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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

discutir

31.12.07, Paulo Prudêncio

Aprendi, a ler Karl Popper, que só o que é refutável é que é verdadeiro. O filósofo austríaco tem uma outra frase que nunca esqueço: "não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos".

paranoid park

27.12.07, Paulo Prudêncio


É um filme sobre a adolescência, essa inesquecível passagem para a responsabilidade individual. Gus Van Sant, realizador americano que assina o fantástico Psycho (1998), pega num argumento difícil e constrói uma narrativa de eleição. Os críticos especializados são unânimes: quatro estrelas num máximo de cinco.

Vimos "Paranoid Park" numa das salas do King: numa sessão de sábado à noite e com poucas pessoas.
O argumento gera, desde logo, uma atmosfera de risco: jovens da escola secundária, do tipo mimado e egoísta, mas conscientes disso mesmo, agrupados por critérios modistas e frequentando ambientes limite - desde logo o Paranoid Park, um lugar onde skaters genuínos se misturam com adolescentes retardados, tanto de dia como de noite -.

Gus Van Sant consegue um efeito espantoso: apesar da história meter um homicídio, voluntário ou não, para o caso pouco interessa, o realizador centra-nos nos problemas dos adolescentes e nas suas expectativas. Li um registo de certo modo optimista e que alerta-nos para vocábulos que nunca devem ser desprezados: acaso, absurdo, sorte e azar. Aconselho vivamente.

Ora clique no trailer, meu caro leitor, são só 1.32 minutos.

boas festas

23.12.07, Paulo Prudêncio

 

Tenho na minha lista cento e cinquenta e sete endereços de email. Conheço pessoalmente a maioria das pessoas. A todos tento significar a minha amizade. Há uns anos enviava postais e fazia uns telefonemas. Depois, passei para o serviço de mensagens curtas (sms) e, mais tarde, para o email.

Faz dois anos que decidi colocar as boas festas por aqui e avisar os amigos desta existência. Esta decisão coincidiu com um desejo a que não era tão dado como agora: saberei se os que nos deixaram não estarão também a aceder à internet? Creio que estão, pelo menos na época natalícia. A idade vai fazendo das suas.

E este ano tive uma ideia. Gosto muito de cinema e aprecio Pedro Almodóvar. O realizador espanhol é espantosamente moderno: aborda temas globais com ousadia e frontalidade e vinca a identidade da sua comunidade.

"Fale com ela" é uma obra cinematográfica soberba. Fala-nos de um despojamento que me ajuda a acreditar naquela história de quem lê na internet pelo Natal. Se ainda não viu o filme, meu caro amigo, veja. Vale pena e vai sempre a tempo: aquilo sim, é Natal. E tem um momento surpreendente: Caetano Veloso é convidado a cantar uma música do princípio ao fim. É uma ideia arriscada e que pode sair da narrativa do filme. Mas não. Resulta em pleno.

E é isso.

Imagine-nos juntos, despidos dos sentimentos humanos que tanto nos ajudam à divisão, e rodeados ainda por aqueles e aquelas que nos deixaram mas que, por ser Natal, e só por isso, fizeram o favor de regressar.

E toda esta magia num ambiente como o que vai ver, caro amigo (ou amiga, claro) - se é apenas um leitor que apareceu por aqui, olhe, veja na mesma, a sério, também pensei nisso - se clicar no vídeo que se segue: e Boas Festas.

 

on bullshit

11.12.07, Paulo Prudêncio
 





A democracia mediatizada tem destas coisas: se há um assunto que passámos a vida a estudar, é natural que, pelo menos sobre essa matéria, nos indignem as pessoas que, tendo um acesso ilimitado aos meios de comunicação de massas, falem com desfaçatez sobre aquilo que desconhecem. É o caso da educação escolar em Portugal.

Em homenagem a essa forma de ganhar a vida, reedito uma publicação que o meu caro leitor pode já ter encontrado por aqui, mas a propósito de outro assunto: "on bullshit".

“On bullshit” é o título de um pequeno livro do filósofo americano Harry G. Frankfurt e na tradução portuguesa ficará, provavelmente, como “a conversa da treta”.

Mesmo com a quantidade enorme de “bullshit” nas nossas sociedades, não há estudos profundos sobre o tema, diz o autor.

Por isso, “não existe uma teoria geral do “bullshit”, o que é paradoxal, considerando a sua ubiquidade”.

“O “bullshit “ é uma ameaça mais insidiosa para a verdade do que a mentira, pois está totalmente desligado de uma preocupação com a verdade - enquanto os mentirosos podem manter uma ideia clara da verdade. O “bullshit” é objecto de uma estranha tolerância, enquanto a mentira é vista em geral sem benevolência”.

“Outra das razões para o aumento do “bullshit “, é o facto da sociedade actual exigir de todos que tenhamos opinião sobre tudo, mesmo sobre aquilo que desconhecemos - o que constitui uma excelente oportunidade para “bullshit “.

Neste contexto, é evidente que o mundo dos media constitui um excelente caldo de cultura “bullshit “.



(reedição)

efeitos da boa repetição

03.12.07, Paulo Prudêncio

 

Passei muitas horas a jogar basquetebol e sempre, ou quase sempre, claro, com um fascínio enorme. Adoro o jogo e faço jus à célebre frase da liga profissional americana (NBA): "I love this game". É claro que no presente, e considerando a idiossincrasia lusitana, fico-me pelo futebol na oportunidade semanal de realizar exercício físico através de um jogo colectivo.

Mas o que levou-me a escrever este post foi um vídeo que recebi e que merece a seguinte opinião: o treino dos gestos motores passa por duas fases que se priorizam mas que requerem, depois, simultaneidade: a informação sobre o que se sabe da eficiência biomecânica do movimento e a sua relação com a personalidade motora de cada indivíduo e a quantidade de repetições, com informação de retorno, se possível, sobre a qualidade da execução do gesto em causa; e não há volta a dar-lhe. Devo confessar que nunca engracei com a ideia de repetir até à exaustão, mas recordo-me bem dos momentos em que o gesto sai na perfeição e que todas as bolas lançadas encontram o caminho certo: na gíria, chama-se a isso estar com a "mão quente".

Imagine um jornalista televisivo a reportar em directo e que, de repente, percebe o desvio de atenção do seu operador de câmara para outras imagens. O que é que se passa? Ora clique, meu caro leitor, são menos de 30 segundos. Vale a pena.

 

 

país basco

01.12.07, Paulo Prudêncio


 

 

Estávamos em pleno verão e sobrava uma quinzena de férias: era uma novidade, pois tinha passado os últimos anos reduzido a apenas isso: quinze dias de férias de vez em quando.

Decidimos partir: pegámos no carro - seria a última grande viagem num wolkswagen golf cheio de história - e fomos directos ao sul de França, mais propriamente a Biarritz. Atravessar a Espanha, nessa altura, é sempre um risco, mas nada de especial houve para assinalar: tempo ameno e pouco movimento nas estradas. Quando começámos a equacionar o lugar da primeira noite, passávamos por uma cidade, capital do País Basco, que desconhecíamos: Vitoria-Gasteiz. Estava um fim de tarde perfeito e a cidade acolheu-nos por completo: urbanismo exemplar, cidade bem traçada, trânsito bem arrumado, corredores para bicicletas, passeios largos, mobiliário urbano escolhido com muito gosto, zonas verdes em abundância, património bem cuidado, comércio tradicional cheio de vitalidade, sei lá... Ficámos com vontade de estar uns dias valentes por ali.

Seguimos para o sul de França. Mas foi por pouco tempo. A zona de Biarritz estava apinhada de turistas e pouco convidativa: ao segundo dia não resistimos ao apelo basco: Donostia-San Sebastián foi o destino. De fascínio em fascínio, passámos o resto dos dias nesta belíssima região autónoma da nação espanhola. Bilbao (Bilbo em Basco) foi o lugar da estadia final. Para além da espantosa recuperação urbana motivada pela construção do Museu Guggenheim, Bilbao transformou-se numa urbe moderna, pujante e que deixou saudades.

Surpreendente, considerando os relatos da história. Conclui-se que, a exemplo da sociedade em rede, a presença física, associada ao tempo, continua a ser a base de uma boa e sólida aprendizagem.