do gáudio com a precarização
Do que tenho assistido nos últimos anos com a destruição da escola pública, o que mais me surpreende é ler ou ouvir professores a defenderem a precarização do seu grupo profissional (em regra, convencem-se que escapam, coisa que nem os reformados têm como garantida, e fazem-no para agradar à entidade que servem). Há já história mais do que suficiente para os aconselharmos a serem ponderados.
Participei numa série de debates sobre gestão escolar quando eclodiram os primeiros sinais de que Sócrates e Lurdes Rodrigues tinham escolhido os professores e a escola pública como exemplo do corte a eito através da hiperburocracia e de outras coisas igualmente maléficas.
Nessas sessões, estavam também professores com funções de gestão numa das cooperativas de ensino que é proprietária de vários colégios (é mais fino e o lumpen agradece). O que mais me impressionava no seu discurso não era o endeusamento do chefe do Governo nem sequer a espécie de ciúme profissional com os professores das escolas do Estado. Era o gáudio por apresentarem a folha salarial mais baixa à custa da precarização dos professores que era a política primeira da sua administração. Era uma espécie de solidariedade divina.
Avisei-os da ingenuidade e, nalguns casos, da notória ingratidão.
Há tempos, encontrei um desses professores. Estava em litígio jurídico com a cooperativa de ensino e esperava poder concorrer para uma escola do Estado. Era alguém que também evidenciava com frequência o ranking do seu colégio. Tinha sido substituído. Preferiram alguém com salário mais baixo e que leccionava uma disciplina dos cursos profissionais. É que o colégio onde estava teve "de se abrir" aos CEF´s e profissionais e, com a mesma organização e com os mesmos professores, o ranking baixou. "Mudou" a direcção e a precarização continuou o seu lema sem vãs solidariedades.