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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

gestão do blogue

21.09.07, Paulo Prudêncio


Tenho recorrido a reedições e à reescrita de textos para a administração deste meu espaço na internet. São exercícios que gosto muito de fazer e que a gestão de um blogue permite. Por outro lado, sei que a maioria dos leitores passa por aqui e fica, quando muito, pela leitura do primeiro post. É natural que assim seja.

Tenho textos que gosto mais ou que foram mais trabalhados: esses, são objecto de uma reedição ou reescritos, de modo a não ficarem "perdidos" nos arquivos.

Por vezes, tenho textos gravados mas que só são publicados um a dois meses depois. Nestes casos, tem acontecido um lapso interessante: escrevo o rascunho do post e gravo a data com a ideia de lá voltar e de compor a escrita; por vezes, esqueço-me completamente que o texto está em espera e quando dou pelo facto já o post está publicado; as minhas desculpas; os meus caros leitores decerto que me perdoarão.

pais

17.09.07, Paulo Prudêncio



no dia do seu casamento



Recebi umas fotos que não conhecia: são dos meus queridos pais. Imaginam a emoção quando as vi pela primeira vez? É claro que já conhecia fotos parecidas, mas não deixa de ser um momento muito comovente quando um acontecimento do género nos surpreende. A minha prima e amiga Ana Vieira teve a bondade de me enviar estes ficheiros memoráveis: bem hajas.

A primeira foi tirada no dia do seu casamento e a segunda retrata uma passagem pela Praça do Restauradores em Lisboa. Memórias.




um passeio na Praça dos Restauradores
em Lisboa

the departed – entre inimigos

15.09.07, Paulo Prudêncio



Quando " The Departed – Entre Inimigos" esteve nas salas de cinema não o vi. Na altura, este filme de Martin Scorsese, não me despertou a curiosidade. Mas nas férias de verão tudo pode acontecer: mais um dia de praia, mais uma noite quente; e que tal alugar um dvd?

Escolhemos esta obra, premiada, do realizador americano. Gostei.
Acima de tudo, li uma importante mensagem de quem conhece bem a vida americana: não é possível sobreviver sem a ideia de se estar armado.

A terra das oportunidades sem fim, trouxe uma combinação assustadora: vale tudo, até mesmo a intenção de que, para viver e antecipar o crime, tem se usar a legítima defesa; e, para isso, não resta alternativa: estar armado até aos dentes.

Talvez por isso, a indústria do armamento sobrevive, próspera e imbatível, na pátria da liberdade e da democracia. E alastra-se. Não compreender isso é não perceber um dos modos americanos de ser. Martin Scorsese explica-o bem, a meu ver. Jach Nicholson, Leonardo Dicaprio e Matt Damon traduzem na perfeição.

território

11.09.07, Paulo Prudêncio
felix_guattari.jpg

 

"O ser humano contemporâneo não está na posse de um território. Os seus territórios existênciais originários - corpo, espaço doméstico, clã, culto - já não assentam sobre um terreno firme, ancorando-se num mundo de representações precárias e em perpétuo movimento."

Félix Guattari.

slavoj zizek

09.09.07, Paulo Prudêncio

 




Slavoj Zizek chegou-me muito recentemente. A única obra sua que li, "as metástases do gozo, seis ensaios sobre a mulher e a casualidade" deixou-me muito entusiasmado: já confessei, por aqui, o meu fascínio pelo pensamento de Giorgio Agamben: pois, Slavoj Zizek, escreve sobre muitos dos temas que Agamben estuda em "Profanações" e desenvolve-os numa linha mais psicanalítica: desde o excelente cinema de David Lynch à moda, passando por Lacan , Kundera ou Hitchcock, Slavoj é um autor incontornável: "faz um exame radical e perturbador do estatuto da mulher e do papel da violência na política e na cultura contemporânea".

protocolo de estado

07.09.07, Paulo Prudêncio





Há tempos, fiquei surpreendido quando se discutiu, em Portugal, o protocolo de estado.
E não deveria ter ficado, reconheço.
Tenho alguma experiência dessas coisas, e, francamente, o excesso de formalismo sempre me deu vontade de sorrir.
Por herança conhecida, a sociedade portuguesa tarda em libertar-se dessa obsessão pelo desnecessário.

Li um editorial do jornal público, escrito por Manuel Carvalho e intitulado “as excelentíssimas autoridades”, que tem passagens muito acertadas e, só por isso, redundantes: “... os portugueses devotam um particular carinho pelo beija-mão... são vulgares as poses ridículas a que muitas figuras secundárias do Estado se sujeitam para aparecer ao lado dos “poderosos”... se há alguma coisa a discutir - e não há dúvidas que há -, que se discuta na discrição dos gabinetes”.

Mas, dizia, tenho algum conhecimento dessa paranóia que é o protocolo de estado.
Tive a oportunidade de participar em comissões executivas para a realização de actividades de âmbito nacional e regional, e recordo, como grandes momentos de humor, a elaboração dos programas, principalmente na componente protocolar.

Eram páginas e mais páginas com a designação das entidades devidamente hierarquizada. Havia mesmo especialistas, para quem se telefonava vezes sem conta, que dominavam o rigor dos patamares: se o comandante dos bombeiros aparecia primeiro que o presidente da junta de freguesia, se o ministro da pasta x aparecia primeiro que o ministro da pasta y, eu sei lá...

Era um verdadeiro sufoco. Ficava calado, ria para dentro, por vezes estrebuchava um pouco, outras vezes partia para outra - havia sempre outros assuntos a tratar, felizmente - e esperava que a tempestade passasse. Mas via o modo, convicto e sério, como os meus colegas tratavam do assunto.

Mas o que mais me espantava, era o dia da cerimónia, onde nada daquilo tinha relevância: a maioria das entidades não aparecia, ou se marcava o ponto, assumia um registo informal e mandava às malvas o protocolo. Surreal. A questão era o papel, literal, que passaria para a história. No programa do evento, a ordem dos lugares obedecia à mais minuciosa avaliação da totalidade das entidades. Uma doença.

Questionava-me sempre: mas se nem tempo tenho para ler aquilo tudo, como é que estas pessoas conseguem dedicar um minuto que seja ao assunto?

Escolhi, para acompanhar este texto, uma foto com uma cadeira, porque lembrei-me de uma história bem ilustrativa.

Passou-se em Vila Real de Trás-os-montes, onde leccionei nos anos de 1985 a 1987.

Participava na organização de uma actividade com abrangência regional, quando, e no meio de uma esgotante azáfama, se coloca a questão mais inacreditável que testemunhei: "é preciso ir buscar a cadeira do senhor Bispo".

Por momentos, sou franco, pensei que o senhor seria um obeso excessivo ou coisa do género. Mas teve de ser. Tivemos de providenciar uma carrinha e convocar quatro ou cinco homens para carregar com a pesadíssima cadeira - informação prestada por quem possuía experiências anteriores -.

Fiquei de olho no assunto. No dia da actividade, a cadeira estava vazia. Pergunto a um dos colegas entendidos: - “então o Bispo?”. - “Está atrasado. Mandou dizer para começarmos”.

Perto do fim, lá chegou o senhor. Homem para 70 quilos, se tanto, apareceu quando já todas as pessoas estavam de pé, e, pelo menos aparentemente, nem deu pela cadeira. Terminado tudo aquilo, estávamos confrontados com um problema final: "temos de devolver a cadeira à casa do do senhor bispo de Vila Real".



(reescrito)

carta ao pai

01.09.07, Paulo Prudêncio







Os livros de Franz Kafka, pelo menos os que li, são clássicos: intemporais, com uma escrita simples, escorreita e nada rebuscada. Kafka teve uma experiência de vida incomparável e revelou um profundo conhecimento da natureza humana. Surpreendo-me sempre com a sua generosidade e com o modo como extrai profundidade nos assuntos com a aparência mais ligeira.

"Carta ao Pai" é mais uma obra genial. Numa carta que um filho escreve ao pai, aprende-se muito: sobre a natureza do poder e sobre a sua abrangência educativa. Mas o que mais me impressiona é sua inquestionável actualidade: tenho andado por Giorgio Agamben, por Bragança de MIranda, por Philip Roth, por Slavoj Zizek, e, meu caro leitor, Franz Kafka inclui tudo o que de melhor se lê nos estudos destes ensaístas, e romancistas, no caso de Philip Roth, eméritos.

Faz, nesta data, dois anos que o meu querido pai faleceu. A sua memória é já um dos meus clássicos.