do ponto da situação
Ouvimos, vezes sem conta e durante mais de uma década, que os resultados não justificavam o investimento na Educação acima dos 6% do PIB. É essa retórica que é definitivamente abalada pelos resultados PISA, como já foi noutros testes internacionais, e como será ainda mais quando se conhecer a percentagem do PIB (já deve estar perto dos 3%) que se investe em Educação associada a outros indicadores: os números do abandono escolar que devem incluir os adultos sem a escolaridade obrigatória, o número de alunos por turma (é chocante o que se passa com o ensino especial) ou o número de professores.
A retórica referida tinha como farol a Suécia e advogava a "liberdade de escolha" da escola, o cheque-ensino, a privatização das escolas e o mercado da Educação. Mas foi mais longe e classificou com inimigos da liberdade os que se opunham a essas ideias em nome da igualdade de oportunidades que é tão decisiva para o exercício da liberdade e para o aumento da classe média como factor determinante da democracia. Foi tudo isso que os testes PISA conseguiram fazer. E, ironia das ironias, era exactamente nos resultados deste tipo de testes que o "ódio" à escola pública se alimentava.
Portugal trilhou durante duas décadas um caminho árduo com resultados a todos os níveis e internacionalmente elogiados. Estamos a correr um sério risco com o desmantelamento da escola pública. O que mais cansa ler é o argumentário cada vez mais desesperado dos que se revêem no guião apresentado pelo governante irrevogável e que continuam a considerar que quem se dedica à escola pública é falho de ambição e de inovação e incapaz de colocar a cultura organizacional das escolas públicas na primeira linha. A interrogação, recheada de perplexidade e de tristeza com tamanha ingratidão, é simples: o que seria do nosso sistema escolar se a escola pública fosse defendida e elogiada?