio do ano lectivo; 
- Planificação como unidade de trabalho em Educação Visual; 
- Planificação anual das unidades da disciplina, 
- Planificação da referida actividade;
- Relatório da actividade docente, 
- Referência em duas actas por turma (2º e 3º período);
- Projecto Curricular de Turma;
- Relatório do director de turma; 
- Referência em duas actas do grupo de Educação Visual;
- Planificação da Biblioteca referente às actividades de articulação com os departamentos;
- Relatório da Biblioteca sobre as actividades de articulação;
- Referência em duas actas da biblioteca;
- Referência em duas actas do Departamento de Expressões;
- Referência em dois relatórios da coordenadora da Biblioteca (finis de período);
- Relatório final do coordenador do Departamento de Expressões; 
- Ficha dos objectivos da docente (que não fiz mas o ME queria que eu fizesse);
- Ficha de auto-avaliação.
Ou seja para tudo estar correctamente referenciado, assinalado e descrito, totalizam-se por turma, vinte e três documentos. 
Agora imaginem que eu fiz 3 actividades nas minhas diversas turmas.
A. Quelhas"

 

 

 

da ignorância

09.07.09

 

 

(encontrei esta imagem aqui)

 

 

 

 

Nada perturba tanto a vida humana como a ignorância do bem e do mal.
(Cícero)


Não há nada mais terrível do que uma ignorância activa.
(Goethe)

 

Nada faz um homem ter tantas suspeitas como o facto de saber pouco.
(Francis Bacon)


Existem coisas que, para as saber, não basta tê-las aprendido.
(Sèneca)


A doença do ignorante é ignorar a sua própria ignorância.
(Amos Bronson Alcott, filósofo e professor norte-americano)


Não acredito na sabedoria colectiva da ignorância individual.
(T. Carlyle)


A inteligência da criança observa amando e não com indiferença - isso é o que faz ver o invisível.
(Maria Montessori, pedagoga italiana)


Tudo o que se ignora se despreza.
(António Machado)


A escuridão envolve-nos a todos, mas, enquanto o sábio tropeça numa parede, o ignorante permanece tranquilo no meio da sala.
(Anatole France)