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Estava por aqui a perscrutar os meus neurónios e senti uma ligeira dor proveniente, provavelmente, de algumas sinapses que se abespinham quando são tentadas a dar passagem às informações provenientes da escola onde me orgulho de ser professor.
É que o ridículo e o absurdo começam a fazer o seu inexorável percurso. Tive a primeira reunião de Conselho Pedagógico após a ocupação que todos conhecemos. Não tenho um número rigoroso que resulte da soma das reuniões desse tipo em que tive oportunidade de dirigir ou participar; mas não andará longe das duzentas. Mas com a atmosfera em que decorreu a da semana passada, não tenho memória.
Retive o modo silente como foram apresentadas as desculpas para o acto funesto que ocorreu. Mas os indesculpáveis argumentos foram apresentados após um incisivo questionário que versou alguns aspectos essenciais.
- Desde Novembro de 2008 que muito se discutiu a possibilidade de se efectivarem as ameaças relativas à destituição do Conselho Executivo eleito. Naturalmente, muitos dos supostos convidados para o acto de ocupação manifestaram-nos sempre dois argumentos para a sua peremptória não aceitação: a questão ética e a impreparação técnica para o caso em apreço.
- Na última mudança de órgão de gestão em Santo Onofre (e que ocorreu por auto-imperativo democrático), o processo de transmissão da filosofia e dos procedimentos de gestão daquele caso singular demorou uns aturados dois a três meses.
- Por outro lado, o percurso de Santo Onofre na justa luta dos professores foi sempre considerado muito informado e profissional e, como a história recente certifica, sufragado pelo próprio governo ao fazer as mudanças sucessivas e que são públicas.
O indesculpável rol argumentativo assentou no desconhecimento das várias situações. Houve um reconhecimento da impreparação ética e técnica para a situação singular que foi encontrada e aduziram-se detalhes de índole pessoal: a integral e solitária responsabilização pela acto de ocupação descrito e a necessidade do regresso, e após vários anos de exercício de funções fora da escola, a funções docentes ou equiparadas ser uma exigência de carreira que sufraga a contagem de tempo de serviço nas outras funções entretanto praticadas.
A reunião terminou de modo abrupto e até aí desconhecido. Ouviram-se vozes de alunos que traduziam um facto inédito mas que logo se confirmou: da varanda da sala onde a reunião decorria, podia assistir-se a uma manifestação de alunos realizada fora da escola e em defesa do Conselho Executivo destituído; era o que se lia nos cartazes.
Eram dezasseis horas. Peguei nas minhas coisas e dirigi-me ao bar da escola para o lanche de circunstância. Às dezasseis e trinta fui dar a minha aula de noventa minutos. Estavam os alunos todos e foram, como habitualmente, pontuais (apesar da escola funcionar desde o milénio passado sem as tradicionais campainhas mas com um evidente acréscimo dos níveis de responsabilidade e de pontualidade).
Os primeiros cinco minutos serviram para os naturais esclarecimentos e para a transmissão de sinais de tranquilidade e de direitos e deveres de cidadania. A aula decorreu bem, apesar de, aqui e acolá, se ouvirem ecos da manifestação que se prolongava. No final da aula, às dezoito horas, passei pela sala dos professores: vi faces aturdidas e tristes e constantes acenares de espanto e de negação por parte dos meus colegas. O absurdo de Santo Onofre instalava-se e começava a dar os primeiros sinais de desorientação.