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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

187.638 maneiras de dizer coisas

02.06.09, Paulo Prudêncio

 

(encontrei esta imagem aqui)

 

 

 

O blogue Terrear tem uma entrada, aqui, que remete para a seguinte notícia do jornal Público:

 

Um em cada quatro alunos do básico foi sujeito a plano de recuperação

 

 

A entrada do blogue diz assim:

 

"Um em cada quatro alunos do ensino básico foi sujeito a um plano de recuperação no ano lectivo 2007-2008, tendo 74 por cento transitado, mais nove por cento do que no ano anterior, segundo dados do Ministério da Educação.
(...)
O relatório do Ministério da Educação, revela que foram elaborados, no ano lectivo de 2007-2008, 187.638 planos de recuperação, um número idêntico ao ano lectivo anterior."

Continua no Público.

Tudo o que gera mais aprendizagens é bem vindo. Tudo o que fuja à chapa cinco. Tudo o que fuja à lógica do acrescento. Tudo o que fuja à burocracia da papelada e do faz de conta.

 

Depois de ler a coisa toda, veja lá se faz a mesma leitura que eu faço: são os habituais números, é a má burocracia, é o fingimento e é o faz de conta. E com esta febre centralista carregada de invenções técnico-pedagógicas, descredibilizam-se os esforços dos que ajudam a combater o abandono escolar e também dos que tentam elevar o poder democrático das escolas.

despedidas?

02.06.09, Paulo Prudêncio

 

(encontrei esta imagem aqui)

 

 

Ministra da Educação no Parlamento em clima de crispação

 

"Foi em clima de grande crispação que a ministra da Educação esteve, esta terça-feira, no Parlamento. Os trabalhos foram mesmo interrompidos após uma troca de acusações entre Maria de Lurdes Rodrigues e a deputada do Bloco de Esquerda, Ana Drago.

Tudo indica que está será a última ida de Maria de Lurdes Rodrigues à Assembleia da República, pelo que os deputados  aproveitaram para fazer o balanço de quatro anos de mandato.

Crispada desde o início, a troca de palavras entre a oposição e Maria de Lurdes Rodrigues atingiu o auge quando, depois das críticas, a deputada do Bloco de Esquerda, Ana Drago, lançou a pergunta: «Eu gostaria de saber se a sra. Ministra estaria disposta a continuar como ministra da Educação se o sr. primeiro-ministro o convidasse?»

«É mesmo preciso aguardar aquilo a que se chama o processo eleitoral, os 'votozinhos' sra. deputada necessitam de ser contados», respondeu a titular da Pasta da Educação 

Indignada com o tom da ministra, Ana Drago batia na bancada, o que levou António José Seguro, presidente da comissão a interromper os trabalhos.

No regresso a ministra da Educação retomou o tom, insistindo que «até os portugueses  votarem nada está decidido, nem na minha cabeça nem na sua deve estar»." 

 

E até vale a pena passar pelo link indicado e ouvir o ficheiro de som que lá está a propósito da notícia. Dá ideia que a senhora ministra da Educação não se dá por vencida e que espera pelos "votinhos", como ela diz, para dizer de sua justiça. E que não restem dúvidas: as políticas da Educação estiveram quatro anos condicionadas aos ditos "votinhos". Arrasar uma classe profissional como a dos professores e abalar o poder democrático das escola dará assim tantos "votinhos"? Veremos.

 

 

mágoas da escola

02.06.09, Paulo Prudêncio

 

(encontrei esta imagem aqui)

 

Este livro de Daniel Pennac (Prémio Renaudot 2007) chegou-me pela mão de um amigo e ainda não tinha tido oportunidade de o ler. Fiz hoje a primeira abordagem a esta obra muito curiosa, uma vez que fala dos problemas da escola a partir do olhar de um mau aluno; o próprio autor do livro. Gostei do que li e parece-me uma visão destes assuntos que se recomenda vivamente a encarregados de educação e a professores.

 

"(...)Misturando recordações autobiográficas e reflexões acerca da pedagogia e das disfunções da instituição escolar, sobre a dor de ser um mau estudante e a sede de aprendizagem, sobre o sentimento de exclusão e o amor ao ensino, Daniel Pennac oferece-nos, com humor e ternura, uma brilhante e saborosa lição de inteligência.(...)"

 

 

dentro de caixas de vidro

02.06.09, Paulo Prudêncio

 

 

(encontrei esta imagem aqui)

 

 

 

Encontrei no blogue de João Bonifácio Serra, aqui, um texto belíssimo. Pode lê-lo no link que sugeri ou passar os olhos pelo que vou colar de seguida.

 

 

"Dentro de caixas de vidro

 

Agora tinha os pés completamente mortos, os joelhos funcionavam como dobradiças velhas, os rins só actuavam quando lhes apetecia, mas o coração persistia teimosamente em continuar a bater. O passado e o futuro eram a mesma coisa para ele, uma esquecida e outra não recordada; não tinha mais noção da morte do que um gato. Todos os anos, no Confederate Memorial Day, agarravam nele e levavam-no para o Capitol City Museum, onde era mostrado da uma às quatro num quarto bafiento cheio de fotografias velhas, uniformes velhos, artilharias velhas e documentos históricos. Tudo isto estava cuidadosamente guardado dentro de caixas de vidro, para que as crianças não lhes pusessem as mãos em cima. Ele envergava o uniforme de general oferecido na memorável estreia do filme em Atlanta e sentava-se, com um olhar carrancudo completamente fixo, dentro de uma área pequena cercada por cordas. Não havia nada que indicasse que estava vivo a nãos er um movimento ocasional dos olhos cinzentos já enevoados, mas uma vez, quando uma criança mais atrevida lhe tocou na espada, o seu braço saltou para a frente num instante e tirou a mãozinha dali com uma sapatada. Na Primavera, quando as casas antigas abriam para peregrinações, era convidado a vestir o uniforme e a sentar-se nalgum lugar mais conspícuo, para dar atmosfera à cena. Algumas dessas vezes limitava-se a sorrir raivosamente aos visitantes, mas noutras falava do evento e das raparigas bonitas.


Flannery O'Connor, "Um encontro tardio com o inimigo", in Um Bom Homem É Difícil de Encontrar. Lisboa, Cavalo de Ferro, 2006, p. 155-156."