culpados
Vi a entrevista que o actual primeiro-ministro de Portugal deu ao canal de televisão "sic generalista". Estive com uma relativa atenção e despertei quando se tratou o tema da Educação. E o entrevistado foi claro:
"antes desta avaliação de professores as escolas viviam em paz e tranquilidade mas os alunos abandonavam os estabelecimentos de ensino".
É grave, é triste, é cruel, não é rigoroso e é de uma injustiça brutal. Não é preocupante que alguém diga uma coisa dessas, pois vivemos em democracia e felizmente as pessoas são livres de dizer o que bem entendem.
O que é grave é um primeiro-ministro pensar uma coisa dessas com tal convicção que se acolhe no argumento de que os seus antecessores todos só não diziam o mesmo porque disfarçavam o problema. Ou seja, os outros todos eram uma espécie de cobardes que se escondiam perante as dificuldades. Agora não: agora temos um corajoso iluminado: de uma penada e lá vai o abandono escolar através da alteração do processo de avaliação dos professores.
Já o escrevi por diversas vezes: o actual governo acreditou que o combate às taxas de abandono escolar que nos envergonham podia ser concretizado com o recurso quase exclusivo ao trabalho dos professores. E mais: deveria avaliar-se os professores pelo sucesso nesse combate. Com isso, e com outras medidas associadas, desresponsabilizou-se o resto da sociedade na luta contra esse flagelo nacional. É desastroso e brutalmente injusto.
Há estudos que indicam que cerca de 60% da responsabilidade no sucesso escolar dos alunos não depende da escola. E mesmo dos 40% sobrantes, só 10% é que dependem directamente dos professsores.
Percebeu-se o embaraço do primeiro-ministro quando falou das questões da Educação. Dá ideia que o ponteiro da culpa começa a mudar de posição.