O Ramiro Marques, com o seu blogue Profavaliação, aqui, tem tido um papel enorme e decisivo nesta justa luta dos professores. É impressionante o que ele tem feito e a história encarregar-se-á de o sublinhar.
Já nos encontrámos pessoalmente e vamos trocando umas ideias sobre a situação de quando em vez. O Ramiro Marques tem tido a cortesia de sublinhar o papel do "correntes". Agradeço-lhe. Desta vez publica uma entrevista que me fez, aqui.
Para as minhas memórias colo-a também de seguida.
ProfAvaliação - Estás comprometido com a luta dos professores. O teu espaço de intervenção passa sobretudo pelo blogue Correntes . Como fazes para resistir às pressões?
Paulo Prudêncio - As minhas circunstâncias pessoais e profissionais são o que são e o meu envolvimento na justa luta dos professores e em defesa da escola pública de qualidade para todos origina uma involuntária exposição a pressões de vários lados. Lido com isso sempre com alguma surpresa. Por vezes desgosta-me a certificação da latitude da natureza humana, no que aos valores se refere. Norteio-me sempre por um princípio definido por Peter Singer: ""A ética é prática, senão não é verdadeira ética. Se não for boa na prática, também não é boa na teoria". Ouço, reflicto e sigo o meu caminho.
ProfAvaliação - Para além do blogue Correntes, como se processa a tua participação na blogosfera e nas redes sociais?
Paulo Prudêncio - Tenho um mergulho já antigo em soluções informáticas. Dedico uma parte da minha vida profissional à construção de instrumentos que se destinam ao tratamento da informação através da utilização das tecnologias da informação e da comunicação. Por tudo isso, tento reduzir, e seleccionar, o tempo que dedico a redes sociais. É que tem de haver vida para além da rede.
ProfAvaliação - Como professor no Agrupamento de Sto Onofre, sentes na pele os efeitos negativos do decreto-lei 75/2008. Por que razão é tão importante para ti a defesa da gestão democrática?
Paulo Prudêncio - No meu ponto de vista, a constestação mais fundamentada que conheço inscreve uma asserção importante: durante anos associou-se a gestão unipessoal à eficácia e à eficiência considerando-se que tudo o que era colegial originava desperdício e lideranças fracas. Não concordo nada com isso e os exemplos de gestão que melhor conheço, e nas mais variadas actividades, demonstram o contrário. A legitimidade democrática, a divisão de responsabilidades, o ambiente organizacional cooperativo gera melhores desempenhos e proporciona lideranças muito fortes. Cria sistemas compostos por indivíduos autónomos e muito mais responsáveis. É um facto que os sistemas que prefiro dão muito mais trabalho às lideranças. Mas também nunca li, nem constatei, que a democracia não desse trabalho e que o belo não fosse difícil.
ProfAvaliação - Qual a leitura que fazes das acções de luta anunciadas pela Plataforma Sindical?
Paulo Prudêncio - Não sou muito dado ao pensamento sobre as melhores estratégias para as acções de luta que envolvem um grande número de pessoas. Normalmente apoio todas as acções bem fundamentadas e, em regra, participo. Depois, analiso os resultados e continuo a tentar desconstruir as políticas com que estou em desacordo.
ProfAvaliação - Como encaras o futuro da luta dos professores?
Paulo Prudêncio - A luta em defesa da escola pública é antiga e será eterna. Os últimos anos foram devastadores para os professores, para o ensino e para o poder da escola democrática. Vão ser necessários muitos anos para reerguer o que verdadeiramente deveria interessar: a pedagogia. Nesta justa luta, os professores somam algumas vitórias importantes mas também registam derrotas significativas. É hábito dizer-se que cada povo tem a democracia que merece e os professores não fogem a isso. No imediato, os resultados das eleições legislativas darão um forte sinal do que se vai passar a seguir.