semântica da desesperança
A última semana ficou marcada pela fraca adesão dos professores contratados (e noutras condições, claro) numa manifestação em Lisboa. Note-se que estamos também a falar de pessoas que estão há mais de uma década nessa condição.
Há várias explicações para o fenómeno.
Os tempos são de individualismo e de salve-se quem puder e a isso não escapam os professores. Há muito, pelo menos desde a década de setenta do século passado, que ouço dizer que já não há empregos para a vida. Normalmente, os assinantes dessa novidade eram, e são, pessoas bem instaladas dentro de oligarquias.
Por outro lado, desde meados da década de oitenta que a profissionalização dos professores entrou em plano inclinado.
Ninguém contestará que o sucesso dos sistemas públicos ocidentais se conseguiu à volta de carreiras de funcionários públicos admitidos após provas públicas. Tudo isso já se esboroou, com consequências no apoio aos idosos, na educação das crianças e nas taxas de natalidade.
O que se desenha para os professores contratados, a exemplo da maioria das cooperativas de ensino, é mais um passo em frente rumo à precariedade e aplaudido pelos descomplexados competitivos que têm desregulado os contratos de trabalho e a harmonia social.
Há, por fim, um argumento que me parece decisivo. Nos últimos anos, a situação dos professores contratados foi usada até à exaustão como tábua de salvação negocial entre governos e sindicatos. Tenho ideia que só uma minoria desses professores conseguiu, na avaliação do desempenho, por exemplo, um exercício arriscado de responsabilidade individual.
Haverá, portanto, muita gente envergonhada e descrente nos poderes formais.
É bom que se olhe para este problema. Não há sistema escolar que resista em ambiente emparedado na realidade sem esperança ou na esperança sem realidade e constituído por professores exaustos e em estado de profunda desesperança.