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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

gavetas parte I

28.01.05, Paulo Prudêncio
armario.jpg Estou inclinado a escrever um texto canónico sobre a guerra. Eu explico melhor: ando com tanta náusea com esta coisa tão humana dos tiros aos outros, das mortes dos outros e das barbáries sobre os outros, que resolvi meter-me no assunto. Mas o que vai ser canónico não é o que escrevo, claro, mas a organização em partes deste somatório de letras. Vamos ter uma introdução, uma parte principal e uma conclusão. E, novidade das novidades, o texto, ou melhor, a parte principal não terá fim. É isso mesmo, não terá fim. Quem vier ler este texto mais do que uma vez, vai ter a surpresa de encontrar o seu miolo sempre acrescentado - se um dia o terminar, aviso e retiro parte deste parágrafo. Primeiro que tudo, e ainda como introdução, devo dizer-vos, que no dia 17 de Maio de 2004, um texto no jornal público de que vou citar partes. http://jornal.publico.pt/publico/2004/05/17/EspacoPublico/O03.html Raramente recorro a esta coisa das citações, mas o Fernando Ilharco merece-o e eu poupo-me - ele deve ser pago e eu não. Para quem não saiba, este jornalista, de longa data neste jornal, sempre escreveu no suplemento de economia. Foi o primeiro cronista a quem escrevi por email, decorria o ano do senhor de 1995. O texto tem o nome de “Folhas caídas” e tem a seguinte “lead”: “A desilusão, a mais funda desilusão, para os homens e as mulheres de boa vontade, é seguramente que a guerra, os seus horrores e indizíveis caminhos, seja a forma que os tempos, hoje, tomaram para desbravar o futuro.” E mais à frente lê-se: “A subida do preço do petróleo é, possivelmente, o sinal mais claro de que os Estados Unidos perderam a guerra no Iraque”. E continua assim: “Lyndon Johnson, Presidente americano, comentou sinistramente os intensos bombardeamentos ao Vietname do Norte, dizendo "estamos a tentar comunicar...". E conclui: “Afogados em histórias, écrans, papéis, vozes e símbolos que para nós próprios criámos…Hoje não vemos a floresta. Nem sequer vemos as árvores… Neste quadro, o tempo das pessoas tem vindo a ser roubado pela tabloidização do mundo… Num tempo que assumiu a novidade e a inovação como o derradeiro critério da sobrevivência, do progresso e da prosperidade, no frenesim do momento, o que vemos, as mais das vezes, não são sequer as árvores, mas apenas as suas folhas, as suas mais estranhas, surpreendentes e porventura, caídas folhas. Parafraseando Garrett, folhas caídas, quais cinzas em que ardi”.

gavetas parte II

28.01.05, Paulo Prudêncio
comendas.gif Como vos tinha dito, esta parte é infinita. Já vão perceber tudo. Devo dizer-vos que não estou a ser inovador - depois do que lemos também não convinha nada, diga-se - já que esta técnica de escrita já a conhecia do Ulisses de James Joyce, que fez o mesmo com os títulos e com as honrarias. Se o que deveriamos buscar, de modo incessante, era os caminhos da paz, então a resolução inevitável seria considerar a coabitação entre os seguintes grupos e géneros humanos: homens, mulheres, crianças, jovens, adolescentes, idosos, heterossexuais, homossexuais, bissexuais, hermafroditas, cristãos, católicos, ortodoxos, heterodoxos, calvinistas, luteranos, beatos, adventistas do 7º dia, jesuítas, testemunhas de jeová, judeus, islamitas, budistas, confucionistas, ocidentais, orientais, europeus, muçulmanos, africanos, americanos, norte-americanos, sul-americanos, europeus de leste, bósnios, croatas, kosovars, israelitas, palestianos, sírios, jordanos, likudistas, trabalhistas, iraquianos, iranianos, sauditas, indianos, paquistaneses, caxemirenses, portistas, benfiquistas, sportinguistas, mouros, tripeiros, lisboetas, portuenses, conimbricenses, farenses, setubalenses, caldenses, transmontanos, minhotos, algarvios, alentejanos, bascos, catalães, galegos, castelhanos, democratas, liberais, conservadores, republicanos, verdes, comunistas, bolsistas, bloquistas, socialistas, capitalistas, populares, social-democratas, neoconservadores, radicais, neonazis, fascistas, neofascistas, anti-neoconservadores, anti-radicais, anti-neonazis, anti-fascistas, anti-neofascistas, electricistas, mecânicos, jardineiros, médicos, advogados, professores, deputados, brasileiros, moçambicanos, angolanos, guineenses, cabo-verdianos, timorenses, romenos, ucranianos, moldavos, alemães, franceses, suecos, noruegueses, suiços, dinamarqueses, filandeses, polacos, cipriotas, eslovenos, eslovacos, checos, lituanos, malteses, argentinos, mexicanos, cubanos, colombianos, peruanos, bolivianos, marroquinos, argelinos, tunisinos, ruandeses, maioritários, minoritários, grupos étnicos, raças, peles, cores, marcas, cabelos, roupas, casacos, calças, camisolas, calções, anéis, brincos, pulseiras, colares, sapatos, sandálias, sapatilhas …

gavetas parte III

28.01.05, Paulo Prudêncio
liberdade.jpg Tantas diferenças e uma constante: a finitude das vidas não é a finitude das suas diferenças. O que é que levará os homens a acreditar no logro das guerras? Que cega é a ambição que os move. Ouço vozes que se levantam contra a privatização das companhias de combate. Sim, soldados profissionais que pertencem a uma empresa de guerra. Não vão pela pátria, vão pela cor do dinheiro. Tão abjectos os caminhos, os dois, mas o primeiro ainda poderia advogar a legítima defesa. Não, não há desculpa para a violência. Inclemência, desumanidade e crueldade são os verdadeiros perfumes de tanta bestialidade. Que os deuses lhes valham.