contraditório
Barack Obama assume a presidência dos Estados Unidos da América a 20 de Janeiro de 2008. Já por aqui dei conta da emoção que senti com a eleição de Obama: passei umas madrugadas a assistir aos debates da campanha eleitoral e na noite histórica fiquei acordado até que a aurora me trouxesse a confirmação da boa nova. Foi o lado do sonho e do reencontro com a história que mais me interessou. Emocionei-me muito com o seu discurso de vitória.
Sei que agora o caminho é árduo. Leio, e li, e em diversos sítios, sinais de alguma desconfiança com as capacidades de Obama. Devo confessar, e como não acredito em milagres, que reforço o meu entusiasmo com o que vou assistindo, nomeadamente com a constituição da sua equipa: não esqueçamos que nessa expressão da capacidade de mobilização de Obama se inclui Hillary Clinton.
Mas o contraditório é um exercício fundamental e existem especialistas que não partilham do meu entusiasmo.
Encontrei no blogue de João Bonifácio Serra, aqui, professor e historiador e que foi chefe da casa civil do presidente Jorge Sampaio, um texto seu que pode ajudar o debate.
Ora leia:
"Confessando-se "viúvo de Hillary Clinton", Medeiros Ferreira desvaloriza os méritos do candidato Barack Obama, cuja campanha pouco mais foi do que o entoar de "Yes, we can". Ele foi levado em ombros pelo mito do "melting pot", o mito da sociedade multi-racial. JMF recorda outros mitos americanos que se afirmaram em momentos críticos: o mito das "novas fronteiras", com John Kennedy (perante o avanço da União Soviética na conquista do espaço), o mito da "liberdade de imprensa"(contra Nixon, perante a retirada do Vietname). O mito do "melting pot" firmou-se num altura em que os EUA enfrentavam um crescente isolamento internacional. Mas o mais (do pouco mais do que "Yes we can") não é irrelevante. A campanha interna de Obama apoiou-se na crítica ao processo de tomada de decisões de Washington, retomando uma velha questão da política americana, das relações entre a União e os Estados Federados. JMF não tem dúvidas em elogiar o grande profissional que Obama se mostrou em campanha e os méritos das escolhas que fez para o seu governo, sem dúvidas gente muito competente e do mais alto gabarito académico. As duas tarefas que tem pela frente: sair do Iraque e impedir a efectivação de uma coligação antagónica de grande potências, na frente externa; na frente interna, relançar a economia e recuperar o emprego. A segunda está certamente ligada também à primeira, uma vez que para JMF o que está na origem da crise financeira americana é fundamentalmente a guerra do Iraque. Mas quanto à estratégia para recuperar a economia e reduzir o desemprego, o caminho está traçado - o Presidente que tem estado a falar bem podia chamar-se Roosevelt. De qualquer forma, não o esqueçamos, Obama tem de recriar uma unidade interna, hoje abalada, e o êxito desse esforço depende muito da capacidade de forjar uma nova plataforma política entre os Estados e a União. Esta a muito breve síntese da conferência que José Medeiros Ferreira proferiu ontem na Casa dos Patudos, integrada na 3ª edição dos Serões Culturais da Casa dos Patudos. Com a ironia, a riqueza informativa e a modulação analítica a que nos habituou."