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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

preconceitos

27.06.09, Paulo Prudêncio

 



Quem nunca teve preconceitos? Quando me apercebi em plena adolescência que tinha crescido numa sociedade que discriminava as pessoas pela cor da pele, tive um choque. É que a discriminação vivia silenciosa, é certo, mas habitava-me.

Quem nunca foi vítima de preconceitos? Já fui alvo de alguns. Tenho ideia disso. Lembro-me de no início da minha fase de adulto, e em que tive de vir estudar para Portugal, ter sido alvo de uma discriminação: ser "retornado". Tinha-me tornado numa espécie de refugiado político por ser discriminado na minha terra: Moçambique. Por motivos que, e escrevo-o com toda a sinceridade, nunca me preocuparam, passei a ser discriminado na terra de quase toda a minha família: Portugal.

Ora leia, meu caro leitor, o texto que se segue:

"Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancada.

Passado mais algum tempo, mais nenhum macaco subia a escada, apesar da tentação das bananas. Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que lhe bateram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não subia mais a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, na surra ao novato. Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o facto. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.

Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam a bater naquele que tentasse chegar às bananas.

Se fosse possível perguntar a algum deles por que batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: " Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui... "

 

Autor desconhecido.



"É MAIS FÁCIL DESINTEGRAR UM ÁTOMO

DO QUE UM PRECONCEITO"
Albert Einstein



Lembra-se dos dois exemplos que apresentei?
Pois é; contrariam a tese dos cientistas uma vez que os "substitutos" libertaram-se dos preconceitos que referi. Todavia, isto também pode servir para reforçar a importante afirmação: "só o que é refutável é que é verdadeiro".
 
 

vamos brincar às quotas?

27.06.09, Paulo Prudêncio

 

(encontrei esta imagem aqui)

 

Ainda me custa a digerir as recentes declarações da ainda ministra da Educação sobre o regime transitório da aplicação de quotas na avaliação dos professores. É o desnorte absoluto e um inqualificável desrespeito pelas escolas e pelos professores.

 

Noutro dia escrevi assim:

 

 

Este modelo começou por ser um monstro burocrático que concretizou um somatório de procedimentos inaplicáveis. Inscreveu depois duas ideias impensáveis: ser de generalização automática sem qualquer teste em amostra reduzida e ser aplicado aos professores todos nos anos todos.

 

Mas não satisfeitos com tanta desmesura, os responsáveis ainda conseguem apresentar uma solução informática para recolha e tratamento (?) de dados apenas no final do processo. Julgo que prevêem o início do lançamento da informação depois de algumas escolas terem encerrado o modelo em datas anteriores.

 

Nem vou argumentar no sentido da importância do período de análise que antecede a construção de um qualquer sistema de informação para obtenção de dados por web ou mesmo numa rede interna. Isso é tão antigo e óbvio que chega a ser demasiado redundante dar-lhe visibilidade na actualidade. Mas é isso que o ministério da Educação faz. E isso choca. Já cansa sublinhar tanta incompetência. Mas nunca é excessivo colocar a nu a imensa falta de respeito pelos princípios básicos de planeamento, pela profissionalidade dos professores e pelos critérios mínimos em que se deveria exercer a gestão pública em pleno século XXI.

 

E para ilustrar ainda melhor tudo o que acabei de escrever, importa salientar que a aplicação informática publicitada esta semana pelo ME inclui uma valência que simula a aplicação das quotas em cada um dos agrupamentos (ou amontoados, se se quiser ser rigoroso) de escolas ou nas escolas como unidades autónomas (expressão cada vez mais em desuso). Digam-me lá se isto não é brincar às escolas?(com todo o respeito pela ideia de brincar, claro; aliás, é uma coisa de que as nossas actuais crianças nem saudades vão chegar a ter).

 

grau menos dois

27.06.09, Paulo Prudêncio

 

 

(encontrei esta imagem aqui)

 

Quotas para classificações de mérito afinal são transitórias

 

"A ministra da Educação admite que as quotas para as classificações de mérito atribuídas a docentes, que a tutela sempre disse serem fundamentais para garantir a diferenciação entre professores, podem afinal deixar de existir a prazo.

Maria de Lurdes Rodrigues respondia a perguntas de jornalistas a propósito de um relatório da consultora Deloitte, onde se dá conta de que as quotas, para este efeito, são quase uma particularidade portuguesa. 
Também ao PÚBLICO, o Ministério da Educação (ME) precisou, através do gabinete de imprensa, que esta é uma disposição transitória(...)"

 

 

 

Realmente isto seria risível se não fosse trágico. Sobre a proposta do governo de acabar com as vagas de titular escrevi assim: "E a coisa começa a atingir mesmo o grau zero da discussão. A agressão descomunal aos professores portugueses começou exactamente pela revisão do estatuto da carreira (ECD) com a divisão da mesma em titulares e não titulares. Apesar dos iniciais argumentos terem tentado sustentar a ideia de que nem todos podem ser "generais", lá se acabou por admitir que o problema era financeiro. Depois veio o monstro burocrático da avaliação que se esboroou em menos de seis meses, apesar de se manter numa versão desfigurada e destinada ao fingimento e à farsa mas com efeitos nefastos na qualidade da atmosfera relacional das nossas escolas".

 

 

E não é que agora a famigerada e peregrina ideia das quotas, a tal que a central de gestão de recursos humanos da administração pública tanto advogava como panaceia, era afinal transitória. Isto é efectivamente uma coisa de loucos. Uma doença a que me atreveria a chamar de avaliatite incontinente. Só tem um remédio: suspenda-se. Já não é nem o grau zero nem o menos um da política: é o menos dois.

 

Outro blogues abordam o assunto:

 

o do Paulo Guinote, aqui.

o do Ramiro Marques, aqui.