jogos de sombras
Portugal entrou no estado de "campanhas eleitorais diversas". É uma fase em que tudo pode valer para a exibição dos bons serviços prestados aos partidos políticos ou às administrações centrais e locais dos mais variados sectores.
Figurantes, moços, e moças, de recados, pesquisadores de vontades alheias e "perigosas", convidados virtuais e convites contaminados, enfim, um súmula do pior que os homens conseguem manifestar no universo da política real.
Tenho passado os últimos dias a assistir a esse tipo de espectáculo. Por força das minhas actividades profissionais e pelo envolvimento na luta dos professores, não consigo evitar o contacto com o universo em que tudo isso se joga: um mundo feito de jogos de sombras.
As últimas semanas foram mais ou menos assim. Valeu a aula do fim da tarde que não correu nada mal. Mas para isso, foi preciso começar por acalmar e tranquilizar os alunos tal era o acervo das dúvidas e das inquietações.
Estava a pensar nestas coisas, e a desabafar aqui por casa, e fui dar uma volta aos blogues por onde gosto de passar. Num deles, aqui, onde raramente se escreve sobre Educação mas que tem excelentes escolhas, encontrei um belo texto que resolvi colar.
Ora leia:
"De momento em momento
Porquê este caminho em vez daquele? Onde conduz, para nos solicitar tão fortemente? Que árvores e que amigos estão vivos por detrás do horizonte destas pedras, no longínquo milagre do calor? Viemos até aqui, porque ali onde estávamos já não era possível. Torturavam-nos e iam escravizar-nos. O mundo, hoje em dia, é hostil aos Transparentes. Mais uma vez foi preciso partir... E este caminho, que parecia um esqueleto comprido, conduziu-nos a um país que só tinha o seu fôlego para escalar o futuro. Como mostrar, sem atraiçoá-lo, as coisas simples desenhadas entre o crepúsculo e o céu? Por virtude da vida obstinada, na fivela do Tempo artista, entre a morte e a beleza."
1949
René Char, Este Fanático das Núvens (Antologia Para uma Leitura).
Selecção e organização de Marie-Claude Char e Y. K. Centeno.
Lisboa, Cotovia, 1995.