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O Paulo Guinote, autor do excelente blogue "A educação do meu umbigo", deu uma entrevista ao jornal Diário de Notícias, publicada na rubrica "alegações finais", que merece ser lida na integra (mas principalmente o último parágrafo).
Ora leia:
1. O que leva os professores a recorrerem à via judicial para tentar travar a avaliação? É o reconhecimento de que todos os outros instrumentos, como a greve ou as manifestações, perderam a força?
É o reconhecimento por parte de um grupo de docentes que as vias tradicionais de contestação no campo político se estão a esgotar e que é necessário optar novas vias para demonstrar que a nossa razão tem bases legais e que é o Ministério que desrespeita a Lei de Bases em vigor.
2. Não poderá este ser um processo longo demais?
Isso não implica que não se recorra à Justiça para demonstrar a nossa razão. Repare-se que esta equipa ministerial já foi várias vezes desautorizada pelos tribunais em situações como a repetição dos exames no Ensino Secundário, o pagamento de aulas de substituição e pelo Tribunal Constitucional quanto às normas do concurso para acesso a professor-titular.
3. Acha que ainda há alguma forma de fazer o Ministério da Educação recuar nesta matéria? Ou é uma causa perdida?
Julgo que a teimosia pessoal substituiu a chamada coragem política há muito tempo no Ministério da Educação, com o apoio explícito do Primeiro-Ministro. Quando o orgulho pessoal e o ressentimento substituem o sentido de Estado começamos a lidar com fenómenos de irracionalidade e é muito difícil, em tais circunstâncias, esperar decisões sensatas.
4. Os sindicatos ainda têm margem para negociar ou já não podem fazer mais nada?
Os processos negociais foram quase sempre meras encenações coreográficas por parte do Ministério. Basta recordar o desfecho da vigília feita à porta da 5 de Outubro em Dezembro. O único momento em que existiu negociação real foi sob o efeito do choque da manifestação de 8 de Março e culminou no Memorando do Entendimento que hoje é encarado como um acordo tácito para acalmar os docentes que estavam nas ruas.
5. O que explica, na sua opinião, o surgimento de tantos movimentos independentes de professores?
A necessidade de refundar o associativismo docente a partir da base por parte de grupos que não se sentem representados pelas organizações sindicais existentes.
6. Como deve, na sua opinião, resistir um professor que seja contra este modelo? Não entregar os objectivos individuais, assinando moções a exigir a suspensão?
Cada docente está, neste momento, confrontado com a decisão individual de participar ou não de forma activa num processo de avaliação de que a generalidade afirma discordar. Elaborar e assinar moções é inútil se isso não se concretizar no acto individual de não entregar os Objectivos Individuais.
7. Considera que a luta contra o modelo de avaliação e o ECD está a esmorecer?
Considero que as “lutas” têm diversas fases e momentos-fortes. Acho que existe algum esgotamento da fórmula desenvolvida desde final de 2007, mas que existe margem para outras estratégias e formas de resistência.
8. O que, na sua opinião, pode justificar esta insistência do Ministério da Educação em levar para a frente um processo contra quase uma classe profissional inteira?
A crença em que este conflito terá um balanço eleitoral positivo, apostando em algumas das piores características humanas: a inveja e o despeito por parte de quea ainda acha que os professores são “privilegiados”.
9. O seu blogue é um dos mais visitados e o que maior leitura obteve entre os professores. Porque é a blogosfera uma arma tão poderosa de informação e mobilização?
Porque funciona livremente em rede, sem hierarquias formais, permitindo a rápida troca de informações e a divulgação de opiniões sem a necessidade de cedências a critérios editoriais tradicionais.