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Correntes

da pedagogia e em busca do pensamento livre

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carta aberta - indignação de uma encarregada de educação

25.06.12

 

 

Apesar de já existirem exemplos suficientes para atestarem que o modelo de gestão escolar só funcionaria numa sociedade civil forte, o que não é o caso da nossa, e que transporta para dentro das instituições escolares o pior da política partidária local, tenho ideia que os próximos tempos vão evidenciar de forma dilacerante o estado de sítio em que se encontra a gestão escolar pública.

 

Recebi por email a seguinte carta, que, para além da autorização de divulgação, foi enviada para os grupos parlamentares, gabinetes do ministro e secretários de Estado, dren e alguns órgãos de comunicação social:

 

Exmos Srs

 

Dirijo-me a todos os destinatários desta carta na qualidade de encarregada de educação de um aluno do ainda Agrupamento de Escolas de Fajões, manifestando a minha preocupação com o futuro que se adivinha muito incerto.

 

Durante cerca de três anos acompanhei o projeto educativo da escola. Não concordei com todas as decisões do atual diretor, mas foi para mim sempre claro o rumo que a escola tomou. A face da escola mudou, as medidas de apoio aos alunos foram uma constante mesmo quando a autarquia recorrentemente se demitia das responsabilidades que tinha no âmbito das competências que lhe estão atribuídas. Se no início do percurso do meu educando hesitei em matriculá-lo nesta escola, até à semana passada não teria dúvidas em mantê-lo, reconhecendo a qualidade do projeto educativo, que sendo coletivo, assenta inquestionavelmente na visão e no carisma do diretor do agrupamento.

 

Numa altura em que se procuram resultados, as taxas de abandono e insucesso, a par com as classificações dos alunos nas provas do quarto ano (das melhores do país), são indicadores que inequivocamente mostram o trabalho que foi realizado. Tive conhecimento que a tutela (Direção Regional de Educação do Norte e Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis) no âmbito da reorganização escolar, endereçaram o convite para constituição de uma Comissão Administrativa Provisória (CAP) ao atual diretor da escola de Carregosa.

 

A minha interpretação pessoal foi que, a tutela certamente entendeu que seria quem reunia as melhores condições para o efeito. Não é meu propósito beliscar a idoneidade profissional deste diretor, mas são, para mim, intelectualmente inalcançáveis os fundamentos desta decisão. Contam-se pelos dedos das mãos as agregações que até ao momento resultaram em nomeação para a CAP do diretor de um agrupamento sem ensino secundário – é este o caso.

 

Não queria pensar que os interesses políticos e partidários se sobrepõem ao que deverá ser melhor para escola.


Não quero acreditar que se trata de uma “caça às bruxas” uma vez que o atual diretor foi dirigente no ex Ministério da Educação.


Não quero sentir que existe manipulação de um conselho geral, imposta através da disciplina partidária fruto de um ressabianço de outras alturas.

 

Mas as evidências falam tão alto que não é possível ignorar….

 

Tenho a clara noção que esta é uma decisão que a tutela pode tomar. Está no âmbito das competências que tem. Sei também que não existe sede de recurso. Mas, porque pelo menos tenho direito a apresentar a minha indignação, escrevi estas linhas.

 

Por último, tenho que agradecer ao Sr. Ministro a possibilidade que deu ao meu filho de mudar de escola: fá-lo-ei já para o próximo ano letivo. Neste momento tenho que confessar o total e absoluto descrédito na escola pública em falência eminente. Para tentar garantir a qualidade na educação do meu educando a única opção que me resta é o ensino privado, onde pelo menos são claras as regras e normas que não mudam ao sabor dos caprichos políticos.

 

 

Fajões, 25 de Junho de 2012

 

Melhores Cumprimentos,

Maria Ferreira.