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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

obviamente que não íamos ficar cá com os mais fracos

23.09.12

 

 

O título que escolhi é de um texto que uma encarregada de Educação de um ex-aluno de um colégio da cooperativa GPS, nas Caldas da Rainha, escreveu para a Gazeta das Caldas e que merece ser lido com toda a atenção.

 

 

"Sou mãe de um aluno que até há poucos dias pertencia ao Colégio Rainha D. Leonor, onde estudava desde o 5º ano.
O meu filho tem problemas de saúde, tendo acompanhamento médico e medicação diária. A escola sempre esteve informada desta situação, através do director de turma e de relatórios médicos apresentados no colégio. Estes problemas de saúde, inevitavelmente, reflectem-se nas suas aprendizagens e nos resultados que, através do seu esforço e empenho e da dedicação dos pais, vai conseguindo, nunca tendo reprovado. No Colégio Rainha D. Leonor tem o seu grupo de colegas e amigos que, desde o 5º ano, têm sido o seu apoio e incentivo para não desistir de estudar, amigos que o têm ajudado a ultrapassar dificuldades.
Quando o ano lectivo chegou ao fim, matriculou-se no 10º ano em Ciências e Tecnologias, ficando na turma C. Deixámos o sinal para os manuais adoptados e fomos de férias descansados.
Para meu grande espanto, em 3 de Setembro, fui contactada por um professor do Colégio que me disse que o meu filho, afinal, não podia ficar naquela escola e que já não havia vaga nas outras escolas. O meu filho fazia parte de uma lista de 8 alunos que já não podiam ficar na escola e que tinha sido enviada para a Rafael Bordalo Pinheiro.
Inconformada e angustiada com esta decisão, tomada à revelia dos encarregados de educação, e na qual não via nenhum fundamento, fui falar com a coordenadora Dra. Tânia Galeão, que me disse que o Ministério da Educação não autorizava as três turmas daquela área de estudos e que era esse o motivo pelo qual oito alunos teriam de ir para outra escola.
Ora acontece que esses alunos foram “escolhidos a dedo” pela direcção do colégio pois são jovens que não têm das melhores notas e que, portanto, tal como o meu filho, não são alunos de contribuir para os rankings daquele estabelecimento de ensino. A própria directora do Colégio, Dra. Paula Rente, quando lhe perguntei qual o critério para “despachar” estes alunos para outra escola, respondeu-me que “obviamente que não íamos mandar embora os melhores e ficarmos cá com os mais fracos”. Mais ainda: afirmou que o meu filho não iria fazer nenhuma disciplina do 10º ano!
Devo acrescentar que a forma como a directora se dirigiu a mim e ao meu marido quando lhe pedimos explicações sobre o caso do nosso filho, foi de todo inadequada, tendo sido agressiva e gritado connosco.
Decidida a lutar pelo direito do meu filho de ficar naquela que era a sua escola, no curso que escolheu e com os colegas e amigos que sempre o acompanharam, fui à DRELVT. Aqui disseram-me que era o colégio que tinha que resolver, mas que no caso de haver alunos a mais teriam de ser os novos a sair. Contudo, vim a saber que há novos alunos no Colégio, o que significa que essa regra não foi respeitada porque, mais uma vez, o que lhes interessa são os rankings para poderem dizer que são melhores do que as outras escolas da cidade.
Desde o dia 3 de Setembro desdobrei-me em contactos entre o Colégio, a Rafael Bordalo Pinheiro e a Raul Proença, tentando resolver a situação.
Vi o meu filho chorar, quando soube que não podia ficar naquela que era a sua escola e onde estão os seus amigos e colegas, e passar os dias deprimido e angustiado, o que perturba o seu equilíbrio emocional e prejudica o começo do novo ano lectivo.
Ficámos, assim, esclarecidos sobre os critérios e prioridades do Colégio Rainha D. Leonor. Aqueles alunos tinham feito o seu percurso escolar desde o 5º ano no colégio e a própria lei diz que eles têm direito a nele continuar.
É curioso como há dois anos o Colégio chamou os encarregados de educação para, numa demorada reunião, nos pedir todo o apoio contra os cortes no financiamento público das escolas privadas, dizendo-nos que eles também eram uma escola pública. Ficámos assim a saber que o apoio dos encarregados de educação ao colégio só lhes interessa para obterem financiamento do Estado e não para assegurarem um serviço público de educação aos nossos filhos. É que, tal como nos foi dito numa das escolas públicas da cidade, “na escola pública há lugar para todos” e a prioridade são os alunos e não os interesses privados.
No meio disto tudo, o meu filho acabou por ficar na Escola Raul Proença. Cansada, acabei por aceitar porque não tenho forças para protestar mais, embora não consiga calar a minha revolta como mãe (que vê o seu filho ser empurrado para fora da escola que era a sua) e como cidadã e contribuinte por ver que dinheiros públicos pagam a instituições que têm este tipo de atitudes e que usam a bandeira da escola pública quando lhes convém.
Como julgo que este assunto deve ser do conhecimento da Gazeta das Caldas, resolvi escrever esta carta para que outros pais estejam atentos a estes procedimentos e consigam proteger os seus filhos de interesses que não são, com certeza, os da verdadeira formação dos seus filhos.


Fátima Jacinto


NR – Gazeta das Caldas deu conhecimento desta carta ao Colégio Rainha D. Leonor e à DRELVT, mas não obteve qualquer resposta."

2 comentários

  • Ao que chegámos, Isabel.
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