paralelo
Em 13 de Julho de 2012 assisti a uma conferência sobre saúde organizada pela comissão de utentes do hospital das Caldas da Rainha.
À medida que as intervenções se sucediam, as analogias com o sistema escolar evidenciaram-se. O bastonário da ordem dos médicos considerou o SNS um caso de sucesso. Se considerarmos que os profissionais foram formados no sistema escolar público (e podíamos enunciar um rol de exemplos semelhantes), é natural que se eleve a excelência da escola pública.
Há também alguma similitude nos indicadores que responsabilizam mais a sociedade do que os sistemas. A taxa de abandono escolar de que tanto se fala, e que nos envergonha, deriva de um série de problemas da sociedade que estão a montante da organização escolar. Nesse sentido, e ainda como exemplo do SNS, referiu-se a necessidade doutra perspectiva no combate ao problema dos micróbios, uma vez que os idosos provenientes de lares chegam aos hospitais com infecções na ordem dos 50%.
Constatei que não há uma carta hospitalar e que já nem se conhece a actual nomenclatura: a babilónia é semelhante à das escolas. Já se concluiu que os agrupamentos de unidades de gestão não corresponderam a qualquer poupança financeira. (Lembrei-me de Correia de Campos. Em 2010, foi peremptório a defender o modelo de gestão escolar do PSsocrático-mais-AD. Segundo ele, os resultados PISA dos testes realizados em Abril de 2009, deviam-se ao tal modelo PSsocrático-mais-AD que só começou a funcionar em Maio de 2009).
O que se reduziu em suplementos remuneratórios das chefias perdeu-se nos indicadores influenciados pela ausência de "gestão de proximidade". Os exemplos caricatos também se sucedem no SNS: os importantes "hospitais de proximidade" não se incluem nas redes existentes. A gestão hospitalar padece de problemas semelhantes à gestão escolar. Conhece-se o caso de um doente que fez três TAC´s iguais em dezassete dias no mesmo serviço de urgência. É já uma evidência que o software de gestão com o recurso a outsourcing tem-se caracterizado por negociatas (foi a expressão usada) com empresas privadas.
A relação entre o número de camas e o número de doentes é muito insuficiente (envergonha-nos um bocado) e a demagogia impera de um modo semelhante ao argumentário do aumento do número de alunos por turma. A crise veio, instalou-se, permite todos os desmandos e prova-se que não sabemos como lidar com o problema.
Para os oradores foi importante sublinhar que no centro das políticas têm de estar as pessoas. Nesse sentido, relembrou-se o óbvio: se se encerrarem hospitais, os doentes, mesmo assim, não desaparecem. Constatou-se, também a exemplo do sistema escolar, a existência de uma forte agenda mediática que tem, ao longo dos anos, denegrido a imagem do SNS.
A "febre reformista" institucionalizou a péssima ideia de generalizar sem primeiro testar.
Esta conferência realizou-se no dia seguinte à greve, de dois dias, dos médicos. Percebi o legítimo entusiasmo com a forte adesão. No entanto, e também por analogia com o sistema escolar, aconselharia estas pessoas a desconfiarem dos apoios político-partidários de ocasião. O mainstream é useiro em defender na oposição o contrário do que faz quando exerce o poder. E esse descaramento tem uma forma de subordinação, e de jogo de sombras pela sobrevivência do lugarzinho, que começa na Assembleia da República.