um não! muito branquinho
Confesso que vou votar nas próximas eleições para o parlamento europeu e que não vou votar em branco. Votei sempre e em todas as eleições e nunca votei em branco. Nesta altura ainda não advogo essa solução.
Passei pelos meu blogues de referência. Encontrei um texto brilhante redigido pelas teclas do escritor Daniel Abrunheiro, aqui.
Pode passar por lá, e olhe que vale muito a pena, ou pode ler o referido texto que colo de seguida.
"1. Um não! muito branquinho.
Corria o ano de 1957. Em Inglaterra, saía a lume um livro chamado “Declaration”. A obra era composta por oito depoimentos de outros tantos jovens autores britânicos então na berra. Querendo-o ou não, ficaram para a História como os “Angry Young Men”, qualquer coisa como os “Jovens Coléricos” (ou “Irados”, “Chateados”, “Danados” etc..)
Tenho andado a ler a tradução portuguesa desse volume, que foi feita por Artur Portela Filho e publicada pela Editorial Presença em 1963. Estou a gostar. Esta tarde, estava, para vos ser ainda mais franco que de costume, um bocado à rasca para fazer a crónica. Pensava nisto, pensava naquilo – e nada de jeito me corria, nem ocorria, nem escorria. Nada. Até que eis senão quando me deparo com uma passagem de John Wain (1925-1994) no tal livrinho. Esta aqui:
“Creio que temos de ter coragem suficiente para caminhar para a frente passo a passo; e isso significa ter a coragem de dizer Não! aos nossos imbecis, por muita influência e importância que tenham”.
Fiquei com o meu problema resolvido. É que domingo que vem, dia 7, parece que estão à nossa espera em Bruxelas. À nossa espera, não. À espera que paguemos o bilhete de avião, o almoço, o jantar, a estadia e o subsídio a uma série de figuras iguaizinhas umas às outras que andam todas ao privado igualzinho da mama pública.
Pus-me a pensar no que lia e a vida iluminou-se-me: crónica já tenho, domingo já sei o que vou fazer – vou dizer que “Sim!” a este “Não!”. É que, não sendo já “young”, ando “angry” como o raio.
Isto é: pela primeira vez na minha vida, vou votar em branco. Nunca, até hoje, falhei um acto eleitoral. Nunca deixei de exercer civicamente o meu direito de voto. Também não vai ser desta que me abstenho. Preciso da democracia. E se a democracia é ir a votos, eu vou a votos. Não quero cá ditaduras, nem brandas nem duras. Vou votar. Mas levo comigo a receita do John Wain (não confundir com Wayne, o cowboy republicano dos filmes do zamericanos): coragem suficiente para, em branco, dizer “Não!” aos “nossos imbecis”."