dos transportes (e com um pr em estado lastimável)
Aparece-me várias vezes na superfície da mente a frase de Gonçalo M. Tavares: "A politica parece cada vez mais uma administração de palavras e não de coisas. Não se trata já de transportar pesos, de “deslocar” acontecimentos de um lado para outro, trata-se antes, e primeiro, de um transporte de vocábulos".
Nesse sentido, parece-me possível a tese da repetição da história embora estejamos num tempo que tem muito de inaudito.
A economia global transporta problemas novos e a Europa do euro está numa encruzilhada desconhecida. A crise financeira de 2007 deixou o mundo ocidental num estado em que o preço a pagar pelas desigualdades é incomensurável e pode ser brutal. Portugal não escapou a tudo isto e é, como se sabe, uma sociedade viciada em corrupção.
Os últimos governos lusitanos usaram a divisão entre grupos (velhos contra novos, públicos contra privados, reformados contra activos e por aí fora) como factores para uma estabilidade governativa que acabou por defender os mais responsáveis pelo estado a que chegámos. É uma sociedade em revolta contida e com todas as características para explodir se os predadores continuarem a saga indiferentes ao sofrimento alheio. Nota-se que há muita gente que não aprendeu a lição. Dá ideia que este simples diagnóstico é intuído até pelo derradeiro documento papal e repetido por algumas figuras da direita portuguesa que já não suportam o despautério de quem governa (e de quem preside) e o chico-espertismo dos seus acólitos. Ao que chegámos, realmente.