Desta vez não é um relatório "OCDE.pt.bravo.Débora" mas um "OCDE/TALIS" que segundo os especialistas é mais rigoroso e garante um série de empregos de alto nível a investigadores que têm a missão de descobrir o que já se sabe há muito: quem está pelas escolas todos os dias conhece os efeitos de uma sociedade ausente em termos educativos e os resultados nefastos de turmas com mais de 25 alunos e que em muitos casos vão aos 40. Mas este relatório tem desde logo uma vantagem: não se centra nos países Ibéro-americanos mas engloba a maioria dos países europeus. E isso atrapalha o ministério da Educação e da propaganda português. Basta ver as intervenções do secretário da Educação ou ler os jornais online para chegar a essa mais do que conhecida constatação.
Faço um resumo do que fui encontrando nos jornais online ou nos blogues que me são referência.
Professores portugueses perdem muito tempo a manter disciplina na aula
"Os professores portugueses perdem muito tempo na sala de aula até conseguir o ambiente de aprendizagem ideal, confessam num inquérito feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), realizado no ano lectivo de 2007/2008. O estudo Criar Ambientes Eficazes de Ensino e Aprendizagem feito em 23 países através de questionários a docentes do 3.º ciclo do ensino básico foi divulgado ontem, no México.(...)" Fonte: jornal Público.
E com o advento da escola a tempo inteiro como única solução para a "guarda" e o "armazenamento" das crianças, passaremos a curto prazo de segundos classificados nesse parâmetro de avaliação para um destacado primeiro lugar; garantido.
"Os professores portugueses são os segundos da Europa que mais tempo passam a impor disciplina na sala de aula. De acordo com os dados do Inquérito Internacional de Ensino e Aprendizagem, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), em Portugal perde-se 16,1 por cento da aula a manter a ordem, o que corresponde a cerca de 15 minutos em cada bloco de 90 minutos de aula. Brasil (17,8%), Malásia (17,1) e Islândia (16,7) são os países nos quais esse valor é superior ao de Portugal. A média da OCDE é de 12,9 por cento.(...)". Fonte: jornal Correio da manhã.
Serão os primeiros se nada mudar; mas mudar mesmo. Não é fácil derrubar tanta gente instalada no monstro burocrático da capital com as conhecidas ramificações para o resto do país; são maus burocratas que asfixiam com as suas invenções o ensino, as escolas e os professores e que apoiaram o maior ataque à imagem pública dos professores portugueses que foi perpetrada pelo actual governo.
"Ao contrário das piruetas que o ME dá em cima deste relatório (não é de estranhar que nem coloquem link para o dito cujo), o que lá está escrito não seria de molde a entusiasmar nenhum apoiante das políticas educativas deste Governo e muito menos da estratégia de spin usada para colocar as suas evidências e conclusões como coincidentes com as posições do ME no diferendo com os professores. Repare-se na página 63: apesar de os professores portugueses serem os sétimos a gastar mais tempo em formação, são dos que mais se queixam da qualidade e adequação dessa formação. Nem de propósito, sabemos bem que o se tem passado nos últimos anos nesta matéria com a formação afunilada apenas em 3 ou 4 direcções, deixando a larga maioria dos docentes sem uma oferta adequada para a sua área científica." Fonte: blogue de Paulo Guinote.
E o que vem aí; mais um quadro comunitário de apoio com a indústria do eduquês e da certificação de burocratas a preparar-se e aos saltinhos.
Outra conclusão do Relatório OCDE/TALIS: os países com melhores resultados escolares não associam a avaliação de desempenho dos docentes a penalizações ou incentivos financeiros
"Noventa por cento dos professores da Noruega, Dinamarca, Bélgica e Irlanda (países muito bem classificados nos resultados do PISA) não esperam quaisquer tipos de incentivos de natureza financeira associados à avaliação de desempenho. Convém ler e reflectir sobre este resultado do Estudo da OCDE/TALIS (...)". Fonte: blogue de Ramiro Marques.
Obviamente e dada a especificidade da sua actividade. É por isso muito surpreendente, ou talvez não, a seguinte constatação: os sindicatos de professores em Portugal incluem nas suas propostas prémios pecuniários aos professores que mais se "destaquem" em cada ano.
Indecoroso. Página do ME reage desta maneira aos resultados medíocres sobre a indisciplina nas escolas portuguesas (Relatório OCDE/TALIS)
"(...)Compare o que está na página web do ME e o que efectivamente é dito no Relatório da OCDE/TALIS. A propaganda parece não ter limites ali para os lados do Largo do Rato. Não aprenderam nada com a derrota nas eleições europeias. Em quatro anos de governação nunca se ouviu a ministra da educação colocar-se do lado de um professor agredido. Limitou-se sempre a dizer que "são casos isolados". Assim, não é possível discutir o que quer que seja com os spin doctors e comissários do ME. Não existe racionalidade na forma como lêem a realidade". Fonte: blogue de Ramiro Marques.
É espantoso, realmente.