gente perigosa
A TSF foi, ontem, o único contacto com o "mundo da informação". Viajei umas horas de automóvel e apanhei uma entrevista em directo ao SE Hélder Rosalino que o I resume de forma distante. Ouvi com atenção um testamento da tragédia que assola a administração pública. Rosalino disse que é o decisor primeiro da vida profissional de milhares de funcionários públicos e está em roda livre.
Rosalino é um ultraliberal e até é das acusações mais brandas que se repetem. Compreendo-as melhor agora. O que mais me impressionou na entrevista foi o entusiasmo com que disse: "gosto de gerir pessoas"; algo que qualquer "gestor de pessoas" da France Telecom não desdenharia.
Rosalino gosta de "gerir pessoas" no âmbito nacional. É a sua experiência. A proximidade e os "olhos nos olhos" devem embaraçá-lo, mas está tão determinado e seguro que a ambição de "gerir pessoas" só parará na escala planetária. Rosalino não é um gestor mobilizador e não gere procedimentos ou instrumentos de gestão. Fala dos seus semelhantes como recursos (a exemplo dos financeiros ou materiais) cognitivos e produtores e despidos de emoções, sentimentos e expectativas. Rosalino olha o humano através de um recuo de décadas e durante quase uma hora evidenciou que a tragédia financeira que nos consome também é da sua responsabilidade e de Vitor Gaspar. Gente perigosa, tecnocratas com muito poder sobre as pessoas e inchados de convicção.
A requalificação foi um tema muito focado. Rosalino teve dificuldade em pronunciar o grupo profissional dos professores. Mostrou-se impaciente. Não é o único. Abordou o assunto como relata o I mas, com o entusiasmo, foi mais longe e revelou um profundo desprezo por quem tenha mais de cinquenta anos (e pelos outros também, claro). São mesmo os descartáveis de Rosalino. A requalificação é um eufemismo. Para o SE, estes improdutivos devem ser empurrados para uma reforma com forte penalização, para rescisões amigáveis ou para o subsídio de desemprego. É uma ideia que já vem do Governo anterior e que fez escola nestes jovens eternos. Como foi possível esta gente ter este poder? Não será por acaso que o Público não se cansa de repetir a fotografia que lá encontrei.