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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

e mais umas

05.11.08, Paulo Prudêncio

 

 

É claro que a luta dentro das escolas da cidade onde vivemos desperta-nos um interesse mais particular.

 

Nas duas escolas secundárias públicas das Caldas da Rainha, e posso dizê-lo com toda a segurança, decorrem processos que podem conduzir, em breve, à suspensão do modelo de avaliação do desempenho:

 

  • Na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro decorre um abaixo assinado de acordo com o que pode ler-se aqui.
  • Na Escola Secundária Raul Proença o ponto de partida assentou num texto que merece toda atenção.

 

Ora leia.

 

 

 

“Manifesto” pela Dignidade…

 

Para fazer jus à vontade indómita e aos sentimentos mais lídimos dos professores do Departamento Curricular de Ciências Sociais e Humanas.

 

Proferir a palavra dignidade é exprimir um conceito cujo significado e sentido profundo se torna quase indizível, porque não se trata de uma simples palavra que se proclama, mas de uma realidade ética e moral que se impõe, no íntimo de cada um de nós, como um inexpugnável baluarte de uma natureza humanizada e inexoravelmente marcada pelo sentido do Eu e do Outro. Do Outro como minha imagem e semelhança sentida e vivida nos mesmos apelos à liberdade, à solidariedade e à responsabilidade de que é feita a cidadania.

É esta Dignidade que está ferida pela indignidade que os responsáveis do Ministério da Educação fizeram recair sobre os professores e a profissão docente culpabilizando-os de todos os erros, aviltando a sua imagem pública, desautorizando-os na sua função educativa, minando-os nas suas convicções, fragilizando-os nas suas relações, esgotando-os nas suas energias, castigando-os com mentiras insidiosas e aprisionando-os num complexo e estranho sistema de avaliação, feito de muitos domínios, numerosos elementos, imensos indicadores e intermináveis descritores.

Em suma, feito de intenções inconfessadas e disfarçadas por uma gigantesca panóplia de critérios, ditos de avaliação, que, pela quase impossibilidade prática de aplicação dos mesmos, mais não permite do que ponderações e quantificações esgotantes e susceptíveis de lançar as escolas, em geral, e a nossa escola, em particular, num estado de confusão ditado pelo facto de os avaliadores e os avaliados serem, simultaneamente, actores e espectadores envolvidos numa miscelânea de papéis, no contexto dos quais os avaliadores sentem o sabor amargo de uma imposição que os torna legalmente competentes, mas não pessoalmente legitimados, e os avaliados sentem a legitimidade para não reconhecer o artificialismo legal que define e estabelece o papel dos seus pares como avaliadores.

Deste modo, sendo esta a realidade de facto e porque dela decorre um ambiente escolar cada vez menos saudável, quer do ponto de vista do estado de espírito dos professores, individual e colectivamente considerados, quer do ponto de vista da disponibilidade psíquica e física necessária à criação das indispensáveis condições para o exercício de uma prática lectiva de qualidade, os professores do Departamento Curricular de Ciências Sociais e Humanas são unânimes em considerar que a Escola, através dos seus órgãos competentes, deverá equacionar a possibilidade de uma tomada de posição no sentido de suspender o actual modelo de avaliação e declarar a necessidade de o mesmo ser repensado e rectificado, em nome da dignidade dos professores e da profissão docente, de modo a não pôr em causa o normal e adequado funcionamento da Escola, para bem de toda a comunidade educativa.