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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

cinco minutos do nosso tempo

27.04.07, Paulo Prudêncio
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(a intemporalidade das reedições)

Sopram correntes nesta península, agitam-se as almas de quem luta contra ventos e marés. Humanidades que adormecem, gente que se habituou a apenas querer dar sentido à navegação quando os mares e os sopros se apresentam de feição. Soam-me vozes que reconhecem este género no mais recôndito dos lugares.

Está uma tarde intrigante, timidamente ensolarada mas preenchida por um vento que sopra com um jeito desastrado. Ora se acalma e nos proporciona um silêncio acomodativo, ora se exalta e nos desperta para sons que constróem melodias singulares. São rajadas que duram a efemeridade de uns curtos cinco segundos. Não é que eu esteja de relógio em punho a medir o tempo de duração das zangas do vento.

Escolhi o número cinco para ajeitar os meus escritos, pois é sabida a habilidade humana em escolher os números do tempo para satisfazer a justeza dos seus argumentos. O tempo humano corre sempre como um vento constante e forte. Só damos nota dessa dura realidade quando as correntes nos empurram para a margem de um qualquer precipício. E de nada vale mudarmos a posição dos nossos ponteiros. A verdade do tempo verdadeiro é insensível às graças e às desgraças. É, ao que jugo saber, imutável.

Caro leitor, não esgote a sua paciência que eu prometo ir já de seguida ao que interessa nesta crónica. Quando iniciei estes escritos, tinha em mente resolver o imbróglio criado por um tema, profundo e determinante, do sistema escolar em Portugal: os cinco minutos. Não se ria por que não temos muito tempo para isso, a coisa é séria. Não é que para prolongarem a duração das aulas escolares, que se asfixiavam em períodos consecutivos de horas lectivas de 50 minutos – isto parece ligeiramente complicado, mas lamento, não tenho talento para o detalhar de um modo mais poético e erudito – decidiram que as ditas horas passaram a ter 45 minutos somados de outros tantos sem intervalo. 45 mais 45 somam 90 minutos, supostamente dedicados ao que de melhor os humanos têm para dar.

Mas como o leitor reparou, mesmo os mais desatentos, existe aqui uma equação temporal por resolver: em cada hora lectiva passam a sobrar cinco minutos. Pode parecer um exagero, mas tenho para mim, que se um professor de um qualquer século do milénio passado aqui regressasse, era mesmo a única charada escolar que teria que resolver. Eu sei que teria que lidar com competências ou mesmo com objectivos e outros que tais, mas eu estou a falar do tempo de uma hora lectiva e do que lá dentro deve acontecer.

Para não dificultar ainda mais a compreensão desta minha prosa recheada de conhecimentos matemáticos, vou plagiar um desses sistemas e iluminar de forma clara o cerne da questão.

Se considerarmos que os que decidem sobre estas coisas, também são ou foram professores, espera-se que dediquem a substância da sua acção aos ventos que nos enchem a sabedoria. A menos que, e na falta de melhor, o conteúdo das suas preocupações os remeta para o paradigma dos paradigmas: vamos regulamentar os cinco minutos.



darwin

18.04.07, Paulo Prudêncio


"Não é a mais forte das espécies que sobrevive, nem a mais inteligente, mas aquela que melhor reage à mudança."

Esta frase de Charles Darwin reforça uma ideia que aprendi com a experiência: as mudanças, por mais imbecis que possam parecer, devem ser sempre encaradas como oportunidades para melhorar os sistemas: na vida das pessoas como na vida das instituições.

jazzvalado

16.04.07, Paulo Prudêncio


Vai na décima edição: Valado de Frades, no concelho de Alcobaça, tem o privilégio de receber o trabalho de Adelino Mota, o incansável organizador deste excelente festival.

Todos os anos passo por lá. Belos momentos, ouvindo o swing tradicional a ser disputado pelas mais variadas contraditas. As imensas vozes de Jacinta, Edu Lobo e Marta Huton já encheram um espaço que se transforma num verdadeiro clube de jazz.

14 de Abril de 2007 foi o dia do concerto da Trupe Vocal: repertório mainstream: o swing esteve a cargo de Leandro Leonet (bateria) e Hugo Carvalhais (contrabaixo); a contradita ficou com as vozes de Fátima Serra, de Kiko e de Maria João Mendes; o piano ouviu-se pelos performativos dedos de Paulo Gomes.

Depois de uma primeira parte assim assim, tivemos jazz de alto nível. Valeu. Espero voltar nos dias 19 e 20 de Abril de 2007.

Promete.

lições

07.04.07, Paulo Prudêncio
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«Talvez o ser humano venha a ser substituído por uma sombra, um reflexo projectado num écran, por formas simbólicas ou algum ser que terá a aparência da vida mas não terá vida»


Maurice Maeterlinck (1890)


vergílio ferreira (1)

05.04.07, Paulo Prudêncio

 

 


A propósito de uma frase que li noutro blog e que coloquei por aqui, fui reler a Alegria Breve de Vergílio Ferreira, a obra favorita do autor.

Não resisto a citar o início do livro:

"Enterrei hoje minha mulher - porque lhe chamo minha mulher? Enterrei-a eu próprio no fundo do quintal, debaixo da velha figueira. Levá-la para o cemitério, e como? Fica longe. Ela pedira-mo uma vez, inesperadamente, acordando-me a meio da noite. Queria que a enterrasse junto ao muro que dá para o caminho, por que se vê daí a casa dela. Habituara-se a olhar para aquele sítio depois que ficou só. E pensava: “Verei dali a janela do meu quarto”. Mas teria de transportá-la para lá. Não tenho forças e cai neve. A quantos estamos? É Inverno, Dezembro, talvez, ou Janeiro. Tiro a neve com uma pá, traço o rectângulo e cavo. Dois cães assomam à porta do quintal, chupados de ódio e de fome. Ainda há cães pela aldeia? Babam-se e uivam sinistramente. Tomo uma pedra, disparo contra um, desaparecem ambos a ganir. E de novo o silêncio cresce a toda a volta, desde a montanha que fico a olhar até me doerem os olhos. Olho-a sempre, interrogo-a...”


profanações

01.04.07, Paulo Prudêncio




 "Os juristas romanos sabiam perfeitamente o que significava “profanar”. Sagradas ou religiosas eram as coisas que pertenciam, fosse qual fosse a forma, aos deuses. Como tal, eram retiradas do livre uso e comércio dos homens, não podiam ser vendidas nem empenhadas, cedidas em usufruto ou oneradas com alguma servidão. Sacrilégio era qualquer acto que violasse ou transgredisse esta sua especial indisponibilidade que as reservava exclusivamente aos deuses celestes (e, então, eram chamadas propriamente “sagradas”) ou ínferos (neste caso, dizia-se simplesmente religiosas”). E se consagrar (sacare) era o tempo que designava a retirada das coisas da esfera do direito humano, profanar significava, por oposição, restituí-las ao livre uso pelos homens".

Giorgio Agamben em Profanações.