Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

problema por resolver

29.07.07, Paulo Prudêncio
picasso.jpg

"A natureza da percepção estética continua a ser um problema por resolver. Depois de tantos estudos, desde as escolas gestaltistas (com particular referência a Rudolf Arnheim) às mais recentes tendências cognitivistas, não se abriu ainda o caminho certo que nos leve a uma compreensão decisiva do fenómeno. Fica-se com a impressão de uma série de descobertas, às vezes brilhantemente interpretadas, sem que o conjunto acumulado ilumine com uma inteligibilidade nova os processos perceptivos artísticos".

José Gil.

josé afonso

27.07.07, Paulo Prudêncio
zeca.jpg

Hoje, euterpe visitou-me. Passei uma parte da tarde a ouvir uma colectânea de José Afonso. Ouvi umas duas vezes o álbum “venham mais cinco.” Mais de trinta anos depois, a sua música continua a convocar uma invencível glorificação. Também impressiona a excelência em que foi realizada a gravação, no Studio Aquarium, em Paris: sublime.

Li, outro dia, um comentarista político dizer qualquer coisa do género: “"com o fim do soarismo termina também a ideia do antifascismo."

Pensei: que enormidade. Entre tantos argumentos que podem refutar tamanha atrocidade, fico com a singela realidade: será que o indivíduo não percebe que é impossível fazer desaparecer todos os registos áudio do génio musical que referi?

(reedição)

good night, and good luck

25.07.07, Paulo Prudêncio
boanoiteeboasorte.jpg



É um filme genial. Tinha lido sobre o filme e estava desejoso de o ver. O local escolhido não foi o melhor: a sala 2 do Monumental, em Lisboa, já reforça a inevitável passagem do tempo. Mas com o decurso das imagens, até isso me foi escapando.

Good night, and good luck (boa noite, e boa sorte) é um filme a preto e branco: realizado por George Clooney, retrata o início do jornalismo televisivo nos Estados Unidos da América, na década de 50. É a segunda longa-metragem deste realizador. O filme move-se à volta do fenómeno do "Macartismo", que ficou conhecido como uma “caça às bruxas” e que consistia na perseguição e detenção de todos os que tivessem tido uma ligação ao partido comunista.

Partiu de diversos quadros que nos inserem nas duas realidades - a jornalística e a política - para atingir o auge no conflito verídico entre um célebre “pivot”, Edward Murrow - que terminava sempre com um “good night, and good luck” - e o senador, Joseph McCarthy - é ao nome deste político que se deve o “Macartismo”. O “Macartismo” foi fundado por este senador republicano, cuja paranóia o levou a acusar milhares de americanos de serem militantes socialistas.

Entre outras acusações fantasiosas, insinuou que o departamento de estado americano, em Washington, estava repleto de "comunistas com ficha" e que "via comunistas até mesmo debaixo de sua cama". Edward Murrow chefia uma extraordinária equipa de jornalismo televisivo na cadeia CBS. Um filme brilhante.

Provoca, também, uma dura reflexão ao modo como se faz jornalismo televisivo. É uma homenagem aos que têm a coragem de agir livremente e em defesa dos princípios democráticos: e que não quebram.

Voltarei a ver.

[reedição)

o coronel pássaro

21.07.07, Paulo Prudêncio





Voltamos à antiga lavandaria do hospital termal das Caldas da Rainha para ver mais uma encenação produzida pelo Teatro da Rainha: "o coronel pássaro".

Penso que já não é a primeira vez que o escrevo: o espaço escolhido, um sótão da antiga lavandaria, encanta-me.

Imagino que não será a sala preferida da companhia, sendo certo que as limitações à produção saltam à vista. Mas para além do espaço referido, a zona envolvente tem características muito interessantes: a mata do hospital termal, apesar de muito descuidada, garante uma atmosfera pouco usual e se olharmos à nossa volta, e com atenção, podemos ver um pequeno - pequeno em dimensão física mas imenso no seu confronto com a temperatura morna das águas que correm para o ex-líbris da cidade, o hospital termal - laboratório de esculturas da responsabilidade de Ferreira da Silva.


O texto de Histo Boytchev é muito inteligente embora pudesse ter ido mais além. Fala-nos do frágil limiar que serve para designar o estado de loucura e da "necessidade" em ordenar as consciências para que tudo frua.

No "site" da companhia pode ler-se:

"Um jovem médico, destacado para um asilo psiquiátrico instalado num antigo convento, algures nos Balcãs, tem a seu cargo alguns casos de psicose tão interessantes quanto inofensivos. É inverno e tanto psiquiatra como doentes estão entregues à sua sorte, isolados no meio da neve e dos lobos, sem aquecimento, sem comida e sem medicamentos. Vivem acantonados numa única divisão para se protegerem do frio.

A situação é já insustentável quando um avião da ONU, perdido o rumo no meio de uma tempestade de neve, lança ajuda humanitária sobre o convento julgando tratar-se de uma povoação na Bósnia. Os fardos lançados contêm mantimentos e uniformes militares.
A partir desse momento, um dos pacientes, ex-coronel do exército russo, há três anos fechado no mais absoluto mutismo, assume o comando da pequena comunidade transformando-a numa «unidade de combate avançada» disposta a integrar as fileiras da NATO. Os pássaros em migração são, do ponto de vista destes doentes, o meio para estabelecer o contacto com as chefias daquela organização na Europa e os dias passam-se a observar o céu esperando uma resposta.
 O jovem psiquiatra assiste a esta verdadeira metamorfose incapaz de formar uma opinião sobre as vantagens ou desvantagens clínicas desta nova «realidade» vivida pelos doentes. Até porque o seu percurso pessoal dentro das normas de uma estrita normalidade se lhe afigura agora destituído de sentido. Finalmente, decide abandonar o convento integrando a nova «unidade militar», rumo a Estrasburgo, num velho jipe pintado com as cores da Nato e respectiva bandeira.
Dois ou três anos depois, a pequena comunidade deambula pelas ruas e praças da Europa vivendo das moedas que o seu comportamento excêntrico arranca aos bolsos dos transeuntes. Acredita apesar de tudo que os pássaros são a melhor forma de enviar mensagens e vive de olhos postos no céu..."

Valeu.

lady chatterley

17.07.07, Paulo Prudêncio



Foi um dia bem passado: visitámos o Museu Colecção Berardo (Centro Cultural de Belém), no início da tarde e fomos à procura de um bom filme. Como de costume, dirigimo-nos às salas do King e escolhemos "Lady Chatterley": um argumento adaptado do romance de D. H. Lawrence. É, ao que julgo saber, a segunda vez que este clássico da literatura é levado ao cinema.

São 160 minutos de muito bom cinema. Fiel ao argumento, Pascale Ferran, o realizador, corre um primeiro risco: os nomes - todos, desde os nomes das pessoas aos nomes dos lugares - britânicos num filme falado em francês. Começa por soar estranho mas o espectador habitua-se. Os cenários escolhidos são soberbos, a música adequada e o ritmo do filme roça a perfeição. A história é bastante conhecida: uma jovem mulher, cujo marido fica paraplégico, vive num castelo, numa zona isolada, e em plena floresta; apaixona-se pelo caseiro da quinta e desenvolve, a partir daí, uma narrativa à volta do seu despertar para a sensualidade.

São excelentes as interpretações de Marina Hands (Lady Chatterley) e Jean-Louis Coullo'ch (o amante de Lady Chatterley).

Um filme a não perder. É evidente que a previsibilidade inerente a um argumento já sobejamente conhecido, retira alguma emoção à atmosfera cinematográfica.

museu berardo

15.07.07, Paulo Prudêncio




porta-garrafas
de Marcel Duchamp)






Fomos ao CCB (Centro Cultural de Belém, em Lisboa) ver a colecção "Berardo" de arte moderna e contemporânea.

Excelente.

Picasso, Paula Rego, Marcel Duchamp, Andy Warhol, Francis Bacon, Martial Raysse, enfim, um acervo de respeito acolhido num espaço de eleição.

Aconteceu-me uma coisa curiosa, digamos, uma surpresa misturada com algumas coincidências.

Chegámos ao Museu perto da hora do almoço. Fomos fazer uma refeição rápida e ficámos sentados perto do filósofo José Gil: devo confessar que, o autor do "medo de existir", tem uma obra, publicada em 1996, intitulada "a imagem-nua e as pequenas percepções", sobre estética, que me ensinou muito e que estudei com todo o detalhe: um dos aspectos que mais me fascinou, na época, foi a discussão à volta dos efeitos teóricos e práticos da invenção dos readymade e nomeadamente a obra de Marcel Duchamp (onde se inclui o objecto que pode ver-se na foto que acompanha a presente publicação: o célebre porta-garrafas);

e não é que este triângulo estético cruzou-se durante a minha visita ao museu: o filósofo José Gil, a obra de Marcel Duchamp e o seu "porta-garrafas"; foi, sem dúvida, um momento alto na minha visita.


o nosso tempo

07.07.07, Paulo Prudêncio






"O mergulho no turbilhão é o original no nosso tempo: é ilimitado e não tem um "lado de fora". A ideia de inovação, desconhecida e perturbadora, baralha o espectador: este, é invalidado: não pode manter-se na orla, nem afastar-se com convicção.

O original é a límpida contemplação de um meio pressuroso tecnicamente: chegado a este nível, confunde-se com o acontecimento."


(Pequeno texto, reescrito a partir de ideias de José Bragança de Miranda)