a RIN
21.06.05, Paulo Prudêncio
Ao contrário da RAN (reserva agrícola nacional) e da REN (reserva ecológica nacional) a RIN é inesgotável. Mas já lá vamos.
Li uma crónica assinada por Miguel Sousa Tavares, no Público, de completa indignação em relação a uma intervenção discursiva do Presidente da República Jorge Sampaio. Dizia o cronista que o Presidente tinha prestado um mau serviço ao país quando disse que o mesmo não podia ser todo RAN e REN. Argumentava que tal asserção só servia os promíscuos e demoníacos interesses conjugados de autarcas, de governantes e de construtores civis. Mas estará o Presidente em desacordo com esta ideia?
Gosto de ter este Presidente e fiquei a pensar nos motivos que o levaram a afirmar que havia país para além da RAN e da REN. Intrigou-me o facto de Jorge Sampaio dizer uma coisa destas e nem uma alternativa apresentar.
Uns dias depois, a 23 de Abril de 2004, dou comigo integrado numa comitiva oficial que celebrava, nas Caldas da Rainha, os 30 anos do 25 de Abril. A cerimónia iniciou-se num quartel (uma escola de sargentos), pelas 10h00, com um belo discurso do senhor Presidente da República, seguido do tradicional desfile das forças em presença - havia anos que não assistia ao aprumo das marchas militares ao som de uma das suas orquestras privativas -.
Devo confessar, com todos os riscos que uma confissão destas pode assumir, que não fui para o palanque. Detesto apertões. Fiquei mais atrás, onde tive a oportunidade de ver todo o espectáculo sem ter que estar em bicos de pés. Não desgostei.
Dali fomos todos para uma sala - seria a messe de oficiais? - onde deve te-ser passado alguma coisa de muito interessante. Não passei da porta de entrada, pois de apertões já estamos conversados. Fiquei no exterior onde tive a oportunidade de assistir, e de participar, numa entrevista a uma rádio em resposta a uma pergunta muito pouco evolucionária - sim, nesse tempo, o governo de então resolveu comer o "r" ao revolucionário - : "onde estava no 25 de Abril?"
A romaria devia dirigir-se à vizinha escola de artes onde decorria um congresso que iria beneficiar da presença do Presidente. Pensei que deveria haver mais uma inauguração pelo meio. Estávamos convidados. O Presidente merece quorum. Tudo acontece muito rápido. O protocolo funciona bem. Vou atrás. Chego ao hall e vejo mais apertões. Espero. Entro no auditório cheio e sento-me. Ouço os discursos. Volto a esperar e volto a sair no carro vassoura. Ouço duas congressistas: "viste os gravatas todos a reboque do Presidente?". Que dizer? A pessoa que me acompanhava - engravatado mas sinceramente preocupado com o quórum - olhou-as de um pouco incomodado e o embaraço de arrependimento foi logo evidente.
Seria a RIN a funcionar? Afirmam os eruditos que basta que existam dois humanos para que a RIN se propague. Os estudos mais recentes, apontam mesmo os humanos com destaque mediatico como o principal alvo da RIN.
Estaria o Presidente a pensar nos perigos de CRIN (contaminação pela RIN) pelos mais fundamentalistas e adeptos de um país exclusivamente RAN e REN?
Ah, claro, RIN significa: reserva da inveja nacional. Inesgotável, repito.
Li uma crónica assinada por Miguel Sousa Tavares, no Público, de completa indignação em relação a uma intervenção discursiva do Presidente da República Jorge Sampaio. Dizia o cronista que o Presidente tinha prestado um mau serviço ao país quando disse que o mesmo não podia ser todo RAN e REN. Argumentava que tal asserção só servia os promíscuos e demoníacos interesses conjugados de autarcas, de governantes e de construtores civis. Mas estará o Presidente em desacordo com esta ideia?
Gosto de ter este Presidente e fiquei a pensar nos motivos que o levaram a afirmar que havia país para além da RAN e da REN. Intrigou-me o facto de Jorge Sampaio dizer uma coisa destas e nem uma alternativa apresentar.
Uns dias depois, a 23 de Abril de 2004, dou comigo integrado numa comitiva oficial que celebrava, nas Caldas da Rainha, os 30 anos do 25 de Abril. A cerimónia iniciou-se num quartel (uma escola de sargentos), pelas 10h00, com um belo discurso do senhor Presidente da República, seguido do tradicional desfile das forças em presença - havia anos que não assistia ao aprumo das marchas militares ao som de uma das suas orquestras privativas -.
Devo confessar, com todos os riscos que uma confissão destas pode assumir, que não fui para o palanque. Detesto apertões. Fiquei mais atrás, onde tive a oportunidade de ver todo o espectáculo sem ter que estar em bicos de pés. Não desgostei.
Dali fomos todos para uma sala - seria a messe de oficiais? - onde deve te-ser passado alguma coisa de muito interessante. Não passei da porta de entrada, pois de apertões já estamos conversados. Fiquei no exterior onde tive a oportunidade de assistir, e de participar, numa entrevista a uma rádio em resposta a uma pergunta muito pouco evolucionária - sim, nesse tempo, o governo de então resolveu comer o "r" ao revolucionário - : "onde estava no 25 de Abril?"
A romaria devia dirigir-se à vizinha escola de artes onde decorria um congresso que iria beneficiar da presença do Presidente. Pensei que deveria haver mais uma inauguração pelo meio. Estávamos convidados. O Presidente merece quorum. Tudo acontece muito rápido. O protocolo funciona bem. Vou atrás. Chego ao hall e vejo mais apertões. Espero. Entro no auditório cheio e sento-me. Ouço os discursos. Volto a esperar e volto a sair no carro vassoura. Ouço duas congressistas: "viste os gravatas todos a reboque do Presidente?". Que dizer? A pessoa que me acompanhava - engravatado mas sinceramente preocupado com o quórum - olhou-as de um pouco incomodado e o embaraço de arrependimento foi logo evidente.
Seria a RIN a funcionar? Afirmam os eruditos que basta que existam dois humanos para que a RIN se propague. Os estudos mais recentes, apontam mesmo os humanos com destaque mediatico como o principal alvo da RIN.
Estaria o Presidente a pensar nos perigos de CRIN (contaminação pela RIN) pelos mais fundamentalistas e adeptos de um país exclusivamente RAN e REN?
Ah, claro, RIN significa: reserva da inveja nacional. Inesgotável, repito.
(Reedição. Reescrito.
1ª edição em 21 de Junho de 2005)