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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

poemas

27.08.06, Paulo Prudêncio


Sopro (6/11/92)

Hoje
Foi um dia
Genesicamente grande.
Hoje vi, ouvi, falei, comuniquei.
Senti que não podia calar
A vontade de dizer quem sou.
Nem sempre
A verdade está tão perto
Mas hoje...
Escutei a alma a pensar
E, ao fim de tantos anos,
Chorei.


Maria Rodrigues.




Publicado por Paulo Guilherme Trilho Prudêncio.

hamlet

20.08.06, Paulo Prudêncio


shakespeare.jpg

A tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca.

Tradução de José Blanc de Portugal.

Primeiro acto.

...
Conhece-te a ti próprio. Não dês ouvidos a rumores
Nem ajas ou fales sem pensar primeiro;
Sê acessível, simples mas sem vulgaridade;
Aos amigos, após experimentados,
Aceita-os, prende-os com arpões de aço,
Mas não dês primeiro a mão em demasia
A qualquer estoirado camarada...
Atende toda a gente, mas pensa por ti;
Aceita censuras, mas reserva a tua opinião.
...
Acima de tudo, sê sincero para contigo mesmo.
...

William Shakespeare.


Publicado por Paulo Guilherme Trilho Prudêncio.

o olho de deus

19.08.06, Paulo Prudêncio

pormenor guernica.JPG 1
 

 

 

Lembram-se do olho de deus de guernica? Enviaram-me a imagem que acompanha este texto. Uma questão de pormenor: o oxigénio do que é belo. Obrigado pela gentileza. E esta imagem permitiu-me pensar mais um pouco. E que tal um deus culpado, que vê tudo mas que não actua? De um modo ou de outro, é muito interessante e vem bem a propósito.


guernica

17.08.06, Paulo Prudêncio
guernica3.jpg

Olhe bem para a imagem: guernica de Pablo Picasso. Já reparou no olho de deus transformado em bomba? Interessante e bem a propósito.


Paulo Guilherme Trilho Prudêncio.

rss

16.08.06, Paulo Prudêncio




O que é o RSS?
RSS é o acrónimo (do Gr. ákron, extremidade + ónyma, nome, substantivo masculino, conjunto de letras, pronunciado como uma palavra normal, formado a partir das letras iniciais (ou de sílabas) de palavras sucessivas que constituem uma denominação) para Really Simple Syndication.
Com tanta informação disponível na Internet, é difícil encontrar o que realmente nos interessa.
Não seria melhor termos a informação que precisamos e consultamos, entregue directamente, sem que fôssemos obrigados a procurar manualmente?
É isso que faz o RSS.
Está na moda e pode ser extremamente útil.

Ando a seguir o processo político no eixo constituído por Cuba, pela Venezuela e pela Bolívia. O presidente da Bolívia foi eleito em Dezembro de 2005. Evo Morales, um índio aymara que cresceu na pobreza, argumenta que está a realizar avanços no processo de desmantelamento do modelo económico do mercado livre. Associou-se, na guerra do petróleo e do gás natural, a Fidel Castro e a Hugo Chávez. A confusão está instalada. Até o presidente do Brasil, Lula da Silva, aparece do outro lado da barricada.

Agarrei na edição de hoje do jornal público, e fiz um RSS de títulos de notícias, onde incluí também outros assuntos que, em alguns casos, comento em itálico - uma nova valência do meu blog -.

Assim vai o mundo.

Refinaria de Sines renegociada cinco meses após apresentação do governo - pressa em apresentar trabalho? -.
Nacionalizações na Bolívia sem impacte imediato nos preços - pudera -.
Andaluzia “realidade nacional” aprovada com votos socialistas e comunistas - pudera -.
Apple ganha batalha e mantém preço das músicas no itunes.
Há mais de 16 mil espécies ameaçadas de extinção.
Seiscentos polícias à procura de armas no Bairro da Torre.
Tribunal aprecia pedido de retirada da pílula do dia seguinte.
Mercados com reacção mínima às nacionalizações de Morales - outra vez? -.
Espanha - advertência ao encarregado de negócios boliviano.
Governo Lula estuda resposta.
A promessa cumprida do presidente indígena.
Pobreza ideológica e exclusão política.
Tanto Freud - texto de Eduardo Prado Coelho -.
O programa suicida de Evo Morales.
A rebelião de um sacerdote - texto de Carlos Pacheco -.
Deputados vão ter de dizer onde estavam quando faltarem por trabalho político.
Entidades nacionais querem aprofundamento político da UE.
Bancada do PCP desce ao terreno dos problemas reais de Coimbra.
Marques Mendes contra “confrontações inúteis”.
Bolívia segue o caminho do “petropopulismo” de Hugo Chávez.
Candidato Garotinho em greve de fome no Brasil.
Rússia e China juntam-se aos críticos do programa nuclear do Irão.
Quarteto poderá deixar mediação no Médio Oriente - pela enésima vez? -.
Sívio Berlusconi já apresentou a sua demissão.
Vilepin recusa sair do Governo após Watergate francês.
Blair tenta limitar danos nas eleições de amanhã.
A Europa foi feita, precisamos agora de europeus.
Portugal é “alvo de oportunidade” do terrorismo global.
América latina apela a reforma da lei da imigração.
Baptismos aumentam mas influência da igreja no mundo diminui.
Polícias “partiram tudo” e não encontraram nada no Bairro da Torre.
No Bairro da Torre “os tiros são uma espécie de música cá do sítio”.
Uma em cada quatro crianças no mundo tem peso a menos - em Portugal, duas crianças em cada três têm peso a mais -.

Paulo Guilherme Trilho Prudêncio.

sobre a carta educativa do concelho - caldas da rainha

14.08.06, Paulo Prudêncio


Escrever sobre a carta educativa do concelho das Caldas da Rainha, reduzindo o texto a uma dimensão aceitável sem que os argumentos se somem de um modo selvagem, é uma tarefa que requer um aturado exercício de síntese.

Nesse sentido, escolho, como exemplo, a piscina municipal - uma vez que a educação, o desporto e a cultura fazem parte do mesmo juízo de “autenticas” prioridades - onde se verificam as mais expressivas características:

ausência de capacidade de antecipação - a piscina aparece com uma década de atraso e é, agora, prejudicada pelo excesso de oferta -;
o seu projecto é completamente imperceptível, resultando, também por isso, numa obra com um custo de manutenção insuportável, comprometendo vários investimentos durante os próximos anos.

A carta educativa deveria acentuar as perspectivas de futuro e interligar-se com o plano estratégico do concelho. Poderia ser objecto de uma discussão séria, interessada, profissional e competente no conselho local de educação, com a realização de um fórum aberto a todos os interessados. Estabelecer-se-iam assim, políticas educativas ajustadas às necessidades da comunidade, com indicadores que não se deslocavam duma prospectiva emancipadora, sempre balizados pela preocupação de tentar apreender o novo e dar-lhe forma. É hoje consensual no país, que a principal prioridade passa por eliminar o sistema de desdobramento das escolas e os desajustados regimes de sobrelotação e de sublotação. Mas para além de fazer elencos de prioridades, a carta educativa deveria criar as bases organizativas que orientariam as políticas de administração escolar, numa época em que as redes de recursos administrativos e educativos são um imperativo exigido pela sociedade da informação e do conhecimento.

Era fundamental, que, depois, a comunidade percebesse o caminho e identificasse ao longo do percurso o que claramente se quer ou não se quer. Vários municípios portugueses têm-no feito - Paredes de Coura, Anadia, Penafiel, Santarém, Mafra... - e os desestruturados e centralizados poderes central e regional não só agradecem como estimulam. É público.

O sucesso das políticas terá sempre uma relação muito directa com a capacidade de ANTECIPAÇÃO.
A educação deve ser a primeira prioridade para qualquer equipa política que se candidate à gestão de fundos públicos: e em qualquer nível de intervenção.

Nas Caldas da Rainha assistimos a uma completa desorientação, que consubstancia a ideia iluminada de navegar ao sabor da ocasião. É grave, e a subsistir durante décadas, tornará muito difícil a sua necessária correcção. E não justifica argumentar no sentido que às autarquias está cometida a responsabilidade de “apenas” gerir a educação pré-escolar e o primeiro ciclo do ensino básico: a decisão de remeter para o nível concelhio a elaboração das cartas educativas para todos os graus de ensino, prova o contrário.

É num esforço corajoso que, autarcas, responsáveis em administração escolar e encarregados de educação, devem consolidar as ideias de cidadania, autonomia e responsabilidade, impondo com clareza o que querem para o seu concelho, sem desrespeitar as opções estratégicas que o país venha a seguir.

É neste “dever ser” que tudo se joga. Já não se concebe o exercício autárquico que se assume num registo quase bacoco e subserviente, disfarçado de contra-poder de género populista, “desprezando” as instituições que, ao dependerem directamente do poder central, não obedecem à sua tutela nas contraditórias inscrições legislativas.

Vamos por partes.

No primeiro ciclo da educação básica e na educação pré-escolar a questão que se coloca tem uma simples formulação: as instalações escolares existentes, já não respondem aos desafios da actualidade. Esta constatação, começou a integrar as políticas educativas no final da década de oitenta, por altura da reforma “Roberto Carneiro”.

No concelho das Caldas da Rainha construíram-se, então, duas escolas básicas integradas: uma na cidade, no Bairro da Morenas, e outra na freguesia de Santa Catarina. Tudo o resto ficou por fazer, procedendo-se, apenas, a pequenas obras conjunturais - pintura dos edifícios, reconversão de espaços, construção de espaços específicos (alguns de concepção inenarrável, como acontece com o pavilhão desportivo da escola básica da Encosta do Sol, na cidade).

No final da década de noventa, teve início o processo para a construção de uma escola básica integrada na zona do complexo desportivo. Com essa realização, abrir-se-ia a possibilidade do encerramento das escolas básicas do Bairro da Ponte e muito provavelmente da maioria das escolas que hoje constituem o agrupamento Mestre Elias.

Por responsabilidade do executivo da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, o projecto não se realizou, tendo a empresa construtora recebido uma avultada indemnização paga pela Direcção Regional de Educação de Lisboa.

Em lugar desta escola básica integrada, surge, em 2005, uma escola particular e cooperativa sem primeiro ciclo mas com ensino secundário, com a seguinte exigência: ou se constrói também uma escola semelhante em A-dos-Francos ou não se constrói escola nenhuma.

Ao que julgo saber, estas mesmas escolas abrirão no próximo ano lectivo a valência de 1º ciclo, mas com o pagamento de propinas.

Se a escola pública tivesse sido uma realidade, ficaria a cidade com a necessidade de requalificar as escolas básicas da Encosta do Sol e do Avenal (incluindo aqui os alunos que frequentam as escolas do Parque e de São Gregório).
Para a escola básica da Encosta do Sol - beneficiando, também, as escolas do 1º ciclo que hoje integram o agrupamento de escolas D. João II -, a solução poderia ter passado pela implosão da escola básica 2, 3, D. João II (a desesperar por obras essenciais de manutenção desde o início da década de noventa), com a ideia da construção de uma nova escola básica integrada em terrenos próximos. Processos semelhantes estão já em curso em alguns dos concelhos referidos anteriormente. Para a escola básica do Avenal, poderia ter-se recorrido a um centro escolar (educação pré-escolar e 1º ciclo) que matricularia também alunos das freguesias rurais mais próximas.

De acordo com o plano estratégico do concelho e cruzando-o com os dados do Instituto Nacional de Estatística, ficaria por resolver a requalificação em três pólos: - A-dos-Francos (incluindo aqui as Freguesias de Vidais e de Alvorninha); - Salir de Matos (que incluiria também alunos das escolas do agrupamento D. João II); - agrupamento de escolas de Santa Catarina. No primeiro caso, poderia ter-se optado por uma básica integrada em A-dos-Francos e por um centro escolar em Alvorninha ou nos Vidais. Nos outros dois casos, Salir de Matos e Santa Catarina, a requalificação passaria por dois centros escolares. Para ser mais preciso, importaria estudar a possibilidade de um dos novos centros escolares não ser construído em Santa Catarina e ser edificado em Alvorninha. A seu tempo, veremos se os financiamentos não contemplarão este tipo de soluções.

Resolveríamos, também e assim, a completa trapalhada que se verifica no indizível processo de constituição de agrupamentos de escolas neste concelho e teríamos vários níveis de ensino a funcionar no mesmo espaço físico - ou no caso dos centros escolares, verdadeiros agrupamentos de escolas -, como é razoável, moderno e conhecedor. É, ainda, neste domínio, que a decisão de se optar por uma escola particular e cooperativa vem aumentar a confusão existente: esperou-se anos a fio pela escola pública do complexo desportivo para se encontrar a geometria dos agrupamentos de escolas; como a escola particular e cooperativa não se pode agrupar, porque beneficia de outro estatuto, tudo se torna ainda mais irracional.

Todos os anos lectivos os responsáveis das escolas do concelho são confrontados com um novo desenho de agrupamento de escolas, com toda a instabilidade que isso implica: novos regulamentos internos, novas eleições para os órgãos das escolas, novas comissões instaladoras provisórias, enfim... é como se todos os anos houvesse eleições autárquicas para eleger um executivo provisório, porque os concelhos estavam sempre a perder ou a ganhar mais uma freguesia.

Um dos argumentos que mais se utiliza para fundamentar a necessidade de agrupar escolas que ocupam distantes espaços físicos, prende-se com a necessidade de racionalizar recursos administrativos. Os exemplos já conhecidos de experiências desse tipo, não confirmam a intenção. E porquê? Porque mudam-se os recursos humanos de um lado para o outro, mas não se alteram os procedimentos.

Nesse sentido, o que seria inovador, antecipador e gerador de credibilidade negocial, seria a ideia de se caminhar no sentido da criação do pólo de administração escolar concelhio, deixando nas escolas apenas os necessários recursos mínimos para o tratamento digital dos dados administrativos e de apoio social escolar. Quando se fala em portal da educação, fala-se de quê? Quando um governo decreta, em 2006, a exigência de se terminar com a renovação das matrículas dos alunos (prática em uso na escola básica integrada de Santo Onofre, desde finais do século passado, mesmo sem a “necessária” autorização do poder central), está a falar de quê?

A possibilidade de num mesmo concelho existir apenas um único serviço em rede - como hoje existem lojas do cidadão, redes multibanco, ou entrega electrónica das declarações de IRS - que processe os vencimentos dos docentes, que passe os certificados de habilitações dos alunos, que apure em permanência os dados de frequência escolar, que execute a transferência digital dos alunos que mudam de escola, enfim... é só dar asas à imaginação e ao conhecimento, e que os divulgue em tempo real, é não só um imperativo, como é, também, um instrumento essencial para estabelecer políticas modernas de gestão de recursos administrativos escolares. E de nada vale argumentar que isto ainda não se faz em lado nenhum, já que esse estafado argumento já é mais do que conhecido, e, só serve, para comprometer, consciente ou inconscientemente, ainda mais o nosso atraso colectivo.

Nas sociedades modernas, a capacidade de inovar e de antecipar não são apenas palavras bonitas, são, acima de tudo, as únicas alavancas que garantem a credibilidade e a afirmação das autonomias responsáveis.

Os segundo e terceiro ciclos do ensino básico e o ensino secundário beneficiariam muito do que já foi dito. As escolas da cidade viveram um asfixiante regime de sobrelotação desde meados da década de noventa do século passado, o que lhes conferiu uma elevadíssima taxa de insucesso e abandono escolar e o natural alargamento dos seus quadros de docentes. Ora, se a nova escola do complexo desportivo tivesse sido uma instituição pública, os docentes que agora vão passar a ter horário zero nos estabelecimentos de ensino já existentes, seriam transferidos para a nova escola.

Com a decisão de se construir duas escolas em regime particular e cooperativo, nada disso pode ser feito. É bom que se diga, que os docentes das instituições particulares e cooperativas são pagos pelo estado. São contratados sem qualquer concurso público e não está previsto que os docentes do quadro, da escolas públicas, com horário zero, devam integrar os quadros das escolas cooperativas, nem que sejam piores profissionais do que os docentes que essas escolas contratam. Ou seja, o estado vai financiar docentes sem serviço que, deste modo, podem vir a integrar os quadros de excedentes da função pública. Numa época em que tanto se fala na redução de custos, esta solução, é, no mínimo, espantosa. É muito grave, e mais evidente se torna, se pensarmos nas dezenas de docentes dos quadros que aguardam há anos por uma colocação no concelho e que vêem assim esse objectivo quase definitivamente adiado. No ensino secundário a situação é, também, extremamente confusa, com tendência a agravar-se nos próximos anos lectivos. A oferta escolar neste nível de ensino para os alunos que se destinavam à frequência das duas escolas do concelho, aumentou exponencialmente - o que provocará o mesmo fenómeno de excedente de docentes com horário zero -: duas escolas particulares e cooperativas; consolidação dos projectos de várias escolas com ensino técnico-profissional - CENFIM, CENCAL, ETEO, pólo da Universidade Católica ... -; várias escolas profissionais nos concelhos vizinhos; abertura do ensino secundário na escola Josefa de Óbidos, em Óbidos. Uma outra componente crítica que importa estudar e que se relaciona com o que acabei de referir, prende-se com o objectivo traçado para 2010, de apetrechar as escolas públicas com duas soluções distintas para os desígnios do ensino secundário: patamar de acesso ao ensino superior e atribuição de diplomas de ensino secundário na via técnico-profissional. Pretendeu-se, durante anos a fio, transformar uma das escolas secundárias - a Raul Proença ou a Rafael Bordalo Pinheiro - num estabelecimento de ensino que leccione apenas esse nível de escolaridade, para responder aos objectivos referidos. Esperou-se pela escola do complexo desportivo para transferir os alunos e os respectivos docentes. Agora, tudo isso fica comprometido. Por outro lado, investiram-se avultadas quantias nas novas instalações da Escola Técnica e Empresarial do Oeste, que com esta descontrolada e incoerente tomada de decisões, corre o risco de seguir o exemplo do pólo da Universidade Autónoma de Lisboa: o encerramento por falta de alunos.
Apenas para que conste.




Paulo Guilherme Trilho Prudêncio.

os desvinculados

12.08.06, Paulo Prudêncio
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Venho falar-vos da actividade profissional do Sr. Francisco. Não tanto do seu desempenho profissional, claro, mas, como mais à frente irão ver, do enquadramento legislativo que a sua condição de activo oferece.

Pus-me a reflectir sobre isso. O Sr. Francisco é um empregado de mesa com um contrato que lhe garante um vinculo de efectividade. Coisa de outro tempo, ao que julgo saber. Já quase ninguém é efectivo neste ramo de actividade; neste, como em quase todos.

Estou há cerca de vinte anos a viver na mesma cidade e isso permite-me ir conhecendo alguns dos hábitos e especificidades do lugar. Um dos cafés - neste caso podemos falar de um lugar que é um café, mas que é também um restaurante, uma cervejaria, um snack-bar, eu sei lá, um espaço multi-serviços - que mais frequento, já mudou umas quantas vezes de gerência. E sempre que isso acontece, o Sr. Francisco permanece de pedra e cal na sua função. Tenho-me apercebido do incómodo que isso cria na altura em que se negoceia o trespasse do café: o Sr Francisco faz parte da mobília.

Apercebo-me, também, que no início da renovada actividade do espaço, o Sr. Francisco parece meio perdido e com alguma dificuldade em aceitar a concepção do novo proprietário; e a coisa é recíproca.

Passados uns tempos, a imagem modifica-se por completo e a harmonia é a nota dominante. Tudo volta a correr sobre esferas. O Sr. Francisco volta a ser uma pedra nuclear. A situação do Sr. Francisco contaria todos os códigos de trabalho que os tempos mais recentes vão desenhando. E reflecti sobre isto, a propósito, vejam lá, de um estudo que diz que o Portugal actual aumenta a desigualdade entre ricos e pobres.

E mais: apurados os dados financeiros de 2005, vemos que os lucros dos mais ricos subiram em flecha. Coisa um pouco estranha, esta.


Paulo Guilherme Trilho Prudêncio.

a pequena face

08.08.06, Paulo Prudêncio
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 A pequena face.

"... fico aguardando telegramas, os azuis recados. os poderes da manhã já pouco duram. à superfície o som move na boca um pouco sopro. não julgues que me importam as roldanas do tempo no teu corpo são certos os abismos de cartão e falsa a neve que nos cobre os passos. de graça a terra nos dispõe na foto e a idade inventa nomes que a dissipem descobre-me impacientes os recados o envelope da urgência o intervalo ..."

António Franco Alexandre em Poemas.



Publicado por Paulo Guilherme Trilho Prudêncio.

erros

05.08.06, Paulo Prudêncio

 


Dizer que o sistema escolar em Portugal está de rastos tornou-se moda. Desde dirigentes dos partidos políticos que passam a vida a anunciar reforma sobre reforma até aos colunistas que propalam a falência do dito e passando pelos jornalistas que editam os mais variados e arrasadores editoriais, a ninguém escapa a oportunidade de zurzir nas nossas escolas. 

Esquecem-se que o país tem 30 anos de democracia e que tinha acabado de sair de uma ditadura de 48 anos: sim, 48 anos. Mas como têm de anunciar novidades, nada melhor do que escolher a área mais significativa das areias movediças.

Um dos aspectos que mais me incomoda é o desprestigiar dos nossos jovens. Dizem que eles falham muito, nomeadamente na capacidade de escrever sem erros.

Ora leia a seguinte notícia: “a final do Campeonato Nacional de Língua Portuguesa, organizado pela sic, não teve grandes resultados para quem estava sentado na primeira fila da Aula Magna. Francisco Balsemão, que também era presidente do júri, ouviu o ditado lido por Bárbara Guimarães, apresentadora do concurso, e deu seis erros. A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, tinha sete erros no seu ditado e o reitor da Universidade de Lisboa, Barata Moura, deu cinco erros”.


Ai se fossem três jovens universitários.