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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

"- Sim, Marnus. Até as maçãs nós trouxemos para este país"

06.12.13

 

 

 

Este post vai ao osso. Aconselho os mais susceptíveis a não o lerem.

 

Como o racismo é um dos piores flagelos que transporta o ódio entre os seres humanos, vou usar a cor da pele para caracterizar as pessoas. Perceberá a decisão mais à frente.

 

O dia está preenchido pelo falecimento de Nelson Mandela. Leio algumas divergências quanto ao período anterior à prisão de Mandiba.

 

Mandela não foi perfeito? Pois bem. Mandela combateu os Africandêr (também conhecidos por boers, de predominância holandesa com mistura de alemães e franceses) que dominaram o poder na África do Sul durante o apartheid. Este grupo de fanáticos, que martirizou os negros sul-africanos, é também conhecido por ter trazido as maçãs holandesas para a pátria de Mandela.

 

Já se sabe: a violência gera violência. Mark Behr, um sul-africano branco, natural da Tanzânia, é um escritor do nível dos prémios Nobel J. M. Coetzee e Nadine Gordimer. O seu dilacerante romance (1995), amplamente premiado, "O Cheiro das Maçãs", é incontornável para se perceber quem Mandela combateu e para se entender ainda melhor a sua invulgar humanidade (e todos os outros substantivos e adjectivos que se vão lendo e ouvindo).

 

A obra de Mark Behr é impossível de generalizar a todo um grupo de pessoas? Claro que sim. Nem todos os sul-africanos brancos se reviam na cultura africânder, nem mesmo alguns destes. Mas o que Mark Behr nos explica é o comportamento médio dos Africandêr e a origem do seu ódio. Foi considerado um contributo decisivo para  convivência civilizada entre as pessoas na África do Sul.

 

 

 

 

 

 

A imagem da biografia de Mark Behr não está muito legível mas lê-se.

 

 

 

 

 

O narrador do romance é Marnus, um jovem branco na puberdade. Frikkie é um amigo seu, branco, desde o pré-escolar.

 

 

 

 

Leu bem. O romance desmascara, em 200 páginas, a mentalidade africânder com uma ironia devastadora. Aconselho a leitura. Escolhi umas quatro passagens que, como disse, vão ao osso. Se é mesmo susceptível, pare por aqui. Se leu a "Manhã Submersa" de Vergílio Ferreira talvez não estranhe. Os paralelos vão para além da geografia.

 

O romance é preenchido pela mesma intensidade destes bocados.

 

A cena começa com um serão em casa de Marnus. Frikkie está presente. Os pais de Marnus e um general também. 

 

 

 

 

 

 

 

Depois, vão todos dormir na casa dos pais de Marnus onde passaram o serão. Dei um salto nas páginas, mas parece-me suficiente para se perceber o tal cinismo difuso de Marnus.

 

 

 

 

Não publiquei a página seguinte para não ir para além do osso. 

 

Antes de terminar o post com o final do romance, testemunho uma das minhas perplexidades com o comportamento dos Africânder nas férias grandes que passavam na então Lourenço Marques, cidade onde eu vivia.

 

Os Africânder eram racistas em primeiro grau. O local que mais frequentavam na capital moçambicana era a Rua Araújo onde se prostituíam, desde muito jovens, as negras moçambicanas que só tinham uma alternativa de emprego: serem criadas (era assim que se denominava a sua segunda escolha) das famílias brancas portuguesas. Os meus amigos mais velhos aproveitavam a época para abrirem "a caça às bifas" (que eram as muito jovens Africânder, brancas, casadas com os tais boers que inundavam a Rua Araújo) que ficavam "abandonadas" e que gozavam da fama de fáceis.


Lembrei-me de contar estes detalhes para introduzir o leitor no texto final. False Bay (Afrikaans Valsbaai, Baía Falsa em português) existe mesmo.

 

 

 

 

 

 

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