Manifestantes diminuíram mas “revolta na sala de professores continua”
(...)“Um, dois, três, já cá estamos outra vez, se isto não mudar, nós havemos de voltar”. Nem com a palavra de ordem gritada ao altifalante a pequena Maria acorda. De todos os docentes a quem se pergunta, nenhum se estreou nesta manifestação, é a terceira vez que ali estão, conformados por desta vez terem menos companhia. No final de 2008 marcharam nas ruas 120 mil professores em protesto (no total, a classe terá cerca de 140 mil), em Março deste ano terão sido 100 mil. Nas contas da Plataforma Sindical terão sido 80 mil os que fizerem hoje o percurso do Marquês de Pombal à Avenida da Liberdade (Lisboa), a PSP fala de 50 a 55 mil.(...)"
Percebi dois estados de espírito nesta inesquecível manifestação: por um lado a ideia de adeus (por evidente saturação; assim do tipo: nem me interessa mais nada por agora; é a festa do adeus e ponto final) às pessoas que ocupam pastas executivas neste diabólico ministério da Educação, que têm o apoio do actual governo, do partido político que o suporta (misturada de cooperação estratégica, é bom que se sublinhe) e isso é independente do que quer que venha a acontecer. Mas por outro lado ficou bem vincada a vontade de continuar a luta, de nunca desistir e isso também será independente dos futuro que se avizinha em passos rápidos. Os professores não vão parar na defesa da escola pública, a democracia só tem de lhes agradecer o esforço, a persistência e incrível capacidade de remar contra tantas marés.
Sócrates acusa sindicatos de serem instrumentalizados e correias de transmissão de partidos
"O secretário-geral do PS afirmou hoje que há sindicatos que são instrumentalizados e que funcionam como correia de transmissão de partido, dizendo mesmo que há sindicalistas com maior interesse pelas eleições do que pelos seus sindicalizados.
José Sócrates falava no comício de Braga da campanha, referindo-se à manifestação de hoje convocada por sindicatos contra a política do Governo.
O líder socialista fez questão de frisar que as lutas sindicais são legítimas, mas deixou uma nota de condenação em relação ao protesto dos professores.(...)"
Este estafado argumento vale o que vale e só pode ter origem na percepção de quem ou não sabe o que fazer ou quer continuar o derrotado jogo de manipulação da opinião pública. Como se sabe, a história deste grande movimento de professores deve a sua espantosa mobilização aos desígnios da chamada "web 2.0" e aos fundamentais movimentos independentes de professores. Houve fases em que tudo isso assustou, e ainda amedronta, os sindicatos e os partidos políticos mais "mainstream" (os "ministros" das finanças e da administração interna dos sindicatos mais representativos sabem bem do que estou a escrever). Não vale a pena querer continuar a fazer revisionismos históricos. Quando falamos em sindicatos não nos podemos esquecer de nomear a plataforma sindical. São mais de uma dezena os sindicatos de professores com assento e alguns têm tantos sócios quanto dirigentes. Não tenho dúvidas ao afirmar que mais de uma dezena desses sindicatos são correias de transmissão do partido político que apoia o actual governo (mesmo alguns dos que ostentam um número apreciável de sócios). Fazem mais por isso do que pelos interesses do seus associados ou pelo poder democrático das escolas. E o senhor que ocupa as funções de primeiro-ministro sabe-o bem. É evidente que os professores conhecem quais são os sindicatos com quem podem contar e também percebem que algumas das fraquezas que estes evidenciam prendem-se, em parte, com o equilíbrio instável da plataforma. E também saberão reconhecer o verdadeiro papel dos diversos partidos políticos. Aquela ideia de que os eleitores portugueses são sábios não pode servir apenas quando os seus votos nos são favoráveis.
Manifestação: Fenprof estima 70 mil pessoas, PSP entre 50 e 55 mil
"A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) estimou hoje em 70 mil as pessoas que percorrem a Avenida da Liberdade na manifestação dos docentes convocada pelos sindicatos do sector, mas a PSP aponta para entre 50 e 55 mil.
Manuel Grilo, do secretariado da Fenprof, garantiu que 70 mil pessoas manifestam-se na Avenida da Liberdade, em Lisboa, percorrendo o trajecto Marquês de Pombal-Restauradores, em protesto contra a política educativa do Governo.(...)"
Não sei avaliar isso mas que foi um tarde impressionante em termos de adesão, disso não restam dúvidas.
80 mil professores manifestam-se em Lisboa
"Mário Nogueira, Secretário-Geral da FENPOF, discursou este sábado, em Lisboa, para cerca de 80 mil professores que chegaram de todo o País para participar na manifestação que ligou o Marquês de Pombal aos Restauradores. Na terceira acção nacional do sector desde 2006, o Porta-Voz da Plataforma Sindical dos Professores manifestou descontentamento com o “desrespeito” pelos docentes, e considerou a actual Legislatura “a mais difícil que há memória no Portugal democrático”.(...)"
Pelo que consegui perceber, o secretário-geral da Fenprof fez um bom discurso com momentos de verdadeira inspiração.
Professores vão protestar "as vezes que forem precisas"
"Na oitava manifestação de professores desde que Maria de Lurdes Rodrigues tomou posse como ministra da Educação, alguns dos 80 mil professores que hoje protestaram em Lisboa disseram à Lusa que voltariam a protestar "as vezes que fossem precisas".
Para Jorge Guimarães, docente de história numa escola secundária de Braga, esta foi a terceira manifestação de professores em que participou.
Usando uma t-shirt com a frase "deixem-nos ser professores", o docente lembrou toda a "injustiça" e "maldade" das políticas educativas do Governo liderado por José Sócrates.
"Hoje estou aqui pela terceira vez e estarei as vezes que forem precisas, de cada vez que o futuro dos meus filhos e dos meus alunos estiver em causa", explicou Jorge Guimarães.(...)"
Que ninguém duvide. Os professores não arredam pé. E sabemos de muitos que só fisicamente estiveram ausentes.
União dos professores merece ser avaliada
"A greve de quarta-feira fracassara e o momento escolhido para a manifestação era arriscado. O fim de ano lectivo e o período de exames eram, só por si, factores que podiam demover os professores de participarem no protesto. Depois, sendo sábado, implicava a concessão de um dia de descanso e, ainda por cima, com as temperaturas a convidarem muito para a praia, a esplanada, e muito pouco a uma marcha lenta sob um calor acima de 30 graus centígrados.
É por tudo isto que o número de manifestantes que ontem percorreram a Avenida da Liberdade - cerca de 70 mil - não só acaba por surpreender um pouco, como se trata de um sinal de união forte que o Governo deve saber interpretar.(...)"
Esta ideia do editorial do jornal DN de hoje é mesmo caricata. Vem com um brutal atraso. Como é isto possível num jornal com o historial que este tem?