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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

tiques

13.12.08, Paulo Prudêncio

 

 

A discussão à volta do estatuto da carreira dos professores, revelou um tique que não me surpreendeu: o secretário de estado adjunto da educação, parece que sentenciou: aceitamos negociar com a firme condição dos professores abandonarem os protestos.

Triste, muito triste.

Para além de revelar uma confrangedora pobreza de espírito, traz à superfície mais um embuste dos governantes da educação, que, neste caso, está patente desde o início: a exclusiva responsabilização dos docentes pelas situações de abandono e de insucesso escolar.

Não têm remédio.
 
 
(Reedição.

Foi publicado pela primeira vez

em 27 de Outubro de 2006)

beleza

11.12.08, Paulo Prudêncio

 

 

Chegou-me via email o seguinte: "dos Jesuítas...só podia ser. Grande Santo Inácio de Loyola."

 

 

Ora leia:

 

 

 

“Nada deve ser mais importante nem mais desejável (…) do que preservar a boa disposição dos professores (…). É nisso que reside o maior segredo do bom funcionamento das escolas (…).”

 

“Com amargura de espírito, os professores não poderão prestar um bom serviço, nem responder convenientemente às [suas] obrigações.”

 

Recomenda-se a todos os professores um dia de repouso semanal: “A solicitude por parte dos superiores anima muito os súbditos e reconforta-os no trabalho.”

 

“Quando um professor desempenha o seu ministério com zelo e diligência, não seja esse o pretexto para o sobrecarregar ainda mais e o manter por mais tempo naquele encargo. De outro modo os professores começarão a desempenhar os seus deveres com mais indiferença e negligência, para que não lhes suceda o mesmo.”

 

Incentivar e valorizar a sua produção literária: porque “a honra eleva as artes.”

 

“Em meses alternados, pelo menos, o reitor deverá chamar os professores (…) e perguntar-lhes-á, com benevolência, se lhes falta alguma coisa, se algo os impede de avançar nos estudos e outras coisas do género. Isto se aplique não só com todos os professores em geral, nas reuniões habituais, mas também com cada um em particular, a fim de que o reitor possa dar-lhes mais livremente sinais da sua benevolência, e eles próprios possam confessar as suas necessidades, com maior liberdade e confiança. Todas estas coisas concorrem grandemente para o amor e a união dos mestres com o seu superior. Além disso, o superior tem assim possibilidade de fazer com maior proveito algum reparo aos professores, se disso houver necessidade.” 

 

"I. 22. Para as letras, preparem-se professores de excelência

Para conservar (…) um bom nível de conhecimento de letras e de humanidades, e para assegurar como que uma escola de mestres, o provincial deverá garantir a existência de pelo menos dois ou três indivíduos que se distingam notoriamente em matéria de letras e de eloquência. Para que assim seja, alguns dos que revelarem maior aptidão ou inclinação para estes estudos serão designados pelo provincial para se dedicarem imediatamente àquelas matérias – desde que já possuam, nas restantes disciplinas, uma formação que se considere adequada. Com o seu trabalho e dedicação, poder-se-á manter e perpetuar como que uma espécie de viveiro para uma estirpe de bons professores.

 

II. 20. Manter o entusiasmo dos professores

O reitor terá o cuidado de estimular o entusiasmo dos professores com diligência e com religiosa afeição. Evite que eles sejam demasiado sobrecarregados pelos trabalhos domésticos."

 

 

 

Ratio Studiorum da Companhia de Jesus (1599). 

 

quem beneficia com a reforma?

10.12.08, Paulo Prudêncio

 

 

José Matias Alves, autor do excelente blogue Terrear, escreve um pequeno texto que deve ser lido com toda a atenção.

 

Ora veja:

 

 

"O título pode ser um bom critério de avaliação: para quem é benéfica a mudança introduzida num qualquer sistema? Apliquemos a pergunta à decretada avaliação de professores.

É benéfica para os alunos? É benéfica para os professores ou para os pais? É benéfica para a administração educativa? É benéfica para a sociedade? Para o próprio ME?
Sem precisar de grandes demonstrações, creio que a resposta é negativa em todas estas perguntas.

Então, impõe-se a pergunta: se todos estão a perder, a quem interessa a reforma? Ao partido socialista e aos seus interesses eleitorais?
Provavelmente, a resposta poderá ser positiva."

da certeza - escolas em luta no 6 de dezembro

07.12.08, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

Foi mais um sábado dedicado à longa luta dos professores portugueses. Faltámos ao período da manhã, almoçámos pelo caminho e chegámos a Leiria ao início da tarde. Encontrámos uma cidade em estado de compras de natal e tivemos dificuldade em estacionar o automóvel na zona envolvente do bem recuperado Teatro José Lúcio da Silva.


Encontrámos o grande auditório bem preenchido por professores e, ao fim de pouco tempo, detectámos uma atmosfera envolvida pela força da certeza. Nada há a fazer: os professores portugueses radicalizaram, como alguém disse, a sua posição de modo definitivo: encontraram na sua dignidade profissional, e na defesa da escola pública, um lugar permanente e seguro que alimentará a sua resistência, dê lá por onde der. É só desse radicalismo que se devem convencer os que ainda acreditam que podem vencer os professores através da encenação mediática e do seu jogo de sombras.


Tenho ouvido falar bastante da importância da opinião pública e da marcação de agendas mediáticas. Não desprezo esse lado do jogo.


É bom que se repita até à exaustão o seguinte: um governo com maioria na Assembleia da República, beneficiando de uma cooperação estratégica com o presidente da República, com a opinião pública toda do seu lado e ainda com o beneplácito da maioria da população começa por humilhar os professores na sua imagem pública para depois fazer o que se sabe.


Três anos depois, não posso deixar de sorrir, e de exaltar o enorme orgulho que me invade a alma, quando olho para a actualidade: os professores portugueses, que partiram de modo muito corajoso para esta luta fazendo dos seus 140 mil a sua opinião pública, conseguem o que se está a observar: já nem o partido socialista consegue esconder as divisões que se verificam no seu imenso (pantanoso? como alguém disse) seio, grande parte dos fazedores de opinião mudaram de lado e a diabólica equipa que ainda governa o ministério da Educação está aos papéis e em acentuado processo de descredibilização junto dos mais variados sectores da sociedade. É um momento belo. Daqui por uns anos teremos muito orgulho nesta lição de democracia e de civismo que estamos a dar ao país. Os nossos adversários, os estruturais e os circunstanciais, podem estar seguros do seguinte: não voltaremos atrás.


Nesta altura do longo processo, sublinho algumas questões:


  • não concordo com a ideia de que a plataforma sindical esteja a representar uma espécie de entendimento II; a ideia de aceitar uma negociação totalmente aberta para 15 de Dezembro associada ao cancelamento das greves regionais é inteligente, no que ao jogo mediático diz respeito, e deixou o governo ainda mais desorientado;
  • o papel que ontem, e hoje, foi atribuído a um dos secretários de estado do ministério da Educação nem merece referências especiais: parece coisa de incendiário e do tipo vale tudo e mais qualquer coisa;
  • os movimentos que promoveram o encontro de hoje, APEDE e MUP, continuam vivos e de boa saúde; as suas direcções são voluntárias e exercidas em completo prejuízo dos seus tempos livres e das suas vidas pessoais e familiares: fazem o que podem e neste processo desempenharam, e desempenham, um papel fulcral: obrigaram à antecipação das acções de luta dando voz à saturação dos professores e devem continuar a sua acção até ao momento em que entendam necessário;
  • a luta deve continuar no local fundamental: dentro de cada uma das escolas. Desde logo, pela recusa da proposição inicial do modelo de avaliação de desempenho: a entrega de um qualquer número de objectivos individuais.



Com o devido agradecimento ao Ramiro Marques, do blogue Profavaliação,

publico as principais tomadas de posição da revigorante reunião de 6 de Dezembro de 2008:


 
1. Realização de uma manifestação nacional, em frente ao Palácio de Belém, no dia 19/1/09, o dia da próxima greve nacional. 
2. Criação de um fundo nacional com as verbas necessárias para pagar a um bom escritório de advogados, tendo em vista mover uma acção, nos tribunais portugueses e europeus, pela impugnação do 1º concurso para professores titulares
3. Criação de um estrutura de coordenação nacional de escolas em luta para orientar e acompanhar os processos de resistência interna. 
4. Estabelecer pontes que promovam o diálogo com os pais e encarregados de educação com o objectivo de lhes explicar as razões da luta dos professores. Urge distribuir comunicados aos pais que esclareçam os motivos por que os professores estão em luta.
5. Associar a luta pela suspensão do modelo burocrático de avaliação à revisão do ECD. Acentuar que a questão principal é acabar com a divisão da profissão em duas categorias.
6. Organizar o envio de cartas ao ME e aos órgãos de comunicação social com as razões da luta dos professores. Objectivo é levar cada professor a enviar, pelo correio, pelo menos duas cartas: uma para o ME e outra para um jornal nacional.
7. Fazer publicar nos maiores jornais nacionais uma página inteira de publicidade paga onde se apontem as razões da luta dos professores.
8. Fazer parar os procedimentos de avaliação burocrática de desempenho em todas as escolas do país. A primeira coisa a fazer é não entregar os objectivos individuais.

E agora vou dormir para amanhã dar início ao "reduzido fim-de-semana prolongado".

Bem hajam colegas.

escolas em luta

05.12.08, Paulo Prudêncio

 

 

Recebi o seguinte comunicado da APEDE (Associação dos Professores e Educadores em Defesa do Ensino):

 

 

A APEDE e o MUP vêm anunciar uma iniciativa conjunta: a realização de um Encontro Nacional de Escolas em Luta para o próximo dia 6 de Dezembro, em Leiria, no Teatro José Lúcio da Silva.

 

O Encontro terá início às 10h e prolongar-se-á até às 17h, com intervalo para o almoço.

Apelamos a que todas as escolas que estão a desenvolver processos de resistência, nomeadamente através da suspensão da avaliação do desempenho, elejam dois representantes para participarem nesse Encontro. 

 

 

Farei os possíveis para estar presente em mais um sábado de luta contra as políticas do ministério da Educação.

o fim do princípio

04.12.08, Paulo Prudêncio

 

 

 

Assiste-se ao momento da mais completa desorientação por parte de um governo que desrespeitou de modo indecente os professores portugueses e a escola pública.

  

Imbuído de uma sentença mencionada de reformista, o que lhe garantiu, desde logo, o apoio da maioria da população e dos fazedores de opinião, o actual governo do partido socialista (com apoio maioritário na Assembleia da República e o resguardo da cooperação estratégica com a presidência da República) escolheu, de modo displicente e apressado, um conjunto desastroso de políticas que deixaram ainda mais isolada a escola pública, e os seus professores, no desígnio de garantir um ensino de qualidade no serviço público.

 

E mais: deixaram a escola pública, e os seus professores, completamente expostos como a causa única das taxas de abandono escolar que tanto nos envergonham. 

 

Ora leia:

 

«Uma vez iniciada este ano uma avaliação séria dos professores, estarei totalmente aberta à discussão de alterações a este modelo e até à sua substituição, mas em anos seguintes, não neste», disse Maria de Lurdes Rodrigues, durante um debate de urgência sobre a avaliação de desempenho dos docentes pedido pelo BE.

Contudo, a ministra garantiu não ser «intransigente na defesa do modelo em vigor, mas apenas na defesa do princípio de uma avaliação séria e com consequências».

 

O que é isto?


A senhora ministra vai de recuo em recuo até encostar a uma parede composta, quase na totalidade, daquilo que sempre se soube: impedir que os professores progridam na carreira. Já é só isso que tenta salvar.

 

Tanta teimosia, tantas certezas, tantas humilhações aos professores para acabar a propor "estarei totalmente aberta à discussão de alterações a este modelo e até à sua substituição, mas em anos seguintes, não neste". 

 

Ironia das ironias: um governo com as características referidas mais as conhecidas manobras de intoxicação da dita opinião pública, acaba a suplicar perdão aos professores que tanto desrespeitou. E estes, cansados mas com a memória bem fresca, não perdoam e exigem o que a razão sempre lhes determinou. Que grande lição de democracia e de civismo está ser dada pelos professores do meu país: grupo profissional a que me orgulho de pertencer, com as latitudes que todos conhecemos. 

 

histórico de alunos

03.12.08, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

Já fiz três ou quatro posts, ao longo destes quase cinco anos de existência, sobre o estatuto do aluno. Também, e importa que o diga, e ao longo da minha actividade como professor em Portugal, algo de que me orgulho e que nunca escondo, participei em inúmeras reuniões onde o tema foi debatido até à exaustão.

 

Na última primavera fiz um post sobre o assunto em que escrevi assim:

 

 

E dei comigo a pensar num estatuto do aluno. O que vou escrever a seguir é muito a sério, foi objecto de uma atenta e demorada análise.

 

Proponho um estatuto sem preâmbulos e com um único artigo.

 

Os alunos reprovam se excederem o limite de faltas injustificadas a uma das disciplinas, ou áreas curriculares não disciplinares, que compõem o seu programa de estudos. Entende-se por limite de faltas injustificadas, o produto da multiplicação por três do número de aulas semanais em cada uma das actividades referidas. Compete aos directores de turma o estabelecimento dos critérios que consideram uma falta como justificada.

 

 

Realizei uma auscultação familiar sobre o "impercebível" estatuto do aluno com a ideia de fazer um histórico que ajude a acomodar a minha tese do singular artigo, digamos assim.

 

Comecei com a minha octogenária mãe, que mantém uma memória tão fresca como a minha.

 

Telefonei-lhe.

 

- Oh mãe, lembras-te como era com as faltas quando a minha avó andava na escola?, perguntei-lhe.

 

- Tens cada uma Paulo. Já não me lembro bem. Mas parece-me que era simples: havia um limite de faltas em cada disciplina e podiam justificar as faltas quando havia um motivo forte para isso. Mas porquê?.

 

 - É para um estudo que estou a fazer. E no teu tempo, lembras-te?

 

- Era como no da tua avó. Havia um limite de faltas em cada disciplina e podíamos justificar as faltas quando havia um motivo forte para isso.

 

De seguida, telefonei à minha irmã mais velha, que é de uma geração mais antiga que a minha, e fiz-lhe a mesma pergunta. A resposta foi pronta: - Era simples. Havia um limite de faltas em cada disciplina e podíamos justificar as faltas quando havia um motivo forte para isso.

 

Ainda questionei a minha mulher - temos a mesma idade - e a minha filha de 22 anos. Em ambos os casos não havia dúvidas quanto à simplicidade da resposta: - Havia um limite de faltas em cada disciplina e podíamos justificar as faltas quando havia um motivo forte para isso.

 

Faltavam os meus alunos actuais. Questionei um grupo de 20 estudantes, rapazes e raparigas com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos:

 

- As faltas justificadas contam para a reprovação por excesso de faltas?

 

Bem, que grande confusão. Não havia duas opiniões concordantes. Os alunos estavam completamente baralhados. Ninguém sabia o regime em vigor e conheciam as mais variadas versões. 

 

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