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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

fim das eleições directas nas escolas?

22.02.09, Paulo Prudêncio


 

 

A mais recente mudança na legislação que tutela o modelo de gestão nas escolas portuguesas suscita-me a maior perplexidade. Por sair da pena de um governo do partido socialista, desde logo, e por consagrar um conjunto de ideias que revelam um profundo desconhecimento sobre lideranças em ambiente escolar.

Poderia socorrer-me dos inúmeros estudos internacionais, a exemplo do que pode encontrar-se por aqui, mas vou tentar ser sucinto e objectivo.

Nesta discussão, e ainda como ponto prévio, deve referir-se os estudos realizados dentro do próprio Ministério da Educação que apresentam conclusões muito positivas em relação ao actual modelo de gestão escolar.

Mudar o quê e porquê?

Desde 1992, em algumas escolas a nível experimental, e desde 1998 em todas elas, que existiu um nível de decisão consagrado como o "órgão máximo" no âmbito da organização dos estabelecimentos de ensino. Teve duas nomenclaturas: Conselho de Escola em 1992 e Assembleia de Escola desde 1998; era composto pelos diversos actores da comunidade educativa. Uma coisa descomunal, o que desde logo se tornou evidente.

 
Há algum tempo que é consensual a necessidade óbvia - por demasiado experimentada e decorrente da impossibilidade de uma grande parte dos seus membros viverem os problemas do quotidiano da instituição - da Assembleia de Escola desempenhar um importante papel consultivo e nunca deliberativo. A maioria dos seus membros advoga este tipo de conclusão, estou seguro disso: sabem da inoperacionalidade da função de deliberar. Todos têm feito o mais possível de conta, que é, na maioria das vezes, o modo mais inteligente de conviver com as ideias absurdas dos nossos inexperientes governantes.

Por outro lado e noutra dimensão do problema, o órgão executivo das escolas poderia obter dois tipos de composição: em 1992 institui-se a ideia do director executivo com dois adjuntos e dois assessores e a partir de 1998 as escolas escolheram entre esse tipo de composição unipessoal ou optaram por um Conselho Executivo composto por um presidente, dois vice-presidentes e dois assessores: a opção que se generalizou teve um sentido: um órgão colegial.

Importa referir, que o modelo unipessoal utilizado de 1992 a 1998 não requeria um processo eleitoral para a escolha do director executivo mas recorria a um concurso realizado no âmbito dos referidos Conselhos de Escola. Verificou-se, logo aí, a gritante fragilidade democrática da solução.

A não eleição directa do órgão de gestão e direcção escolar incorre em duas fraquezas graves e preocupantes: selecção do director executivo com base em dados de certificação - é só antecipar um bocado e pensar (serve, como exemplo, o concurso para professores titulares), no processo de selecção e hierarquização de critérios - e ausência de legitimidade democrática: na prática, deixa de ser escolhido por todos para passar a ser escolhido por dois ou três. Isso faz toda a diferença.

Se como já foi referido, o "órgão máximo" (um verdadeiro eufemismo, repito) carece de conhecimento para o exercício deliberativo que a lei lhe impõe, passa, com o nome de Conselho Geral, a ter funções ainda mais abrangentes: escolher por concurso o director executivo. Escolherá com base nos necessários critérios de certificação mas nunca conseguirá equacionar as dimensões de qualificação para o exercício de tão exigente função.

A qualificação para o exercício de direcção escolar implica que inscrevam-se na personalidade do indivíduo as conhecidas faculdades humanas e pessoais imprescindíveis à liderança: é mesmo decisivo.

Sabe-se que quanto mais micro é o sistema mais evidentes se tornam as qualificações. Se até aqui, os órgãos de gestão eram eleitos directamente por toda a comunidade escolar em assembleias eleitorais constituídas por docentes, não docentes e encarregados de educação, o que favorecia também a fundamental legitimidade democrática dos eleitos, a quem é que interessa este autêntico retrocesso?

Já conhecemos vários exemplos que ilustram o que tenho vindo a referir. Ainda recentemente, e com o processo vertiginoso de agrupamento compulsivo de escolas, os órgãos de gestão ficaram com os mandatos interrompidos todos os anos lectivos. Procederam as Direcções Regionais de Educação a concursos para presidentes de comissões provisórias. Basta estudar os processos para perceber o que está em causa e o que pode vir a acontecer. Mas nem aprendemos, nem levamos muito a sério a função de dirigir o que quer que seja e mais do que isso: somos uma sociedade desconfiada: neste caso, temos uns governantes que, por método e sistema, desconfiam dos professores. E mais ainda: mudamos incessantemente e com muito atrevimento: isso deriva de um ideia que cada vez mais parece-me acertada: os portugueses não apreciam um valor muito precioso: a organização.

Sabemos que alguns dos argumentos que sustentam a "perversidade" dos actos eleitorais nas escolas assentam na ideia do eleito pautar o seu exercício pela defesa dos interesses dos seus eleitores: espantoso. A ser assim, acabava-se com todas as assembleias eleitorais do país. O primeiro-ministro passava a ser escolhido em Bruxelas - onde se encontra gente mais competente do que os interesseiros eleitores portugueses - e os presidentes de Câmara no Terreiro do Paço - onde se instalam portugueses bem mais conhecedores das verdadeiras necessidades do país -. É bom recordar o seguinte: os partidos políticos portugueses, com a ideia da aumentar a sua legitimação democrática, instituiram o método de eleições directas para a escolha de quem governa os seus interesses.

Sabemos que há pessoas que lideram bem com qualquer modelo: têm é que subverter, invariavelmente, o espírito da lei.

Também sabemos que existem pessoas muito pouco qualificadas que são eleitas para a direcção das escolas. E são eleitas em mandatos sucessivos - já agora, esta lei tem um aspecto positivo: determina a limitação de mandatos, julgo eu, um aspecto que até aqui era um imperativo democrático que ficava, pasme-se, ao critério do eleito -. Por eleição directa podem ser substituídas. Com este tipo de concurso é muito mais difícil, apesar de, agora, como anteriormente, preverem-se mecanismos de destituição de funções antes do fim dos mandatos. Mas, e nestes sistemas megalómanos em que quase todos fazem de conta, isso não passa de mais um exercício de retórica.

O que está a passar-se abre um gravíssimo precedente. Em poucos anos se concluirá, novamente, da inoperacionalidade dos Conselhos Gerais para o exercício das funções que lhe estão cometidas. Mas desta vez será ainda mais evidente: a ideia de fazer de conta é incompatível quando substitui a eleição directa. Nessa altura, voltar-se-á a mudar e temo que ainda para pior: condicionar o nobre exercício de gestão escolar a interesses partidários, económicos ou de ocasião.

Passo a passo e sem aprendermos com a história, voltaremos a viver momentos de verdadeira convulsão social. Em  vez de aprofundarmos a democracia recorremos a soluções gastas e do passado.

E mais uma vez afastamos os nossos jovens da possibilidade de renovar as ideias e os métodos nas lideranças nas nossas escolas.

Têm a palavra os professores.



______


Escrevia, algures em 1998, uns textos para uma revista sobre educação e o coordenador pediu-me que inscrevesse algumas ideias sobre reformas. Lembrei-me dos remédios. Fui ler a literatura do “Benuron” - medicamento para todas as dores e para todas as maleitas gripais e constipais - peguei no seu modelo organizativo e fui andando. Foi uma noite bem passada. Sobre autonomia e gestão das escolas ficou assim:

Registo da patente: equipa do Ministério da Educação conduzida pela Ministra Manuela Ferreira Leite.

Composição: sistema complexo de órgãos de decisão.

Indicações terapêuticas: estabelece regimes democráticos eficientes e plenamente participados, em que a repetição das agendas das reuniões consagra o seguinte princípio pedagógico: repetir para aprender; respeitando a posologia e tomado de forma consistente, transforma qualquer escola num espaço organizativo verdadeiramente português: – muitos patamares de decisão com órgãos e mais órgãos convenientemente dispersos;

Contra-indicações: em estabelecimentos de ensino com menos de 1000 docentes, 300 não docentes e 10000 alunos, tende a tornar-se num processo em que as mesmas pessoas encontram-se vezes sem conta para discutir os mesmos assuntos.

Precauções especiais de utilização: sempre que se verifiquem as contra-indicações indicadas, todos devem fazer, o mais possível, de conta.

Prazo de validade: depende da capacidade de resistência às doenças.

______



(Reedição.
1ª edição em 12 de Setembro de 2008.)

primeira

21.02.09, Paulo Prudêncio

 

 

 

Ao fim de quase cinco anos de existência, decide-me a fazer uma primeira lista de blogues. Aproveitei também para iniciar um processo de partilha de outros links que me interessam e que podem ser úteis para quem visita o blogue.

 

Não vou listar todos os blogues e sites por onde passo. Apenas listei os blogues que os meus critérios exigiram. Pode encontrar as referidas listas na coluna do lado esquerdo do blogue.

e a barbárie aqui tão perto...

20.02.09, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

Já por aqui dei conta da luta titânica que se tem de travar para defender os interesses de uma escola da ditadura das leis do poder central e das suas ramificações.

 

Conheço imensas estórias hilariantes.

 

Nos últimos dias têm sido noticiados, por todo o lado, os contornos indizíveis do inenarrável caso do corso de carnaval dos alunos mais pequenos de uma escola de Paredes de Coura. Uns, dá ideia que querem determinar o que desconhecem; os outros, alteram uma decisão bem ponderada, espera-se, para respeitar a descomunalidade de que discordam. Uma coisa completamente desclassificada.

 

Li com perplexidade (embora esta direcção regional, e nos últimos 4 anos, já tenha mostrado à saciedade o seu modo bárbaro e desqualificado de exercer a sua já inexistente autoridade) o ofício enviado à escola pela directora Regional de Educação do Norte.

 

Confesso que não sou apreciador do carnaval. Não tenho, por isso, matéria alusiva aos festejos para publicar. Mas para não deixar o blogue em branco por estes dias, resolvi gastar uns minutos a conceber esta entrada. Escolhi uma pequena parte do referido texto. 

 

Leia e tire as suas conclusões (se conseguir perceber alguma coisa do texto, é claro).

 

 

"(...)Sendo certo que muitos professores não se aceitam, o uso dos alunos nesta atitude inaceitável, acompanharemos de muito perto a defesa do bom nome da escola, dos professores e de toda uma população que muito tem orgulhado o nosso país pela valorização que à escola tem dado. E na salvaguarda primeira das obrigações da escola - cumprir a sua missão de processos de socialização e de aprendizagem para os alunos, razão central porque definiu as actividades de Carnaval nos documentos de acção educativa.(...)"

 

coisas verdadeiramente importantes

20.02.09, Paulo Prudêncio

 

 

Apesar da situação gravíssima que assola o país e uma grande parte do mundo (tenho ideia que há uma parte do planeta onde as oscilações das bolsas são apenas coisas de gente que finge estar muito atarefada e que se deixou aprisionar - alguns até o pediram e depois, coitados, beneficiaram com essa condição dificílima de suportar - por uma espécie de máfia internacional) há outros assuntos que merecem a nossa atenção.

 

Vou publicar uma alteração a uma das notícias que fiz questão de sublinhar noutra entrada e que se relacionava com a minha incredulidade; pensei, e continuo a fazê-lo, que tal só se justificava por estarmos a entrar no período do carnaval.

 

Ora leia.

 

 

Câmara fez dois requerimentos
Torres Vedras: Ministério Público recua e autoriza sátira ao Magalhães no Carnaval 
20.02.2009 - 15h45 Romana Borja-Santos
A sátira ao computador Magalhães, que tinha sido ontem censurada por conter “conteúdo pornográfico”, afinal vai estar presente do “Monumento” do Carnaval de Torres Vedras. O autarca Carlos Miguel pediu uma autorização para colocar uma nova imagem, igual à original, no local onde agora se lê “Conteúdo removido/censurado por ordem da senhora procuradora-adjunta da Primeira Delegação do Tribunal de Torres Vedras”. A procuradora-adjunta Cristina Anjos reconsiderou e deu luz verde.

Além de poder colocar no portátil a imagem original, a Câmara de Torres Vedras recebeu também uma resposta positiva a um outro requerimento. O socialista Carlos Miguel pediu que lhe fosse devolvido o autocolante que ontem removeu e que entregou no tribunal, por ordem dos magistrados. O objectivo é que este integre “o espólio do futuro Museu do Carnaval”. Contudo, esta autorização tem uma contrapartida: o edil terá de entregar no tribunal o autocolante da censura.(...)

outras lutas

20.02.09, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

 

 

Discute-se a possibilidade do casamento civil dos homossexuais. Da minha declaração de interesses, sou heterossexual, nada de substancial se deve retirar para o caso. Mas afirmo-o pela mais banal das razões: gostava de viver numa sociedade em que todos o pudessem fazer com a mesma naturalidade como eu o faço. E não tem sido assim. E é trágico que isso se continue a passar.

 

Tenho ideia que em primeiro lugar é uma questão de dignidade de cada um dos seres humanos: creio que a orientação sexual é um detalhe identitário.

 

Mas o acesso ao casamento civil por parte dos homossexuais é também uma questão de liberdade e de igualdade. O direito de constituir família com quem se entende não é, de modo nenhum, um dado desprezível. Bem pelo contrário. E se estes argumentos já eram suficientes para declarar o meu sim, convicto e inabalável à decisão, há ainda outras questões que não esqueço: lidei de perto, e ao longo da minha vida profissional, com jovens alunos que indicavam uma orientação homossexual; e assisti a fenómenos de brutal exclusão. A ideia do casamento civil de todos os que o queiram fazer ajudará também, e muito, na ultrapassagem desses colossais constrangimentos à sã convivência social. Não tenho dúvidas disso.

 

A exemplo do fim da escravatura ou do racismo, é tempo de pormos termo a mais uma etapa decisiva na luta pelos direitos cívicos.

ensandecemos ou é apenas carnaval?

19.02.09, Paulo Prudêncio

 

 

Pois é: a minha interrogação é simples: ensandecemos ou é apenas carnaval?

 

Ora leia as duas notícias que encontrei na Lusa e no jornal Público (abreviei-as para não nos maçarmos muito) e tire as suas conclusões. Ambas são relativas ao carnaval que se avizinha.

 

 

A primeira:

 

 

Paredes de Coura: pais contra professores por causa de cancelamento de desfile de Carnaval "ordenado" pela DREN 
18.02.2009 - 15h38 Lusa
A Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) determinou hoje a realização do desfile de Carnaval dos alunos do Agrupamento de Escolas de Paredes de Coura embora os professores ainda não tenham decidido se acatarão a ordem da DREN não obstante a critica dos pais dos alunos a esta posição dos docentes.

Os pais dos 900 alunos que frequentam o agrupamento de Paredes de Coura criticam o cancelamento das actividades, acusando os professores de estarem a usar os estudantes como "armas de arremesso" contra o Ministério da Educação, na sua luta contra o sistema de avaliação do desempenho. 

"Entendemos e respeitamos o direito à greve de professores e educadores, mas já não achamos legítimo nem correcto que a retaliação à imposição ministerial de um sistema de avaliação acabe por 'sobrar' para os alunos, que não têm culpa de nada", disse à Lusa o porta-voz dos pais. 

Eduardo Bastos lembrou aos professores que os alunos serão os "únicos prejudicados" com esta forma de protesto dos professores e acrescentou que se vão reunir hoje à noite para decidirem o que fazer para "convencer" os professores a voltarem atrás naquela decisão. 

"Os pais é que decidirão o que se vai fazer a seguir, mas há já quem fale em fechar a escola", acrescentou.

Directora está "proibida de falar"
Contactada pela Lusa, a directora daquele agrupamento, Cecília Terreleira, escusou-se a fazer qualquer declaração, alegadamente por ter sido "proibida de falar" pela responsável da Equipa de Apoio às Escolas de Viana do Castelo(...)
A segunda: 
Autarquia recebeu fax ao início da tarde
Ministério Público proíbe sátira ao Magalhães no Carnaval de Torres Vedras 
19.02.2009 - 15h57 Romana Borja-Santos
O presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, Carlos Miguel, foi surpreendido ao início da tarde com um fax do Ministério Público no qual era dado um prazo à autarquia para retirar o conteúdo sobre o computador Magalhães, que fazia parte do "Monumento", e onde apareciam mulheres nuas no ecrã do portátil. “Achamos que pela primeira vez após o 25 de Abril temos um acto de censura aos conteúdos do Carnaval de Torres”, lamentou o responsável, em declarações à Antena 1.

“Fomos surpreendidos agora cerca da uma hora com um fax do Ministério Público assinado pela senhora delegada do 1º juízo, a qual nos dá um prazo até às 15h30 para retirar o conteúdo do computador Magalhães”, explicou o autarca, citado pela mesma fonte. Carlos Miguel acrescentou que “o que existe é uma sátira ao computador Magalhães com um autocolante que se pressupõe que seja o ecrã” do portátil e onde é visível uma pesquisa no Google com a palavra-chave "mulheres". Por isso, não entende o pedido para o retirarem do Carnaval e entregaram mais tarde ao tribunal judicial o autocolante.(...)
 
 

soluções

19.02.09, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

No excelente blogue do Francisco Santos, aqui, encontrei uma entrada que deve ser lida com toda a atenção. Publico-a com a sua autorização.

 

 

Ontem, tive a felicidade e o prazer de assistir a uma magnífica conferência do Professor Philippe Meirieu, na FPCE-UL.

A propósito do tema «Mutações sociais, pedagogia e trabalho dos professores», Meirieu levou a assistência a reflectir sobre a modernidade e a crise da escola, olhando para essa crise mais do que como uma ameaça, como uma verdadeira oportunidade para a pedagogia e para o trabalho dos pedagogos.

Começou por relembrar que foi Hannah Arendt quem primeiro se referiu à crise da educação, analisando-a como uma crise das teocracias imposta pela emergência das democracias.

Ao longo de quase três horas Meirieu explicou de que forma os governos e as autoridades escolares têm procurado responder a essa crise, recorrendo à burocracia como uma nova teocracia e apontou as alternativas que, do seu ponto de vista, se devem basear na responsabilidade e na liberdade.

Para ele existem sempre outras alternativas e a pedagogia desempenha aí um papel fundamental, embora o seu caminho seja extremamente difícil. Até porque, para Meirieu a definição de pedagogia assenta em duas premissas absolutamente contraditórias:

  1. Toda as pessoas podem e devem ser educadas e crescer;
  2. Ninguém pode ser obrigado a aprender e a crescer contra sua vontade.

É exactamente na tensão entre estas duas premissas contraditórias que o trabalho do professor tem que se desenvolver, não como um dom ou como uma ciência, mas como uma espécie de artesanato, porque o trabalho docente se faz, à semelhança do trabalho do artesão, com os materiais que tem à sua frente, usando os instrumentos a que pode recorrer, fazendo face à realidade e não no ambiente asséptico da especulação científica.

Philippe Meirieu tem enorme produção científica publicada, muita da qual está disponível on-line, na sua página pessoal.

Sobre o tema das alternativas ao pensamento único, que ele classifica como uma espécie de liberalismo autoritário, propõe a refundação do serviço público de educação, num texto de que deixo apenas este pequeno excerto:

«Ainsi, ce n’est pas un hasard si le gouvernement, aujourd’hui, refuse les véritables concertations, s’enferme dans des négociations bilatérales sur ses propres projets sans jamais présenter plusieurs hypothèses et travailler à les affiner. En « réformant » à la hussarde, il focalise l’attention sur ses seules propositions et paralyse toute velléité de créativité collective. Il suscite les réactions de ceux et celles qui se sentent agressés et peut alors jeter en pâture à l’opinion leur « corporatisme ». Au total, il contraint ses adversaires à faire son jeu en protestant contre ses actes. Il peut même ainsi… les rendre fous !» 

 

novo modelo de gestão - mais dez razões para dizer não

19.02.09, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

Encontrei no excelente blogue do Ramiro Marques, aqui, uma entrada muito interessante escrita por Miguel Loureiro. Relaciona-se com com o novo modelo de gestão escolar que por aí pulula. Publico-o com a autorização do autor do blogue.

 

 

 

 

Dez razões para dizer não aos directores:

 

1. O facto de o Director poder ser um professor não Titular, sem as vivências e o conhecimento de campo, que o "espírito" do Professor Titular subentendia (isto é meritocracia pura!).



2. O facto de o Director nomear os Coordenadores de Departamento (que têm que ser Professores Titulares e estarem seguramente mais preparados que o "chefe"), que integram obrigatoriamente o Conselho Pedagógico e em que o menos "competente" é quem manda, com poderes para destituir quem ele nomeou.


3. O facto de haver uma "séria" e institucional interferência de pais e EE, autarcas e empresários (ou "notáveis") na definição da "política educativa" e dos PEEs e Currículo das escolas, inseridos no órgão "MÁXIMO" (Conselho Geral), que é composto maioritariamente por não docentes e que tem a mesma operacionalidade das Assembleias de Escola, que funcionará, como antes, por voluntarismo e sobretudo com desmotivados na participação (com faltas de quorum consecutivas), sem competências pedagógicas ou didáticas, para não falar de EDUCAÇÃO.


4. O facto de abrir caminho a uma visão mais municipalizada das escolas e a eventuais tentativas de municipalização (partidarização) do Director.


5. O facto de dar uma machadada em todos os órgãos democraticamente eleitos e representativos dos pares, pelo reconhecimento das suas competências, profissionais e pessoais.


6. A dependência funcional e política dos Directores em pirâmide, começando pelo CG, passando pelas DREs e acabando no ME e para baixo, dependência pura, dos Coordenadores ao Director, que exercerão as suas funções por imposição.


7. O processo da escolha do Director, que nem é concurso, nem eleição, nem nada que se entenda, por 4 anos, mais 4 anos por recondução pelo CG, mais 4 anos da mesma forma que a primeira, mais 4 anos, novamente por recondução. No total 16 anos (como na antiga URSS).


8. Representação minoritária dos docentes no CG, sem que estejam previstas quaisquer reduções, nem para o Presidente se for professor e que é o representante do órgão máximo da escola. 


9. Os representantes dos docentes e não docentes, são eleitos (único acto democrático, de 8 em 8 anos), enquanto todos os outros são por nomeação.


10.O Director pode ser demitido por todos os de cima da pirâmide, mas pode demitir para baixo. 

 

cosmética

19.02.09, Paulo Prudêncio

 

 

 

As negociações entre o ministério da Educação e os sindicatos de professores continuam. A última novidade prende-se com a abolição das vagas no acesso à carreira de professor titular.

 

Ora lei a notícia da responsabilidade da agência Lusa. Da prova de acesso nada se fala. E o tempo vai passando e os professores continuam sem progredir e com a carreira dividida com base em critérios que humilharam grandes profissionais.

 


O Ministério da Educação manifestou-se esta quarta-feira disponível para abolir a existência de vagas no acesso à categoria de professor titular, a segunda e mais elevada da carreira docente, anunciaram sindicatos de professores.

Em declarações à Agência Lusa, a presidente da Associação Sindical de Professores Licenciados (ASPL), Fátima Ferreira, afirmou que o ministério “mostrou-se disponível para ceder relativamente às vagas, acabando com os constrangimentos administrativos no acesso à categoria titular”.

O Governo e os sindicatos de professores começaram hoje a segunda ronda negocial de revisão da estrutura da carreira. De acordo com o Estatuto da Carreira Docente (ECD), apenas um terço dos professores pode aceder a titular, ou seja, aos cargos de supervisão, coordenação e avaliação.

O presidente da Federação Nacional de Ensino e Investigação (FENEI), Carlos Chagas, confirmou à agência Lusa a proposta apresentada durante a reunião pelo secretário de Estado Adjunto e da Educação, Jorge Pedreira, sublinhando, no entanto, que “não foi entregue nenhum documento por escrito”.

“Deixaria de haver fixação de vagas. Os docentes poderiam aceder a titular através de uma prova nacional e tendo em conta a avaliação de desempenho, um número mínimo de tempo de serviço e formação especializada para o exercício de cargos de avaliação, coordenador e supervisão”, afirmou Fátima Ferreira, sublinhando que o governante foi parco em pormenores.

Segundo Carlos Chagas, o secretário de Estado admitiu mesmo que os limites no acesso à categoria de professor titular poderiam ser determinados através da dificuldade daquela prova.

Apesar da cedência da tutela, Fátima Ferreira afirmou que a proposta é ainda “muito insuficiente”, já que a ASPL não abdicará do fim das categorias hierarquizadas e das quotas para a atribuição das classificações de “Muito Bom” e “Excelente” no âmbito da avaliação de desempenho.

“Para nós é insuficiente”, reiterou o presidente da FENEI.

 

valquíria

19.02.09, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

 

 

A intenção inicial deste blogue era a de escrever sobre tudo o que me interessasse mas com o cuidado de raramente entrar pelos assuntos do sistema escolar. Mas as desastrosas políticas de Educação que assolaram o nosso país, levaram-me a preencher o "correntes", e o meu cérebro, com a tentativa de ajudar a desconstruir o que se estava a passar na Educação.

 

Até o cinema tem tido menos atenção e penitencio-me pela perda sistemática dos excelentes filmes que o Centro Cultural das Caldas da Rainha tem exibido: mas, e assim espero, em breve retornarei.

 

Entretanto, vi um filme que recomendo. É baseado em factos reais e pode fazer-se a necessária transferência para os tempos que vivemos: temos de aprender com a história, parece-me. Nem sempre se consegue vencer por mais justa que seja a luta; mas quando as convicções imperam, não há alternativa: lutar de cabeça erguida, mesmo com o aparente prejuízo das circunstâncias pessoais de momento.

 

O jornal Público faz as seguintes referências:

 

Título original: Valkyrie 
De: 
Bryan Singer
Com: 
Tom CruiseKenneth BranaghBill Nighy


O coronel Stauffenberg (Tom Cruise) sempre foi fiel ao seu país, o qual serviu com orgulho. Mas ao ver Hitler precipitar a Alemanha e a Europa no caos, começa a acreditar que é preciso passar à acção e travar o líder da Nacional Socialista. Em 1942, tenta conduzir vários oficiais superiores à rebelião, mas será em 1943, quando recupera de ferimentos sofridos em combate, que reúne forças junto da Resistência Alemã e organiza uma conspiração para matar o Führer. O plano, a operação Valquíria, é astuciosamente desenhado, e a missão de matar Hitler entregue ao próprio Stauffenberg.

 

 

Pode ver um pequeno vídeo, 1.47 minutos, deste filme a não perder.

 

 

 

labirinto

18.02.09, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

Li um informativo do jornal Público do qual publico de seguida uma pequena parte.

 

Resolvi destacar a bold dois aspectos que me carregaram a atenção. O ex-ministro da Educação diz que aquilo que de momento o anda a interessar mais é o envolvimento familiar na escola. Discordo. Tenho ideia que o que agora nos deve interessar mais é o envolvimento das famílias na educação das crianças.

 

Por outro lado, e garanto-lhe que sei bem do que falo, concordo com as afirmações de João Trigo. Pode ser, e é, uma luta titânica, mas é importante que cada escola defenda os seus interesses mesmo que tenha de desrespeitar a ditadura das leis do poder central.

 

Um verdadeiro labirinto.

 

"Informativo-Notícia 2009-02-18 09:13:00 - jornal Público.
"Ainda não nos entendemos sobre o que é educar", diz o presidente do Conselho Nacional de Educação. 
Segundo Júlio Pedrosa, "é por isso é que às vezes há tantos conflitos entre quem está dentro da escola e quem é encarregado de educação". 

O responsável, que foi ministro da Educação num dos governos de António Guterres, falou ontem à noite, no Porto, num debate sobre autonomia promovido pela Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo. Júlio Pedrosa considerou que "faz falta conversar" acerca dessa questão, situando-a no centro da discussão sobre o papel de cada uma das partes envolvidas na educação. "Aquilo que neste momento me anda a interessar mais é o envolvimento familiar na escola, que é uma das questões mais prementes e vai ser cada mais aguda e crítica, à medida que a nossa sociedade se vai tornando mais complexa", acrescentou. " (...)


João Trigo, da direcção nacional da AEEP e director do Colégio de Nossa Senhora do Rosário, no Porto, considerou que, em Portugal, existe "uma grande ditadura das leis" e que cada escola deve "correr riscos" na defesa dos seus interesses. (...)"