Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

piscina municipal: o espelho da carta educativa do concelho

27.03.06, Paulo Prudêncio

mapadoconcelhoi.jpg

Escrever sobre a carta educativa do concelho das Caldas da Rainha, reduzindo o texto a uma dimensão aceitável sem que os argumentos se somem de um modo selvagem, é uma tarefa que requer um aturado exercício de síntese. Nesse sentido, escolho, como exemplo, a piscina municipal - uma vez que a educação, o desporto e a cultura fazem parte do mesmo juízo de “autenticas” prioridades - onde se verificam as mais expressivas características: ausência de capacidade de antecipação - a piscina aparece com uma década de atraso e é, agora, prejudicada pelo excesso de oferta -; o seu projecto é completamente imperceptível, resultando, também por isso, numa obra com um custo de manutenção insuportável, comprometendo vários investimentos durante os próximos anos.

A carta educativa deveria acentuar as perspectivas de futuro e interligar-se com o plano estratégico do concelho. Poderia ser objecto de uma discussão séria, interessada, profissional e competente no conselho local de educação, com a realização de um fórum aberto a todos os interessados. Estabelecer-se-iam assim, políticas educativas ajustadas às necessidades da comunidade, com indicadores que não se deslocavam duma prospectiva emancipadora, sempre balizados pela preocupação de tentar apreender o novo e dar-lhe forma.

É hoje consensual no país, que a principal prioridade passa por eliminar o sistema de desdobramento das escolas e os desajustados regimes de sobrelotação e de sublotação. Mas para além de fazer elencos de prioridades, a carta educativa deveria criar as bases organizativas que orientariam as políticas de administração escolar, numa época em que as redes de recursos administrativos e educativos são um imperativo exigido pela sociedade da informação e do conhecimento.

Era fundamental, que, depois, a comunidade percebesse o caminho e identificasse ao longo do percurso o que claramente se quer ou não se quer. Vários municípios portugueses têm-no feito - Paredes de Coura, Anadia, Penafiel, Santarém, Mafra... - e os desestruturados e centralizados poderes central e regional não só agradecem como estimulam. É público. O sucesso das políticas terá sempre uma relação muito directa com a capacidade de ANTECIPAÇÃO. A educação deve ser a primeira prioridade para qualquer equipa política que se candidate à gestão de fundos públicos: e em qualquer nível de intervenção.

Nas Caldas da Rainha assistimos a uma completa desorientação, que consubstancia a ideia iluminada de navegar ao sabor da ocasião. É grave, e a subsistir durante décadas, tornará muito difícil a sua necessária correcção. E não justifica argumentar no sentido que às autarquias está cometida a responsabilidade de “apenas” gerir a educação pré-escolar e o primeiro ciclo do ensino básico: a decisão de remeter para o nível concelhio a elaboração das cartas educativas para todos os graus de ensino, prova o contrário. É num esforço corajoso que, autarcas, responsáveis em administração escolar e encarregados de educação, devem consolidar as ideias de cidadania, autonomia e responsabilidade, impondo com clareza o que querem para o seu concelho, sem desrespeitar as opções estratégicas que o país venha a seguir.

É neste “dever ser” que tudo se joga. Já não se concebe o exercício autárquico que se assume num registo quase bacoco e subserviente, disfarçado de contra-poder de género populista, “desprezando” as instituições que, ao dependerem directamente do poder central, não obedecem à sua tutela nas contraditórias inscrições legislativas. Vamos por partes. No primeiro ciclo da educação básica e na educação pré-escolar a questão que se coloca tem uma simples formulação: as instalações escolares existentes, já não respondem aos desafios da actualidade. Esta constatação, começou a integrar as políticas educativas no final da década de oitenta, por altura da reforma “Roberto Carneiro”.

No concelho das Caldas da Rainha construíram-se, então, duas escolas básicas integradas: uma na cidade, no Bairro da Morenas, e outra na freguesia de Santa Catarina. Tudo o resto ficou por fazer, procedendo-se, apenas, a pequenas obras conjunturais - pintura dos edifícios, reconversão de espaços, construção de espaços específicos (alguns de concepção inenarrável, como acontece com o pavilhão desportivo da escola básica da Encosta do Sol, na cidade).

No final da década de noventa, teve início o processo para a construção de uma escola básica integrada na zona do complexo desportivo. Com essa realização, abrir-se-ia a possibilidade do encerramento das escolas básicas do Bairro da Ponte e muito provavelmente da maioria das escolas que hoje constituem o agrupamento Mestre Elias.

Por responsabilidade do executivo da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, o projecto não se realizou, tendo a empresa construtora recebido uma avultada indemnização paga pela Direcção Regional de Educação de Lisboa. Em lugar desta escola básica integrada, surge, em 2005, uma escola particular e cooperativa sem primeiro ciclo mas com ensino secundário, com a seguinte exigência: ou se constrói também uma escola semelhante em A-dos-Francos ou não se constrói escola nenhuma.

Ao que julgo saber, estas mesmas escolas abrirão no próximo ano lectivo a valência de 1º ciclo, mas com o pagamento de propinas. Se a escola pública tivesse sido uma realidade, ficaria a cidade com a necessidade de requalificar as escolas básicas da Encosta do Sol e do Avenal (incluindo aqui os alunos que frequentam as escolas do Parque e de São Gregório). Para a escola básica da Encosta do Sol - beneficiando, também, as escolas do 1º ciclo que hoje integram o agrupamento de escolas D. João II -, a solução poderia ter passado pela implosão da escola básica 2, 3, D. João II (a desesperar por obras essenciais de manutenção desde o início da década de noventa), com a ideia da construção de uma nova escola básica integrada em terrenos próximos.

Processos semelhantes estão já em curso em alguns dos concelhos referidos anteriormente. Para a escola básica do Avenal, poderia ter-se recorrido a um centro escolar (educação pré-escolar e 1º ciclo) que matricularia também alunos das freguesias rurais mais próximas. De acordo com o plano estratégico do concelho e cruzando-o com os dados do Instituto Nacional de Estatística, ficaria por resolver a requalificação em três pólos: - A-dos-Francos (incluindo aqui as Freguesias de Vidais e de Alvorninha); - Salir de Matos (que incluiria também alunos das escolas do agrupamento D. João II); - agrupamento de escolas de Santa Catarina.

No primeiro caso, poderia ter-se optado por uma básica integrada em A-dos-Francos e por um centro escolar em Alvorninha ou nos Vidais. Nos outros dois casos, Salir de Matos e Santa Catarina, a requalificação passaria por dois centros escolares. Para ser mais preciso, importaria estudar a possibilidade de um dos novos centros escolares não ser construído em Santa Catarina e ser edificado em Alvorninha. A seu tempo, veremos se os financiamentos não contemplarão este tipo de soluções. Resolveríamos, também e assim, a completa trapalhada que se verifica no indizível processo de constituição de agrupamentos de escolas neste concelho e teríamos vários níveis de ensino a funcionar no mesmo espaço físico - ou no caso dos centros escolares, verdadeiros agrupamentos de escolas -, como é razoável, moderno e conhecedor.

É, ainda, neste domínio, que a decisão de se optar por uma escola particular e cooperativa vem aumentar a confusão existente: esperou-se anos a fio pela escola pública do complexo desportivo para se encontrar a geometria dos agrupamentos de escolas; como a escola particular e cooperativa não se pode agrupar, porque beneficia de outro estatuto, tudo se torna ainda mais irracional. Todos os anos lectivos os responsáveis das escolas do concelho são confrontados com um novo desenho de agrupamento de escolas, com toda a instabilidade que isso implica: novos regulamentos internos, novas eleições para os órgãos das escolas, novas comissões instaladoras provisórias, enfim... é como se todos os anos houvesse eleições autárquicas para eleger um executivo provisório, porque os concelhos estavam sempre a perder ou a ganhar mais uma freguesia.

Um dos argumentos que mais se utiliza para fundamentar a necessidade de agrupar escolas que ocupam distantes espaços físicos, prende-se com a necessidade de racionalizar recursos administrativos. Os exemplos já conhecidos de experiências desse tipo, não confirmam a intenção. E porquê? Porque mudam-se os recursos humanos de um lado para o outro, mas não se alteram os procedimentos.

Nesse sentido, o que seria inovador, antecipador e gerador de credibilidade negocial, seria a ideia de se caminhar no sentido da criação do pólo de administração escolar concelhio, deixando nas escolas apenas os necessários recursos mínimos para o tratamento digital dos dados administrativos e de apoio social escolar.

Quando se fala em portal da educação, fala-se de quê? Quando um governo decreta, em 2006, a exigência de se terminar com a renovação das matrículas dos alunos (prática em uso na escola básica integrada de Santo Onofre, desde finais do século passado, mesmo sem a “necessária” autorização do poder central), está a falar de quê?

A possibilidade de num mesmo concelho existir apenas um único serviço em rede - como hoje existem lojas do cidadão, redes multibanco, ou entrega electrónica das declarações de IRS - que processe os vencimentos dos docentes, que passe os certificados de habilitações dos alunos, que apure em permanência os dados de frequência escolar, que execute a transferência digital dos alunos que mudam de escola, enfim... é só dar asas à imaginação e ao conhecimento, e que os divulgue em tempo real, é não só um imperativo, como é, também, um instrumento essencial para estabelecer políticas modernas de gestão de recursos administrativos escolares.

E de nada vale argumentar que isto ainda não se faz em lado nenhum, já que esse estafado argumento já é mais do que conhecido, e, só serve, para comprometer, consciente ou inconscientemente, ainda mais o nosso atraso colectivo. Nas sociedades modernas, a capacidade de inovar e de antecipar não são apenas palavras bonitas, são, acima de tudo, as únicas alavancas que garantem a credibilidade e a afirmação das autonomias responsáveis.

Os segundo e terceiro ciclos do ensino básico e o ensino secundário beneficiariam muito do que já foi dito. As escolas da cidade viveram um asfixiante regime de sobrelotação desde meados da década de noventa do século passado, o que lhes conferiu uma elevadíssima taxa de insucesso e abandono escolar e o natural alargamento dos seus quadros de docentes. Ora, se a nova escola do complexo desportivo tivesse sido uma instituição pública, os docentes que agora vão passar a ter horário zero nos estabelecimentos de ensino já existentes, seriam transferidos para a nova escola.

Com a decisão de se construir duas escolas em regime particular e cooperativo, nada disso pode ser feito. É bom que se diga, que os docentes das instituições particulares e cooperativas são pagos pelo estado. São contratados sem qualquer concurso público e não está previsto que os docentes do quadro, da escolas públicas, com horário zero, devam integrar os quadros das escolas cooperativas, nem que sejam piores profissionais do que os docentes que essas escolas contratam. Ou seja, o estado vai financiar docentes sem serviço que, deste modo, podem vir a integrar os quadros de excedentes da função pública. Numa época em que tanto se fala na redução de custos, esta solução, é, no mínimo, espantosa. É muito grave, e mais evidente se torna, se pensarmos nas dezenas de docentes dos quadros que aguardam há anos por uma colocação no concelho e que vêem assim esse objectivo quase definitivamente adiado.

No ensino secundário a situação é, também, extremamente confusa, com tendência a agravar-se nos próximos anos lectivos. A oferta escolar neste nível de ensino para os alunos que se destinavam à frequência das duas escolas do concelho, aumentou exponencialmente - o que provocará o mesmo fenómeno de excedente de docentes com horário zero -: duas escolas particulares e cooperativas; consolidação dos projectos de várias escolas com ensino técnico-profissional - CENFIM, CENCAL, ETEO, pólo da Universidade Católica ... -; várias escolas profissionais nos concelhos vizinhos; abertura do ensino secundário na escola Josefa de Óbidos, em Óbidos.

Uma outra componente crítica que importa estudar e que se relaciona com o que acabei de referir, prende-se com o objectivo traçado para 2010, de apetrechar as escolas públicas com duas soluções distintas para os desígnios do ensino secundário: patamar de acesso ao ensino superior e atribuição de diplomas de ensino secundário na via técnico-profissional. Pretendeu-se, durante anos a fio, transformar uma das escolas secundárias - a Raul Proença ou a Rafael Bordalo Pinheiro - num estabelecimento de ensino que leccione apenas esse nível de escolaridade, para responder aos objectivos referidos. Esperou-se pela escola do complexo desportivo para transferir os alunos e os respectivos docentes. Agora, tudo isso fica comprometido. Por outro lado, investiram-se avultadas quantias nas novas instalações da Escola Técnica e Empresarial do Oeste, que com esta descontrolada e incoerente tomada de decisões, corre o risco de seguir o exemplo do pólo da Universidade Autónoma de Lisboa: o encerramento por falta de alunos. Apenas para que conste.

.

on bullshit

21.03.06, Paulo Prudêncio
bullshit.jpg


“On bullshit” é o título de um pequeno livro do filósofo americano Harry G. Frankfurt e na tradução portuguesa ficará, provavelmente, como “a conversa da treta”.

Mesmo com a quantidade enorme de “bullshit” nas nossas sociedades, não há estudos profundos sobre o tema, diz o autor.

Por isso, “não existe uma teoria geral do “bullshit”, o que é paradoxal, considerando a sua ubiquidade”. “O “bullshit “ é uma ameaça mais insidiosa para a verdade do que a mentira, pois está totalmente desligado de uma preocupação com a verdade - enquanto os mentirosos podem manter uma ideia clara da verdade. O “bullshit” é objecto de uma estranha tolerância, enquanto a mentira é vista em geral sem benevolência”. “Outra das razões para o aumento do “bullshit “, é o facto da sociedade actual exigir de todos que tenhamos opinião sobre tudo, mesmo sobre aquilo que desconhecemos - o que constitui uma excelente oportunidade para “bullshit “. Neste contexto, é evidente que o mundo dos media constitui um excelente caldo de cultura “bullshit “”.

Ao escrever este pequeno texto, lembrei-me de dois factos paradoxais (até me dá vontade de rir a comparação, mas vai): um que abominava o “bullshit “ e outro que o afirma na plenitude. No primeiro caso, a obra de Fernando Gil, no segundo caso, a carta educativa do concelho das Caldas da Rainha, publicada em Março de 2006.


Paulo Guilherme Trilho Prudêncio.

sons do bairro

21.03.06, Paulo Prudêncio
sonsdobairro3.jpg A noite de 4 de Março de 2006, sábado, na cidade de Caldas da Rainha, foi invernosa: chovia a cântaros. Convidava-me a ficar em casa. Mas estava destinado a assistir a um excelente espectáculo musical, na única sala que, na cidade, se destina para o efeito: o anfiteatro dos “Pimpões”, colectividade muito respeitada nesta cidade. A colectividade faz o que pode, mas, francamente, os “Sons do Bairro” mereciam outro palco. Enfim, o costume. A lotação esgotou, a energia falhou duas vezes - mas os músicos mantiveram-se no seu amor muito profissional -, e o final foi de uma autenticidade apoteótica. Já os tinha ouvido, e visto, em dois espectáculos: numa belíssima homenagem a José Afonso e numa exigente recolha de música popular brasileira. Os Sons do Bairro não fazem cedências. Desta vez deixaram-me ainda mais preenchido: montaram um espectáculo com música popular portuguesa. No folheto de apresentação dizem o seguinte: “coisa curiosa é esta de um País com um dos mais ricos legados tradicionais da música popular europeia, andar a par com um défice crónico de educação musical (e do resto também, mas enfim...)”. Meu caro leitor: agarraram em temas difíceis - - tradicionais de trás-os-montes: monolo mio, molinera, bento airoso e faixinha verde; - romanceiro popular da beira baixa: conde de alemanha e moda do entrudo; - tradicional do minho: a roupa do marinheiro; - populares portuguesas: nau catrineta (fausto), rosalinda (fausto), canto do alentejo (nuno mota), ribeirinho (fernando pessoa, joão gil, josé martins), as 4 quadras soltas (sérgio godinho), sertão (charanga), prima da chula (trovante), uns vão bem e outros mal (fausto) e chula (sérgio godinho) - arranjaram-nos com uma impar sabedoria - eles dirão: muito trabalhinho - e harmonizaram dez músicos em palco (em sertão, eram doze). Com muito bom gosto e com muita competência. Os Sons do bairro têm duas boas vozes: Francisco Carrilho - voz e guitarra, que encheu-me as medidas em canto do alentejo, com um registo bem adequado à sua voz, pareceu-me - e Liliana Almeida. Do elenco, constam os excelentes músicos: António João Freitas (bateria), António José Xavier (flauta, gaita de foles e percurssões), Fernando Lopes (guitarra eléctrica), João Manuel (baixo eléctrico e contrabaixo), José António Lopes (sax soprano e tenor), José Carlos Lopes (voz, guitarra, viola braguesa e bandolim) e Luís Agostinho (piano e acordeâo). Desta vez, convidaram Manuel Jorge Alves (piano e acordeão) e Carlos Silva (baixo). É só imaginar o que pode sair daqui. Os Sons do Bairro têm, ao que julgo saber, a sua génese no excelente grupo caldense de música popular portuguesa: Charanga. A ver e a rever. Paulo Guilherme Trilho Prudêncio.

tsotsi

17.03.06, Paulo Prudêncio
tsotsi.jpg

"Uma história de sangue, balas e miséria. Tsotsi, vencedor do Oscar para o filme estrangeiro, soa a verdadeiro no seu país de origem, a África do Sul. É a história de um jovem, de 19 anos, do famoso Soweto, que dispara sobre um motorista para roubar um carro e que só depois é que descobre que havia um bébé no banco traseiro. O filme leva o jovem a uma jornada de redenção pessoal, mas não sem uma série de tiroteios, roubos de carro e assassinatos - uma realidade amarga para muitos pobres sul-africanos e uma fonte constante de medo para a elite deste país africano. O drama não apenas recebeu um Oscar, como também é um dos filmes de maior bilheteria na África do Sul, com grande apelo entre negros e brancos, ricos e pobres". Texto, corrigido, publicado pela reuters. Estou com uma grande curiosidade. África, finalmente, a caminhar pelo seu próprio pé? Uma verdadeira surpresa para europeus e americanos. Paulo Guilherme Trilho Prudêncio.

syriana - a industria do petróleo

17.03.06, Paulo Prudêncio
syriana.jpg Excelente filme, este syriana. Fica a ideia de termos assistido a um belo documentário, sem nunca perdermos o entusiasmo e o fascínio de um bom filme. Apesar do excelente desempenho da maioria dos actores, o filme e as suas mensagens sobrepõem-se. Tem um início - uma primeira meia hora - recheado de pequenas histórias paralelas, que se vão associando através do estabelecimento de perigosas ligações. É necessário estar atento. Syriana fala-nos da indústria do petróleo, o verdadeiro ópio da chamada civilização ocidental. Syriana é muito oportuno. Desconstrói o repugnante mundo dos negócios que anda à volta desta indústria do ouro negro. Bate-nos forte na consciência e desventra a nossa impotência. Filma os poderosos: sem escrúpulos e dispostos a tudo por mais uns... milhões de dólares. Filma, também, os desgraçados trabalhadores dos países do Oriente Médio: escrupulosos e dispostos - por umas promessas a serem pagas no paraíso - a servirem de homens bomba. Desgraçado mundo este. Não admira a sua firme rejeição pelos apaniguados do poder vigente nos Estados Unidos da América. Gostei de ver as imagens filmadas no Teerão urbano: constatei os efeitos de um prolongado regime totalitário. Nada de novo. Tenho viajado muito pelo Irão, com Abbas Kiarostami , mas pelo país rural. Aconselho e estou seguro que o verei de novo. Qual é o significado do filme? Fartei-me de investigar. O termo "syriana" não é mencionado durante o filme. De acordo com o que apurei, este é o nome usado entre os analistas do Oriente Médio, para designar uma localidade fictícia na região, mítica até, com fronteiras redesenhadas ao sabor dos interesses dos ocidentais. A mensagem, no fundo, é que não importa que nome leve - Irão, Arábia Saudita, Iraque - já que alguém mais poderoso tratará de manipulá-lo. Se tem ouro negro debaixo do solo, é Syriana. Paulo Guilherme Trilho Prudêncio.

munich

03.03.06, Paulo Prudêncio
munich.jpg Entrei cheio de curiosidade e saí satisfeito com o que vi. Com a duração de quase 3 horas, o último filme de Steven Spielberg chama-se Munich e começa com os acontecimentos violentos que se verificaram durante os Jogos Olímpicos de Munich, em 1972. Como muitos se lembram, um grupo de palestinianos, denominado “setembro negro”, raptou - em plena aldeia olímpica - e acabou por assassinar onze atletas israelistas que participavam nos referidos jogos. Steven Spielberg parte do trágico acontecimento, para filmar - com base em intensas e polémicas recolhas de informação - à volta de uma vingança israelita. Depois dos acidentados jogos olímpicos, as altas esferas israelistas resolvem eliminar os palestinianos promotores e executores do horrível atentado. Criam uma equipa de 5 homens, liderados por um jovem adulto educado na mais completa crença na “ideia” da nação israelita. Escolhido com todo o rigor, o jovem recebe a palavra sábia da primeira ministra de israel, Golda Meir: “as civilizações devem perder, por vezes, os seus princípios mais sagrados”. Deixa a sua jovem mulher em plena gravidez e parte rumo à acção. O resto, só vendo, claro. Sem desvendar nada de importante, não deixo de referir que o jovem lider termina debaixo do mais profundo cepticismo. Tenho uma grande admiração por este realizador. O Tubarão, Indiana Jones e a grande cruzada, ET - o extra-terrestre, a lista de Shindler, eu sei lá... é quase interminável a lista dos seus filmes fascinantes. Neste Munich, há quem diga que Steven Spielberg toma partido contra a causa israelita. Talvez. Leio no filme coisas tão óbvias que até assusta a sua infindável recorrência: violência gera violência; elimina-se um adversário e ele é imediatamente substituído; quem mata a primeira vez pode insensibilizar-se a tal ponto que passa a matar de modo ainda mais gratuito e impensado; as famosas “máquinas humanas de matar” não passam de... humanos à procura do seu lugar no amor. Pátria: a palavra chave. Já pensou, meu caro leitor, como seria a sua vida se não tivesse uma pátria? Ah, fui ver o filme às novas e excelentes salas de Santarém. Para quem vive nas Caldas da Rainha, percorre 40 kms e não os 80 kms para chegar a Lisboa. 20 minutos sempre em auto-estrada. Aconselho. Paulo Guilherme Trilho Prudêncio.