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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

dançar kyrlián, duato e bigonzetti

05.04.06
CNBkyllian.jpg Tive uma fase na vida em que pensei na coreografia como a minha futura actividade profissional. Desde cedo que percebi que a dança, como espectáculo, podia ser a totalidade: misturava-se a encenação com a música através da mais bela expressão corporal; e na maioria dos casos, e no que à dança contemporânea se refere, o tempo consomia-se de enfiada. A primeira vez que fiz um pequeno estágio com um coreógrafo profissional, algures na década de 70, foi um deslumbramento: para um jogador de basquetebol, perceber as similitudes que o meu querido jogo tinha com a mais exímia das artes corporais, foi uma surpresa marcante. Ficou, definitivamente, inscrita na minha massa cinzenta. Tenho sido um cliente mais ou menos assíduo do inesquecível Ballet Gulbenkian. Mas esta companhia, obedecendo aos doutos critérios da sua administração, fechou as portas. Ao que julgo saber, o seu público, fiel e apaixonado, procura a redenção na Companhia Nacional de Bailado. Com residência no parque das nações, mais propriamente no moderno Teatro Camões, a CNB, criada em 1977, tem desde 2002 como Director Artístico Mehemet Balkan. A Direcção da CNB resolveu homenagear o Ballet Gulbenkian. Escolheu três coreógrafos, todos eles figuras fundamentais da dança contemporânea europeia, revelados ao público português pela extinta companhia. Jirí Kyrlián, Nacho Duato e Mauro Bigonzetti, montaram um espectáculo muito interessante. Senti-o na noite de 25 de Março de 2006. Mauro Bigonzetti coreografou “Kasimir´s Colours”, com referência ao pintor russo Kazimir Malevich e com música de Dimitri Shostakovich. Resultou bem. Os contrastes e as simetrias das colorações do pintor traduziram uma forte alegria em palco. A coreografia foi dançada a pares, estando, por vezes, dois e três em palco. O último movimento tinha 18 bailarinos, aspecto que me fascinou de modo particular. Jirí Kyrlián optou por “Return to a Strange Land”, uma coreografia intimista e muito exigente, composta apenas por grupos de dois e de três. Cenários minimalistas, jogos suaves de luz e música de Leos Jonácek. Belíssimo. Por fim a festa. Nacho Duato trouxe-nos “Por vos Muero”, inspirado na música espanhola dos Séculos de Ouro e numa ideia inter-classista que reflectia, na dança, a cultura dos séculos XV e XVI. Sempre com grupos de 6 em palco e com cenários lindíssimos, Nacho Duato encheu-me a alma. A companhia tem excelentes executantes e uma característica a reter: tem gente das mais variadas partes do mundo. Uma lamentação (eu sei que não podiam estar todos): gostava que tivessem convidado o inigualável Ohad Naharin - quem não se lembra de Axioma 7, Minus 7 ou Queens/Black Milk. Paulo Guilherme Trilho Prudêncio.

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