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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

a alucinação tomou conta do sistema escolar

08.11.13, Paulo Prudêncio

 

 

 

 

 

Exigir à escola que obtenha a excelência nos resultados escolares e que inclua os "que não querem aprender" e os que escapam à "normalidade" é a verdadeira quadratura do círculo que se torna uma alucinação terrivelmente exclusiva no mercado puro e duro.


Nem os países mais desenvolvidos - os que, por exemplo, eliminaram o analfabetismo no século XIX - encontraram uma saída democrática na alucinação vigente. Ao que vamos sabendo, instituíram soluções exclusivas em busca de uma qualquer excelência que acabou sempre por esbarrar no alçapão do aumento das desigualdades de oportunidades.


Portugal já tem indicadores de exclusão escolar que aumentarão em sentido proporcional à alucinação descrita.


Deixámos de pensar.


Se uma turma ou escola tem em maioria os que "que não querem aprender", a lógica de mercado dos resultados escolares será implacável. Por outro lado, se uma turma ou escola tem em minoria "os que não querem aprender", será "inaceitável" a sua presença desestabilizadora e os responsáveis escolares defrontar-se-ão com dilemas e exigências inumanas. O confronto com a história dessa minoria deixará à alucinação vigente um único caminho: o aumento dos indicadores de exclusão escolar.


O fim-de-semana será preenchido pela discussão dos rankings das escolas portuguesas. Repetir-se-ão os argumentos no duelo público-privado. Nenhum dos factores descrito ganhará: nem os excelentes quando abandonarem o regime de condomínio privado e se confrontarem com o mundo real e muito menos os destinados à exclusão.


Bem sei que advogar o fim dos mecanismos de mercado puro e duro (que é diferente de avaliar com rigor organizações escolares onde se incluem os resultados escolares) é considerado pouco ambicioso e falho de modernidade. Haverá mesmo quem considere falho de empreendedorismo. Mas também sabemos que as sociedades mais avançadas foram sempre as que colocaram a inclusão (mas a inclusão desde o pré-escolar) no topo das prioridades porque perceberam que a diminuição das desigualdades é proporcional ao aumento das classe médias e que manutenção da paz e da prosperidade só se consegue em sociedades não alucinadas. Mas mais: qualquer sistema bem sucedido na formação de pessoas foi construído com bases alargadas.


Aos advogados da alucinação falta-lhes o contacto com o real. Portugal é, e escrevo-o com tristeza, cada vez mais um país com um sistema escolar em profundo estado de alucinação.



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